quinta-feira, 7 de agosto de 2008

NO CARIBE SOPRAM OS VENTOS

26/02/2008 -
Essa semana que passou foi pródiga em notícias sobre a renúncia de Fidel Castro. Quem diria, o líder da revolução cubana, o homem que tirou o sono dos americanos por mais de quatro décadas, sai pacificamente do cenário político cubano e mundial, após tantos anos de mão forte governando a ilha, não obstante os mais de trezentos atentados de que escapou, incólume! Para onde Cuba caminhará agora, eu não sei. Os fatos se sucederão no balanço dos dias, que caminham sempre, sempre, na sucessão de horas que marcam, segundo a segundo, a fragilidade da nossa caminhada sobre a Terra. E o fato é, quer queiram ou não os líderes mundiais, Fidel foi a encarnação do último mito do libertador da América, na eterna luta contra a supremacia norte-americana sobre os vizinhos do sul do continente. Hoje existem uns arremedos grotescos - vide Evo Morales e o impagável Coronel Chávez -, candidatos a ficar na História mais pelas bravatas e devaneios histriônicos do que por feitos memoráveis... Na época da chamada guerra fria, Cuba foi rotulada como estopim do mundo, aqueles mísseis soviéticos por lá, tiraram o sono de muito governante americano, a invasão desastrada da Baía dos Porcos foi um vexame para os gringos... Durante a execranda ditadura brasileira, era perigoso até pensar na ilha do Caribe, que tencionava exportar revolução marxista e, portanto, era o demônio que a direita precisava exorcizar... Inclusive provoca riso até hoje o caso de um escritor famoso que foi preso e duramente interrogado, por ter escrito um artigo sobre o Cubismo. Seu interrogador desconhecia os movimentos artísticos do mundo e não havia jeito de fazê-lo entender que esse Cubismo não era uma alusão a Cuba. O episódio é contado por Frei Betto em um dos livros em que narra a sua saga nos porões da Ditadura... Bom, o que acontecerá aos cubanos agora eu não sei, ninguém sabe, mas de uma coisa eu tenho certeza: torço pelo povo cubano, que é muito amável e demonstra um carinho imenso pelos brasileiros. Fui a um Congresso de Professores em Havana, em janeiro de 1993, e foi uma experiência enriquecedora tanto na área educacional, quanto na de conhecimento humano. Andar pelas ruas de La Habana, como os cubanos chamam sua capital, passear pelo Malecón, que é a avenida à beira-mar, de onde se avista a eterna luta das ondas contra a mureta, visitar o museu da Revolução, ir à praia de Varadero, e contemplar as águas verde-jade do Caribe, são coisas inesquecíveis! Descobrir que andar pelas ruas de La Habana é como andar em qualquer rua de cidade brasileira, encontrando negros, brancos, mulatos, naquela farra oriunda da miscigenação e integração social, foi uma alegria! Visitar a Cidade Vieja, parte antiga da cidade, cujos casarões lembram os de Salvador, tomar um mojito, bebida feita com rum, açúcar, água, limão e hortelã, (pronuncia-se morrito) na Bodeguita del Médio e ter a audácia de deixar a assinatura na parede que Hemingway e centenas de pessoas, famosas ou não, assinaram, foi emocionante. Tomar um sorvete na Sorveteria Coppelia, famosa no mundo inteiro, foi delicioso. Encontrar pelas ruas um cubano negro que falava português porque havia lutado em Angola, foi fascinante; verificar que o hotel Vedado, onde estávamos hospedadas, tinha sofrido um atentado por parte dos guerrilheiros castristas por ser sede da revista americana Seleções do Reader’s Digest, deu arrepios. Visitar a Marina Hemingway e assistir a um show de variedades, com música, dança e uma representação de orixás e rir à beça da baiana Daysi, que afirmou que os orixás da Bahia eram superiores, foi divertido. Ouvir do vice-ministro da Educação cubana que a América se dividia em 90% de pessoas que não dormiam, por fome, no Sul, e 10% ao Norte, que não dormiam por medo do percentual famélico, foi instigante. Passar perto do local aonde crianças brasileiras, contaminadas no acidente do Césio 137, em Goiânia, e as de Chernobyl, recebem tratamento, foi um instante terno. Visitar a Casa de Las Américas, que realiza um Concurso de Contos famoso no mundo inteiro e assistir uma palestra sobre as ditaduras da direita na América Latina, e seus malefícios, em especial no Paraguai, foi esclarecedor. Participar dos debates do Congresso Educacional e verificar os desafios vencidos pelos cubanos, foi envolvente. Conviver durante uma quinzena, com centenas de professores de todos os países da América do Sul, Espanha e México e ouvir suas experiências, foi especial; oferecer a alguns, o livreto OPUS com poesias de professores da Rede Municipal, (editado a partir de uma sugestão minha) foi prazeroso. Visitar um Centro de Educação que as crianças cubanas freqüentam após as aulas e onde fazem uma oficina de cada profissão que existe, para descobrir suas reais aptidões, ver funcionar a oficina de fabricação de vidro, de conservas e de telefonia, foi profundo; achar no local o livro de visitas assinado por personalidades do mundo inteiro, como Ho Chi Min (Vietnã do Norte) e Patrice Lumumba (Congo), entre outros, e deixar uma mensagem, encorajando os cubanos, assinando meu nome e deixando o nome de Ipatinga, do estado e do meu país, foi um atrevimento. Conhecer um cirurgião chamado Dr. Eugênio, que lutou com Guevara, foi o máximo; ver Fidel duas vezes, no início do Congresso, e no decorrer deste, falando mansamente a princípio, e emocionando-se ao mencionar o embargo americano, foi muito bonito. No moderníssimo teatro Karl Marx (que eles chamam de Car-los Mar-ques, assim arrastado), na noite do encerramento, no escuro, ouvir uma moça, sentada num banquinho, só com um foco de luz, tocando violão e cantando Coração de Estudante em espanhol, deu um aperto neste velho coração emocionado. E muitas outras coisas vi e presenciei, que me deixam na torcida, não por governo esquerdista ou de direita, mas pelo povo, pelos nossos irmãos, que merecem viver dias de fartura, alegria e paz. Pois é, no Caribe sopram os ventos! Que sejam ventos favoráveis aos cubanos...

ZOOM- Ter toda a bagagem furtada do carro do meu sobrinho Clênio, que foi me apanhar no aeroporto em São Paulo, quando voltei de Cuba, me lançou de novo na dura realidade da insegurança de nosso país! Mas sobrou uma camiseta, que guardo com carinho, e umas lembrancinhas que uma garotinha da oficina de fabricação de vidro me deu, e estavam na pochete, na cintura! Ainda bem que ainda não inventaram um jeito de roubar lembranças! Ou será que eu é que não estou sabendo? Contudo, a viagem valeu a pena, se valeu! Um abraço para o sr. Vicente de Paula Lima, que toda semana lê minhas crônicas. - Sabem quem completou oitenta e nove aninhos ontem? Ela mesma, dona Inês Margarida Vieira, que vem a ser a senhora minha mãe! Lúcida e forte para a idade, graças a Deus! Passamos o domingo todo com ela comemorando a bênção! Parabéns, mãezinha querida! - Palmas para a grande Marízia Edite, que comemorou seu aniversário com uma big festança! Felicidades, amiga! - Leiam o ensaio de Roberto Pompeu Toledo sobre o significado da possível eleição de Barack Obama, na Veja desta semana. - Um dia cheio de bons negócios e bom trabalho para todos, muita cor, músicas do CD novo de Maria Rita, feijão tropeiro com couve e lombo assado, doce de figo em compota, crônicas de Rubem Alves, alegria e paaz, são os meus votos. - Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail nenadecastro@yahoo.com.br Au Revoir.
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