terça-feira, 2 de dezembro de 2008

DE SARAMAGO,enchentes e rosas...


Nena de Castro - MACUNADRU

O escritor português José Saramago não acredita em Deus. Direito dele. Cada um escolhe em que acreditar... Deus está em tudo, e a prova se faz no nosso dia-a-dia, na contemplação de tudo que existe. Ruinzinhos mesmos somos nós, que destruímos metafórica e literalmente a beleza da Criação, e cavamos nossa própria sepultura. Deus é a realidade mais tocante e verdadeira para quem crê, independente de rótulos, religiões e códigos... Eu creio nEle, mas eu não sou Saramago. O brilhante jornalista, poeta, roteirista, dramaturgo e escritor foi agraciado com o prêmio Nobel de Literatura de 1988. A ele devemos o efetivo reconhecimento internacional da prosa em Língua Portuguesa. Saramago maneja as palavras como se tivesse uma relação incestuosa com elas; num brilhantismo total, as palavras são suas filhas, são suas irmãs, suas servas, espada e corcel e por que não? suas doces amantes.. . Sara-Mago é, como diz seu nome, um curandeiro, um mágico que nos salva da monotonia, e da obscuridade, entrecruzando as palavras com maestria e nos proporcionando um prazer estético sem limites. Certamente meus leitores e leitoras sabem de seu livro "Ensaio sobre a Cegueira", que deu origem ao filme de mesmo nome dirigido pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles. Já "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" lhe rendeu muitas polêmicas, principalmente com o Vaticano, que por ocasião do Nobel, fez sérias críticas pelo prêmio "ter sido concedido a um comunista..." Bom, o mágico esteve no Brasil semana passada, lançando seu novo livro e participando de um debate pelos 50 anos da Ilustrada , que vem a ser o caderno cultural da "Folha de S. Paulo. Com a clareza e inteligência de sempre, discorreu sobre a nossa má postura diante da vida. Afirmou, peremptoriamente, "que a humanidade não merece a vida, que a história é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz . Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras – no plano público e privado." E continua o escritor: Por que teria que mudar minha concepção de Deus após a doença? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não quero ofender ninguém, mas Deus simplesmente não existe." E por aí afora foi o "encantador de palavras", numa palestra concorridíssima, cujo resumo li com veneração e respeito. Só que, data maxima venia, desculpando-me pela minha pequenez, pela minha ignorância, pois afinal não passo de aprendiz de escriba, jia–cururu espiando os grandes astros do Olimpo dos escritores, eu discordo de SARA-MAGO quanto a Deus ter se esquecido de Santa Catarina, ou da África, onde tantos morrem de fome, ou dos povos em eterno conflito no Oriente. Quem provocou a tragédia de Santa Catarina não foi o Criador e sim, o próprio homem. Para começar, a Defesa Civil de lá sequer tinha listadas as áreas passíveis de inundação. O solo argiloso, a declividade das encostas, os desmatamentos, as ocupações desordenadas, e outros que tais, ignorados pelas autoridades que só se movimentam (e às vezes com muita lentidão) depois das tragédias, deu no que deu: centenas de vidas preciosas perdidas. Ah, não venham culpar Deus por isso! Contudo, louve-se a solidariedade do nosso povo! O brasileiro, para nosso orgulho, tem a generosidade no coração! A propósito, as declarações do gênio das letras portuguesas trouxeram-me à memoria um fato de abril de 1961: o russo Yuri Gagarin, a bordo da nave Vostok I, realizou a incrível façanha de fazer a primeira volta completa em órbita ao redor da Terra. Declarou primeiro a frase que fez a delícia dos poetas "a Terra é azul." Depois, seguindo certamente as tendências ideológicas de seu governo, afirmou: "estive no céu e não vi Deus." Tal assertiva teve grande repercussão na época. Uns acharam ótimo, outros se indignaram, mas a melhor resposta foi dada por um religioso norte-americano, cujo nome não me lembro, em um artigo de famoso jornal: "Meu caro Gagarin: você declarou que esteve no céu e não viu Deus. Pois eu lhe digo que não viu porque não quis. Era só tirar o equipamento e dar um passo para fora da nave..." Pois é, louvando o saber, o brilhantismo, o domínio das letras, a inteligência de SARA-MAGO, a jia-cururu aqui torce para que ele possa conhecer Deus, ainda antes de sair da nave-Terra....
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VIVER E FESTEJAR!
Era uma manhã de sexta feira cinzenta. Que de repente ficou iluminada, com a presença de duas pessoas excepcionais: meu amigo Beto Souto e sua amada, Célia Garcia de Moraes. Traziam sorrisos, e ele nas mãos, uma linda orquídea. Era a flor pelo meu aniversário, que ele me oferece todos os anos. Ia me entregar no dia 31 de outubro, durante o evento literário que a professora Célia faz com seus alunos, no Colégio Assedipa, já em sua 6ª edição. E que neste ano homenageou poetas da região. Eu tive a felicidade de ser uma das escolhidas, apesar de ser uma poeta incipiente, e uma cronista que tecla e mal, umas croniquetas que são toleradas pelos meus leitores e leitoras. No entanto, tinha um outro compromisso literário, agendado previamente e não pude participar da linda festa. Depois, fiquei uns dias "de bode" por causa de ites e oses e eles deixaram para me entregar a flor quando pudessem me encontrar. Que bom, já dizia o poeta "todo dia é dia de viver". E de festejar. Além disso, recebi um dos meus poemas, Enigma, em forma de banner, feito pelos alunos da professora Célia. Fiquei grata e comovida. Beto, professor de História, já aposentado, um caráter excepcional, ama as rosas. Tem dezenas de roseiras no seu jardim. E ama Vinícius de Moraes. E ama sobretudo, a professora Célia, que corresponde ao seu amor, e também, ama Vinícius, a Língua Portuguesa, a Literatura, e o trabalho que faz, plantando beleza na mente de seus alunos. E eu tenho a maior alegria de conhecer s dois. E nada mais digo!

POESIA SEMPRE

EU LUMINOSO NÃO SOU
(José Saramago)

Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d’água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.