sexta-feira, 25 de julho de 2008

PAGU -(Rita Lee)

Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra, Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta, não sou freira nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é
bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
Sou rainha do meu tanque, sou pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca, tudo bem, minha mãe é Maria ninguém
Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é
bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem
Nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem


Ixe! Essa letra de Rita Lee homenageia Pagu e todas as mulheres! Maria Rita canta bonito, dando ênfase às ironias da titia do rock! Pagu, foi aquela pioneira da coragem, musa do pessoal da Semana de Arte Moderna. Pagou um alto preço pela defesa do que acreditava! Rita Lee, por sua vez é uma versão pós -moderna de Dercy Gonçalves. Eta Ritinha que fala o que acha! Sua irreverência é demás! E a crítica que faz á exigência da gente ter que ser a gostosona da vez, tem tudo a ver! Eu, hein, que negócio é esse de nos olharem só como petiscos? Nem toda brasileira é (só) bunda! Respeitem a gente, sô! Lembrem-se das mulheres das famílias monoparentais, que sozinhas , chefiam sua turma com garra e firmeza! Realmente, o buraco é mais em cima! E nada mais digo!

(T'ESCONJURO!!)
No dia 04.08.08, meu filho Tiago, um gozador emérito, 25 anos, 2 m de altura e pé 47 e o,o no cérebro, leu este comentário e falou, com a cara mais lambida do mundo: -mãe, mulher não é petisco, é prato principal! Pensar que fui eu quem pôs no mundo uma anta dessas! Pra usar uma expressão dos anos 60, um porco chauvinista! E é meu filho, humpf! )

quinta-feira, 24 de julho de 2008

CANÇÃO PARA ISABELA NARDONI


CANÇÃO PARA ISABELLA (NARDONI)
Nena de Castro-06-05-2008
Imagem: "Seara com Gralhas" - Van Gogh

Menininha, quer brincar comigo?
/de pular corda/de cozinhadinha/
de contar história/de pique e rodinha/
"pião entrou na roda, ô pião"/
Menininha, me dê a mão/
vamos ao parquinho /
girar, girar, girar/ no cavalinho/
e rir no carrossel/
Comer algodão-doce /de nuvem azul/ e chupar pirulito de mel/
Olha a gangorra! Olha a Árvore da Vida/
carregadinha de maçãs, sorvete, caramelos/
e borboletas coloridas/
que pousam em seu cabelo/
Que tiara mais bonita!/
Vou lhe trazer um espelho!/
Olha, lá, menininha, venha ver/
anjinhos levados fazem chover/
estrelas de toda cor! /
Não tenha pressa, amor /
aqui é sempre cedo/
Pode brincar de esconde-esconde, sem medo/
Não é preciso se assustar/
No céu, menininha/
tutu marambá não pode entrar!

Orra, meu! Esse poema me custou um rio de lágrimas! Durante toda aquela investigação, esse caso cruel me incomodava, como a todo mundo. Só que eu me recusava a ver aquelas reportagens que eu achava sensacionalistas. O fato em si já é uma pauleira, e eu não queria ver, não queria saber, embora já soubesse. Reprimi o poema por muito tempo. Um dia, eu me assentei e comecei a escrever algo assim: ‘menininha, sufoquei por muito tempo esse poema..." Aí eu parei, ao lembrar que ela tinha sido sufocada. Apaguei tudo e saí do escritório chorando. Voltei certo tempo depois, e recomecei, só que a cada estrofe, eu caía novamente em pranto e saía.
Minha caçula Larissa, (23) ao me ver sair pela 6ª ou sétima vez, me perguntou o que rolava. –Isabela, foi minha resposta. Ela entendeu. Ao terminar, debrucei a cabeça sobre a mesa e chorei por muito tempo, soluçando por Isabela e por toda criança que é maltratada. Aí, chamei Larissa para ver minha homenagem. Ela chorou também. Mas eu tinha que acertar contas comigo, eu precisava exorcizar esse fantasma, eu TINHA que expressar minha (nossa ) dor e indignação! Saiu assim, como vc leu. Até hoje, dia 24 de julho/08, quando postei no meu blog, as lágrimas vieram...Fazer o quê? Sou mãe, professora, contadora de histórias, sei o que é ver os olhinhos inocentes das crianças, brilhando ao me ver contar aventuras e contos de fadas! Meu Deus, o que está acontecendo nesse país? Com os pais? Conosco? Quantas crianças vão precisar morrer, até que alguma coisa seja feita? Terminei uma das minhas crônicas,intitulada DE MEDOS, SUSTOS E BICHOS, publicada em 13 de maio/08, no Diário do Aço (http://www.diaro/ do aco.com.br) assim: "gente é gente, bicho é bicho. Mas parece que nós, que nos denominamos gente e seres civlizados, estamos precisando aprender com os animais. Pois até as cobras, por mais venenosas que sejam, protegem seus filhotes. Já alguns seres humanos... (E NADA MAIS digo!) Nena de Castro

A DECISÃO (uma crônica interativa)

Aprontou-se para sair. O terno branco de linho, impecável, lencinho no bolso, o chapéu na cabeça, elegância a toda prova. Foi até a janela e olhou o céu: as primeiras estrelas começavam a aparecer, naquele tapete negro infinito, piscando, piscando... Voltou para o interior da casa, abriu o armário e retirou uma caixa recoberta com laca chinesa. Dela, retirou um envelope, já aberto. Dele, retirou uma folha de papel azul, onde a escrita miúda se destacava. Releu pela milésima vez, a mensagem. Cheirou o papel, que lhe parecia ter o perfume dela. O coração disparou! Ia encontrar-se com ela, afinal. E saber a resposta que tanto esperava. Conhecera-a em casa de amigos comuns, aquela moça morena, miúda, olhos negros, chamara-lhe logo a atenção. Estava vestida de vermelho, usava sapatos pretos, e um enorme colar de pérolas que lhe caía até perto da cintura. Seus olhos, vivíssimos, percorriam o local até que se encontraram com os dele. Ergueu a taça de vinho e a saudou. Ela fez o mesmo, olhando-o de forma profunda. Depois desviou os olhos e voltou a se concentrar no homem que a acompanhava, vez por outra, sorrindo para alguém, enquanto a festa prosseguia. Foi embora cedo, lá pelas 11 horas e, ao sair, despediu-se de todos com acenos discretos. Ele tratou de se informar com o anfitrião, sobre a deusa morena. Chamava-se Hermínia, tinha estudado na Europa, voltara de lá, há pouco tempo. Estudara Artes em Paris, especializando-se em pintura. Começou a vigiar seu ateliê, até o dia em que a viu sair. Fingindo que passava ao acaso, cumprimentou-a e convidou-a para uma taça de vinho. Ela recusou, preferindo caminhar. Sua voz era rouca, sorria pouco, fumava muito e olhava tudo com o interesse que uma artista tem pelas formas e cores. Conseguiu vê-la outras vezes, discutiram poesia, foram ao teatro, jantaram juntos, a sós e com amigos... Ele completamente apaixonado, ela distante e sóbria, deixando claro que ele era apenas um amigo. Com o tempo a paixão aumentou. Ela, não dizia sim, nem não, apenas tratava-o bem. Um dia, ele não suportou. Pediu-lhe uma decisão, qualquer uma, sim ou não. Ela disse que, decisão, era exatamente o que buscava, tinha que fazer uma opção, uma escolha, e que ainda não fora capaz de fazê-lo. Pediu-lhe que a deixasse sozinha, por um tempo. Ele protestara, afinal ela era o ar que respirava, a música das tardes primaveris, o anseio que lhe corria pelo corpo, o desejo que o mantinha vivo... A carta chegara pela manhã. Dizia apenas, que devia comparecer ao ateliê, afinal receberia a resposta ao seu pedido. Devia ir à noite, na hora marcada por ela. Assim que abrisse a porta saberia da decisão. Saiu de casa, ajeitando o chapéu, segurando as flores. Ao chegar, percebeu que as luzes do ateliê estavam apagadas. Abriu a porta, e vislumbrou, com um susto, a tela, no meio da sala. As velas davam um ar soturno ao local. Fixou os olhos na tela, percebendo no auto-retrato, o olhar profundo, com enorme indagação e, ao fundo, um caixão! Recuou, espantado! E preparando-se para o que viria, segurou com força as flores. Que lhe pesavam nas mãos... (Deixo aos meus leitores a conclusão do que aconteceu! Ou não. Aguardem o que virá. Ou escolham o final).