terça-feira, 29 de dezembro de 2009

E O ANO NOVO ESTÁ CHEGANDO...

PORTAIS
Diante de cada ser nessa jornada, há sempre um portal. Fechado. Trancado. Ninguém consegue abri-lo, embora a aldrava esteja ao alcance da mão. Impassível, forte, silencioso, ergue-se em desafio. Ligada a ele, uma muralha impenetrável. Entretanto, tanto mistério se resolve. Basta que quem esteja parado diante do portal tome uma decisão. Aí, então, o portal, rangendo os gonzos, abre-se como num passe de mágica. O ser humano dá um passo e entra num novo patamar. Da sua escolha depende o que virá. Não está nos astros, no tarô, nas adivinhações da sibila, nos mistérios guardados ao longo do tempo... O futuro é uma incógnita, por isso, sentimos medo. Não sabemos o que virá....
DÚVIDAS
Ritos de passagem sempre são preocupantes.. O ser humano caminha pela vida, pensando nas mudanças, das quais tem receios infindos... Embora já saibamos o ciclo de nascer, desenvolver-se, estudar, ter emprego, família, envelhecer, e por fim, retornar ao seio da terra temos, continuamente, que fazer escolhas. Os medos, incertezas, dúvidas, as interrogações... Achar um Norte, romper a jornada, exorcizar os fantasmas nas encruzilhadas da existência... Dessa forma, passar para um novo ciclo de tempo, traz na gente o temor do desconhecido, o que será que os novos 365 dias vão nos trazer na roda da vida? Cada um tem seu ritual, sua maneira de encarar o desconhecido. Uns fazem festa, outros pulam 7 ondas, ou comem romã e lentilhas, usam roupa branca e amarela, enfim, valem-se de maneiras diversas para espantar o medo... Bugra Velha que sou, descendente de índios, criada na roça, na simplicidade dos ancestrais e crendo em Jesus como fonte de toda Vida, eu não observo rituais. Eu oro e me entrego sem reservas ao que creio. No meu rito de passagem de ano, predomina única e exclusivamente o que acontece no RITO DE PASSAGEM DA JUVENTUDE DOS ÍNDIOS CHEROKEES.

MARAVILHOSAMENTE SIMPLES, MAS INTENSO...
Tudo acontece assim: o pai leva o filho para a floresta durante o final da tarde, venda-lhe os olhos e deixa-o sozinho.
O filho se senta sozinho, no topo de uma montanha, toda a noite, e não pode remover a venda até os raios do sol brilharem no dia seguinte...
Ele não pode gritar por socorro para ninguém.
Se ele passar a noite toda lá, será considerado um homem.
Ele não pode contar a experiência aos outros meninos, porque cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido.
O menino está naturalmente amedrontado.
Ele pode ouvir toda espécie de barulho.
Os animais selvagens podem, naturalmente, estar ao redor dele.
Talvez alguns humanos possam feri-lo.
Os insetos e cobras podem vir picá-lo.
Ele pode ficar com frio, fome e sede.
O vento sopra a grama e a terra sacode os tocos, mas ele se senta estoicamente, nunca removendo a venda.
Segundo os Cherokees, este é o único modo dele se tornar um homem.
Finalmente...
Após a noite horrível, o sol aparece e a venda é removida; O menino então descobre seu pai sentado na montanha perto dele.
Ele estava a noite inteira protegendo seu filho do perigo!
Assim é Deus, nosso Pai Celestial. Mesmo quando não percebemos, Ele está sempre tomando conta de nós. Creio nisso, fielmente. Para mim, o Ano-Novo é a montanha. Nada vejo do que acontecerá, embora, como Riobaldo Tatarana, de Guimarães Rosa, “desconfie de muita coisa”... Eu não tiro a venda, sabendo que, embora eu não mereça, ELE ESTÁ CUIDANDO DE NÓS, o tempo todo. O resto é o resto.
Simplesmente creio. Ele nos fala através da Sua Palavra, no canto das águas e no trinado dos pássaros. Na brisa que sussurra, no relâmpago que corta o céu, no sorriso das crianças.. lá está o Bom Pastor, conduzindo suas ovelhas para o aprisco. E até eu, ovelha negra, (que sou uma anta, mas não sou besta), acho abrigo. E nada mais digo. Nem precisa... FELIZ ANO-NOVO, IPATINGA!