terça-feira, 29 de dezembro de 2009

E O ANO NOVO ESTÁ CHEGANDO...

PORTAIS
Diante de cada ser nessa jornada, há sempre um portal. Fechado. Trancado. Ninguém consegue abri-lo, embora a aldrava esteja ao alcance da mão. Impassível, forte, silencioso, ergue-se em desafio. Ligada a ele, uma muralha impenetrável. Entretanto, tanto mistério se resolve. Basta que quem esteja parado diante do portal tome uma decisão. Aí, então, o portal, rangendo os gonzos, abre-se como num passe de mágica. O ser humano dá um passo e entra num novo patamar. Da sua escolha depende o que virá. Não está nos astros, no tarô, nas adivinhações da sibila, nos mistérios guardados ao longo do tempo... O futuro é uma incógnita, por isso, sentimos medo. Não sabemos o que virá....
DÚVIDAS
Ritos de passagem sempre são preocupantes.. O ser humano caminha pela vida, pensando nas mudanças, das quais tem receios infindos... Embora já saibamos o ciclo de nascer, desenvolver-se, estudar, ter emprego, família, envelhecer, e por fim, retornar ao seio da terra temos, continuamente, que fazer escolhas. Os medos, incertezas, dúvidas, as interrogações... Achar um Norte, romper a jornada, exorcizar os fantasmas nas encruzilhadas da existência... Dessa forma, passar para um novo ciclo de tempo, traz na gente o temor do desconhecido, o que será que os novos 365 dias vão nos trazer na roda da vida? Cada um tem seu ritual, sua maneira de encarar o desconhecido. Uns fazem festa, outros pulam 7 ondas, ou comem romã e lentilhas, usam roupa branca e amarela, enfim, valem-se de maneiras diversas para espantar o medo... Bugra Velha que sou, descendente de índios, criada na roça, na simplicidade dos ancestrais e crendo em Jesus como fonte de toda Vida, eu não observo rituais. Eu oro e me entrego sem reservas ao que creio. No meu rito de passagem de ano, predomina única e exclusivamente o que acontece no RITO DE PASSAGEM DA JUVENTUDE DOS ÍNDIOS CHEROKEES.

MARAVILHOSAMENTE SIMPLES, MAS INTENSO...
Tudo acontece assim: o pai leva o filho para a floresta durante o final da tarde, venda-lhe os olhos e deixa-o sozinho.
O filho se senta sozinho, no topo de uma montanha, toda a noite, e não pode remover a venda até os raios do sol brilharem no dia seguinte...
Ele não pode gritar por socorro para ninguém.
Se ele passar a noite toda lá, será considerado um homem.
Ele não pode contar a experiência aos outros meninos, porque cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido.
O menino está naturalmente amedrontado.
Ele pode ouvir toda espécie de barulho.
Os animais selvagens podem, naturalmente, estar ao redor dele.
Talvez alguns humanos possam feri-lo.
Os insetos e cobras podem vir picá-lo.
Ele pode ficar com frio, fome e sede.
O vento sopra a grama e a terra sacode os tocos, mas ele se senta estoicamente, nunca removendo a venda.
Segundo os Cherokees, este é o único modo dele se tornar um homem.
Finalmente...
Após a noite horrível, o sol aparece e a venda é removida; O menino então descobre seu pai sentado na montanha perto dele.
Ele estava a noite inteira protegendo seu filho do perigo!
Assim é Deus, nosso Pai Celestial. Mesmo quando não percebemos, Ele está sempre tomando conta de nós. Creio nisso, fielmente. Para mim, o Ano-Novo é a montanha. Nada vejo do que acontecerá, embora, como Riobaldo Tatarana, de Guimarães Rosa, “desconfie de muita coisa”... Eu não tiro a venda, sabendo que, embora eu não mereça, ELE ESTÁ CUIDANDO DE NÓS, o tempo todo. O resto é o resto.
Simplesmente creio. Ele nos fala através da Sua Palavra, no canto das águas e no trinado dos pássaros. Na brisa que sussurra, no relâmpago que corta o céu, no sorriso das crianças.. lá está o Bom Pastor, conduzindo suas ovelhas para o aprisco. E até eu, ovelha negra, (que sou uma anta, mas não sou besta), acho abrigo. E nada mais digo. Nem precisa... FELIZ ANO-NOVO, IPATINGA!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

NOTAS ESPARSAS

01/12/2009 -
QUEM TEM OUVIDOS...
Vi muito verde no final de semana. Muitos pássaros, água, e harmonia, aquela que a Natureza tem e que nos falta. Há tantos mestres ao nosso redor, por que será que desprezamos suas lições tão sábias e mergulhamos nas trevas? Pois, como as notas de uma sinfonia, entre os animais e plantas, tudo se encaixa, tudo segue um rumo, tudo tem um Norte... “Olhai os lírios do campo”... E os animais, as rochas que encerram segredos e tesouros, e o céu, e o brado da Mãe –Terra que clama! O segredo já foi revelado, nós somos os insensatos, nós é que nos entupimos de barulho, poeira, tecnologia, ambição, armas e guerras. A Natureza conta segredos ao vento. Ouçamos...

UM PROJETO ESPECIALÍSSIMO
Quinta-feira fui à escola Municipal Chirlene Cristina Pereira, a convite de Nângella Simões Leite. Fui recebida com o maior carinho, por todos. E descobri que as professoras Nângella, Marlene Amorim e Kelly Cristina criaram e desenvolveram um projeto de incentivo à leitura, intitulado “PROJETO MARIANA CATIBIRIBANA”. E trabalharam rimas, travalínguas, brincadeiras, buscando a compreensão lúdica das letras que formam frases e histórias, divertem e ensinam, incentivando o aluno a gostar de ler. São alunos com dificuldade no trato com as letras, que fizeram progresso trabalhando com meu livro, leram e escreveram textos! Eu vi tudo. Vi a menininha Kethuly vestida de Mariana. Ouvi deliciada, os alunos falando os travalínguas com o maior desembaraço! Puxa, esse foi o presente de Natal que encheu meu coração de alegria! Por essa e por outras, é que ponho fé na Educação, como a única forma de transportar o homem pelos desertos da existência, tornando-o capaz de plantar jardins! Agradeço á direção da escola Chirlene, à equipe pedagógica, a Mônica, Janete e Sandra, e às autoras do Projeto que deu tantos frutos! Muito obrigada!


POLITIQUICES, NOJEIRAS, BOBICES(E UMA PERGUNTA)
Creio que a comunidade internacional não está mais achando tanta graça em Lula. A história de Zelaya achar abrigo na embaixada brasileira, em Honduras, pegou mal. O acolhida ao Battisti, aquele terrorista italiano “inocente” que só matou alguns, idem; a recepção ao presidente do Irã, e otras cositas aí com a companheirada e com o Chávez estão desgatando a imagem do presidente do Brasil. Não creio que Barack Obama ache mais que ele é “o cara” e sim “o cara que pode trazer problemas”. Bom, tocando minha velha bicicleta, e o Arruda, hein? Suas ações fedem mais que a planta que lhe emprestou o nome. Parece que Brasília é uma ferida purulenta, que não se fecha, quando a gente pensa que acabou, explode um novo tumor purulento e fétido. Desse modo, não há democracia que resista, nem instituições que sobrevivam. Política no Brasil é uma gosma nojenta! Eca! Urge aprendermos a votar! (E A ELEIÇÃO EM IPATINGA, QUANDO SERÁ?)

AI, MEUS SAIS!
Rodando pela net, alguns nomes de candidatos para as próximas eleições. Que demonstram mais uma vez que política, nesse país, é levada na brincadeira. Pois é, já há folhetos com os seguintes candidatos: Joel Cueca, Xota Oi Meu Bem, Paul das Girls, Pedro Precheca, Nêgo Cadete e José Rola, Moto Rosa, (o candidato e sua moto, da cor pink) Paulinho Babydol, Pé de Cana, Gláucia Marrequinha, Burrinho Oficina. Um sujeito se valeu do nome santo de Deus e mandou: “Deus escolhe o povo votar em Antônio José Ramos”. Uma outra candidata exibe o traseiro com um fio dental e o slogan, “vota que ela gosta”; Simonete afirma que “para mudar, só tem um jeito um jeito, é chana com chana”. Claudete escreveu em seu carro “que o poder tem que menstruar”. O candidato NINGUÉM, afirma: NINGUÉM é seu amigo, não é corrupto, é honesto, é verdadeiro, é sensato. NINGUÉM se preocupa com você, NINGUÉM pensa em você. (Sem comentários!) E para finalizar, registraram suas candidaturas , o Pedro Merda e o Cagado! Por aí se vê o “niver” dos candidatos! Vou embora pra Pasárgada! Ou pro Tipiti, mesmo! Ai, Brasil, como é que a legislação eleitoral permite isto?

POESIA SEMPRE

SONETO DE FIDELIDADE
(Vinícius de Moraes)
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


ZOOM- A moda na Inglaterra são os Bolos de Divórcio, ou seja, especialmente preparados para a festa do descasado em questão. Como enfeite do bolo, o noivo ou noiva caída, enquanto o outro permanece de pé. Como diz o Chico Neto, Deus é pai.- Vem aí o Projeto POESIA NO BAR. Vai ser uma festa da Literatura Regional com bons atores. Aguardem. - Parabéns ao nosso amigo, o poeta Aldravista Professor José Benedito Donadon-Leal que acaba de tomar posse como diretor do Instituto de Ciências Sociais, criado pela UFOP, com sede na cidade de Mariana - Articulista famoso afirma que nós todos somos estressados, devido á quantidade de engenhocas eletrônicas atrás das quais nos escondemos. Não é a toa que a caipira aqui não é muito chegada a modernidades. - E dezembro chegou! Não se esqueça de incluir entre seus festejos, o apadrinhamento de uma criança pobre. É só ir aos Correios e pegar a cartinha. - Agradecemos à Escola de Idiomas New Way o convite para sua I Feira Cultural. A diretora Pedagógica da New Way é Eliane Assis Neves, pessoa muito querida. No dia 6, aos membros da Academia de Letras do Brasil, subsede de Mariana, estarão reunidos para festividade de encerramento de ano. Na presidência, a amiga Déia Leal. Eu e Marília Lacerda, fazemos parte da Academia, mas não vamos poder ir ao Sarau, pois estaremos em imersão com Sandra Bittencourt, mestra de Contação de Histórias. - Um dia cheio de bons presságios e bênçãos, com frango caipira com quiabo e angu, muita cebolinha e pimenta, som de Dudu Nobre e versos de Vinícius de Moraes. E muitos sorrisos para espantar o pessimismo, são os meus votos. Au revoir.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

UM SULTÃO À MODA DE MINAS...

Há coisas em que a gente custa a acreditar. Por que são inadmissíveis, kafkianas, absurdas. Quando se fica sabendo de certos fatos, perdemos um pouco da fé na raça humana ou começamos a rir, sacudimos a cabeça e pensamos: o trem tá feio mesmo! Hoje, são tantos os acontecimentos desagradáveis que os meios de comunicação nos mostram, como ferida exposta, que somos tentados a pensar que “antigamente não era assim”. Mas o fato é que sempre aconteceram coisas discrepantes, só que não eram tão divulgadas, e o que “a cabeça não sabe, o coração não sente”. Hoje lhes conto um fato acontecido em um dos lugarejos onde morei, aí pelo chão das Gerais. Idos da década de 50, costumes vitorianos, moças vigiadas pelos pais, namoro só com “vela”, ou seja, alguém vigiando, era preciso muita sorte para dar e receber um beijo da namorada, ou namorado, qualquer tentativa de carinho era um deus-nos-acuda! No entanto, nas pequenas vilas, assim como nas cidades, aconteciam coisas bem estranhas. As comadres fofocavam, o arraial todo ficava sabendo, era um leva-e-traz em nome da moral e dos bons costumes, que era um horror! Imaginem que, com tanta vigilância, com tanto ardor inquisitório, a coisa pegava fogo, sempre alguém dava um jeito de burlar os costumes, e tome escândalo! Pensando nisso outro dia, eu me lembrei de Tonhão Bento. Era um caboco sem nenhum charme, exceto pelos olhos “gateados “ ou esverdeados, nem alto nem baixo, de fala mansa , chapéu , facão na cintura. Morava em um fazendinha que herdara dos pais, a duas léguas do povoado. O cavalo ruço de montaria, era reconhecido de longe, pois adiante dele, a pé, vinha uma de suas MULHERES... Não se espante o leitor com o plural, mas o caso é que Tonhão, sem nunca ter lido as histórias da Mil e Uma Noites, mantinha um harém!Logo após o falecimento de sua mãe, trouxe uma curiboca, miúda, cabelo curto, para a fazenda. Logo, veio outra, de cabelo comprido, liso, rosto bonito. As duas se revezavam nos cuidados da casa, na cozinha, no cabo da enxada e na cama do Tonhão. Que da vida, tinha duas certezas: não gostava de pegar no pesado, e gostava de mulher.. Naquele tempo, na roça, era comum a moça fugir para se casar com o rapaz dos seus sonhos. Daí, que muitas se estrepavam, quando descobriam que o Príncipe Encantado estava mais pro brejo que pra bailes no castelo. O Tonhão tinha uma fala macia, e passava conversa nas moçoilas. O que lhes prometia, ninguém sabia. Mas as moças vinham com ele, e aceitavam morar na fazenda, com as outras “esposas escravas”, enfrentando tarefas duras e até castigos físicos do “sultão”Tonhão passava o dia deitado na rede da varanda, de onde vigiava as mulheres trabalhando, garrafa de pinga ao alcance da mão, viola de lado. Chegou a ter 12 mulheres e um incontável número de filhos. A vila pipocava em conversas sobre o Tonhão e suas companheiras, as beatas se benziam, os homens tinham inveja. Mito para os homens, um sátiro para as comadres da vila, Tonhão não dava a mínima e levava a vida como queria. Eu, na época, uma menina franzina que usava tranças, ouvia os comentários e não entendia bem as coisas. Achava que as moças gostavam de morar na fazenda, por causa do viola que o Tonhão tocava e por que ele sabia cantar bonito. Ara, pois! Entonce, nada mais digo...

POESIA SEMPRE

ESTRELAS
(Orides Fontela)
Fixar estrelas no mapa móvel
zodíaco,
Jogar com astros
e fixar-se
no próprio jogo.

Nomear constelações
-submeter os astros
à palavra

Buscar estrelas.
Viver estrelas
- animal siderado
e siderante.

ZOOM- Um abraço para o poeta Zino Mendes, que reside em São José dos Campos e me deu a honra de ser meu amigo. Outro abraço, agora para os professores e a liderança do Sind-UTE que continuam a luta pela melhoria das condições da Educação.- As comemorações pelo Dia da Consciência Negra foram intensas no Vale do Aço e em todo o Brasil. Muito bom! Bartolomeu Campos de Queirós, o papa da literatura infantil no Brasil, deu uma linda entrevista no ABZ do Ziraldo, programa que a Rede Brasil apresenta aos domingos - Alô, Lima, foi um prazer revê-lo! - Cemário de Jesus, secretário municipal de Cultura, Esporte e Lazer esteve no ônibus biblioteca da Itapemirim e presenciou o trabalho desta colunista contando histórias para as crianças. Aproveitou e levou MARIANA CATIBIRIBANA para sua netinha - Parabéns à Escola Paulo Freire, que enviou seus alunos para participar das atividades no ônibus biblioteca. Às professoras Francisca Cobertina, Eni da Silva e Cleunice Oliveira Alves, os nossos cumprimentos.- E por falar nisso, os servidores municipais: Angélica, Chicão, Marlene e Nete, brilharam, auxiliando Fabio e Daniel na Biblioteca Móvel da Itapemirim! Parabéns, pessoal! Os monitores convidaram esta escriba para acompanhá-los, contando histórias em Santa Catarina. Fiquei lisonjeada! - Um dia feliz, com muitas coisas boas acontecendo, ao som de Martinho da Vila, Pity. Versos de Moacir Chrisóstomo e contos de Rubem Leite e do cumpadi Nini Resende. Nuvens no céu azul, flores do campo, torresmim com mandioca, e muita paz, são os meus votos . Au revoir.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

LINDOS TRÓPICOS...

Nena de Castro
17/11/2009 -
Domingo quente, piscinas de água morna, verde de ardor, suspiros de verão... Será a primavera, etérea e eterna dos trópicos, que torna estes dias tão bonitos? Aqui as estações se mesclam numa perene quentura tropical. O revoar de aves que cortam o espaço nos faz olhar para o azul celeste, celestial promessa de claridade e luz! Tal azul se desdobra em tons maravilhosos de beleza e encantamento. Nosso olhar se perde entre os mistérios do verde que cerca o local. Guacho faz festa no bambuzal, balançando ao vento. Um homem corre na pista de atletismo, o suor brilhando na pele negra, sol e sal. No outro lado da mesma pista, siriema reina, não me dá a mínima atenção, quem sou eu afinal, para perturbar seu descanso? Lá em cima, no Zoo, animais descansam em seus refúgios, cada qual observando a tarde dourada sob o sol. Embaixo, gansos e capivaras dão um mergulho na água barrenta, para aliviar o calor e sonham: os gansos, com histórias infantis e as capivaras, com os brejos das florestas... Redes, churrasco, brinquedos para crianças (que doce lembrança a de meus filhos, descendo pelo escorregador, nas manhãs e tardes translúcidas de sua infância). Os indefectíveis sabiás (benditos sejam) voam e revoam e cantam, sinto esperança brotando no coração. Quero-quero enfeita o campo de futebol, beija-flor enfeita o espaço e tremeluz em sua beleza. Mangueiras, pés de cajá-manga, árvores floridas, estádio, piscinas, competições, sonhos de atletas, criancinhas aprendendo a nadar, o judô educando os jovens... Deitar na grama verde e admirar mais uma vez a linda e perfeita obra de um Perfeito Criador, que o homem ali, ajuda a cuidar! Picolé, sorvete, lojinha, crianças rindo, menino chorando, a bola voa sobre nossas cabeças e cai além, alguém vai atrás. Água, suco, refrigerante, chapéu, boné, biquini, protetor solar, - vai, escorrega na língua do sapo, menininha, que mamãe te vigia com olhos de amor!Beleza de domingo de luz e alegria, cores e magia, os homens se encontram e são felizes, os animais se aquietam, jacaré cochila, cobra se desenrola, onça rosna baixinho... A Usipa conta de glórias e conquistas e aprendizagem e lutas. Sensei Raimundo descansa em paz, em honrosas lembranças...E a tarde cai, mansa e quente e linda, como em todos os verões ipatinguenses. E eu, glorioso Quero-Quero, relaxo e aproveito, para voar sem ter asas, imaginação a mil, pegando carona no voo do beija-flor. Eu quero é mais! E nada há a acrescentar...
____________________________________________________________________

POESIA SEMPRE

MODINHA
Cecília Meireles
Tuas palavras antigas
deixei-as todas, deixei-as,
junto com as minhas cantigas,
desenhadas nas areias.

Tanto sóis e tantas luas
brilharam sobre essas linhas,
das cantigas – que eram tuas
-das palavras – que eram minhas!

O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado,
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.

ZOOM- Abraços para José Carlos e Graça Frinhani, Cláudio Lobato, Wanda Galinari e todas as meninas que trabalham no Salão da Vera, no Horto. Rubão (meu amigo Rubem Leite) puxa vida, o poema que você escreveu pra me homenagear pelo meu aniversário ficou ma-ra-vi-lho-so! Obrigada, poeta! - Quer saber por que ninguém gosta dos estadunidenses, ou americanos, como gostam de ser chamados? É por causa da presunção e arrogância! Por todo o mundo eles ouvem YANKEES GO HOME! E não tomam jeito! - Iniciando seus trabalhos como estagiária junto à Vara da Fazenda Pública de Ipatinga, a aluna do 4º Período de Direito, da Faculdade Pitágoras, Poliany Costa Miranda. Ela tem sido orientada por Andéa Giacomini e está se dedicando com afinco. Vai ser uma grande profissional, com certeza. - Um abraço para Fred Franco, sua esposa Kátia e a linda filhinha Eduarda. - O Contador de Histórias, Celso Sisto, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, publicou artigo interessante, no sábado, no jornal Folha de São Paulo, abordando a cultura africana. - Ai, espero que as eleições em Ipatinga aconteçam antes do meu passamento! Que coisa kafkiana, esta indecisão! - Um dia cheio de flores, estrelas e amores, belas canções , cheiro de chuva de verão em tardes amenas, ao som de Alcione e versos de Cacaso. Pirão de carne-de-sol, com arroz branquinho, angu e almeirão refogadinho com muito alho. Um licorzinho de jabuticaba para animar e muita fé, para seguir, são os meus votos. Z AuRevoir

terça-feira, 10 de novembro de 2009

GERTRUD RECEBE VISITA...

10/11/2009 -
Foi assim que aconteceu: eu estava me levantando, dando graças ao Criador por não estar sentindo dores fortes. O sol brilhava, prenúncio de dia calorento. Gertrud cantava, pousada em um galho do pé de Escumilha, saudando a beleza do Universo que Deus fez, quando a Edwiges chegou. Como, você já está rindo e, com a lógica dos descrentes, diz que sabiá-fêmea não canta? Quequié isso, audácia, olha aqui, a Gertrud canta, sim! A sabiá é minha, e se digo que canta, é porque o faz! (Puxa, essa frase saiu ao Jânio Quadros, no famoso “fi-lo, porque qui-lo”)Mas tocando minha velha bicicleta, eu dizia que a Edwiges chegou. Cansada, suada, pousou junto da Gertrud e começou a conversar. Edwiges é a coruja do Harry Potter, que vive na Inglaterra e estuda em Hogwarts, e Gertrud quis saber o que ela fazia por aqui.- Missão secreta, respondeu a coruja. Nada posso dizer. Como faz calor! Não admira que todos tenham o miolo mole abaixo da linha do Equador!-Miolo mole é o escambau! Preconceituosa! Até tu, Edwiges? Pelo menos não atiramos em emigrantes no metrô, nem enviamos contêineres de lixo para outros países! Colonialista! Sem essa, aqui é o patropi, deixe de pose!- Desculpe, disse a coruja. Não quis ser indelicada. Daqui a pouco volto pra Inglaterra, só estou descansando. Para me redimir, vou contar o que sei da última visita do Lula ao meu país.- Já sei de tudo, disparou Gertrud, impaciente. Eu leio revistas e jornais!- Não, você sabe o que quiseram que soubesse. No mundo da política internacional, nem tudo pode ser falado e divulgado, pois o menor descuido pode provocar um incidente grave.- Ah, é, e o que aconteceu?- Bem, suspirou a coruja, mudando de posição. O seu presidente chegou, eu estava no telhado e vi tudo. Antes de entrar no salão de festas do Palácio de Buckingham, ele repetiu as instruções do cerimonial. Não tocar na rainha, não andar na frente dela, não fazer barulho após beber, não deixar o dedinho esticar quando pegar o copo ou xícara, não mencionar assuntos espinhosos, enfim, ser encantador...- Ele, o Mr. Lula, já estivera antes com a rainha, mas d. Marisa estava junto, para dar uma força. Agora, seria ele e só ele para o encontro e, se desse alguma mancada, os ingleses ficariam aborrecidos e a imprensa cairia de pau. Ele foi conduzido até sua Sereníssima Majestade. Cumprimentos, sorrisos, fotos. O seu presidente suava, no esforço de parecer natural, Nossa Sereníssima Majestade estava linda e bem composta, naturalmente, uma dama, uma verdadeira rainha, suspirou Edwiges.Sei, - fuzilou Gertrud. (Ela é antimonarquista e antitudo do Primeiro Mundo) - e daí?Bem, tudo correu razoavelmente, até a hora da despedida.Aí, Mr. Lula, animado por uns cálices de brandy a mais, resolveu fazer uma despedida em grande estilo. Ao beijar a mão de sua majestade achou por bem fazer umas sugestões. Olhou para ela e falou: - ó Dona Elizabeth, sabe que a senhora é uma coroa muito simpática? Vou lhe dizer umas medidas que vou tomar a fim de resolver os problemas do mundo: a questão da emissão de CO2, será tratada com o arrolhamento das vaquinhas do Brasil, para que não poluam a atmosfera com seus gases.Na próxima reunião do G-20, levo uma rodada de cachaça AMANSA O RABO DO TATU, puríssima, para servir aos gringos, e só vai sair decisão boa! E para acalmar os ânimos, entre Israel e Palestina, durante as discussões na ONU, mando uma ala da Portela, com a bateria e as mulatas e não haverá representante que resista. Só falta eu encontrar um jeito de tirar o Zelaya da embaixada brasileira em Honduras, mas isso eu vou perguntar ao companheiro Chávez, que anda até falando em guerra, ele é meio esquentadinho, mas a gente tolera, né?Edwiges fez uma pausa, abriu as asas para tomar um arzinho e resmungou: Sua Majestade ouvia a tradução, sem perder a classe, com aquela compostura, até que o Mr. Lula falou:- Betinha, tô lhe observando, a senhora é uma coroa pra lá de arretada! Ainda dá um caldo e tanto. Só que está um pouco pálida, precisa tomar um chá de capiçoba roxa, que é tiro e queda pra esses males! E se o Philiph, seu marido, só estiver pegando no tranco, mando uma raiz de catuaba curada na pinga, que levanta qualquer defunto!- A reunião foi encerrada na hora, que desaforo, que despautério! Só que abafaram tudo! Aqui, você tá rindo de quê, Gertrud? Quer saber o que mais? Vou andando, ou melhor, voando. De repente, um doido aí resolve fazer churrasco de coruja, e eu danço! Adeus! Até nunca mais! Ah, pelo menos nisso os franceses tem razão: vocês são mesmo os selvagens aqui de baixo! E Edwiges deu no pé, ou melhor, nas asas, enquanto Gertrud quase caiu da árvore de tanto rir! ( E nada mais digo, pois tenho que fazer almoço pras minhas crianças. Tenham um bom dia, leitores do Diário do Aço! Afe!)



PRÊMIO MERECIDO
Os poetas Aldravistas de Mariana receberam, do ministro da Cultura, Juca Ferreira, o prêmio Viva Leitura 2009. A solenidade aconteceu em São Paulo, e a premiação foi devido ao Projeto “Poesia Viva - a Poesia bate à sua porta”, realizado por eles em diversos municípios, com sucesso. Na pessoa de Déia Leal, parabenizo nossos amigos e parceiros de Mariana pela façanha! Vocês merecem isso e toda a repercussão alcançada, com entrevistas nas emissoras de rádio e TV do país!

ZOOM- Comendo o delicioso doce de figo feito por dona Inês, passei meu aniversário junto aos meus queridos. Deus seja louvado, Marlene está bem melhor, Mary Palito engordou três quilos e conseguiu chegar aos 43 de peso e mamãe está lúcida e ativa, aos 90 anos! - Agradeço a todos os amigos que telefonaram, enviaram cartões, e-mails, flores e lembranças pelo meu aniversário. - Ó xente, e esse país não toma jeito! Expulsaram a mocinha do minivestido da faculdade! E para a corrupção, não vai nada? - Pois é, no dia 2, fui com dona Inês visitar o túmulo do sr. João Vieira, no cemitério de Santo Antônio, em Valadares. - Abraços para Graça Souza, Osilanda Pereira, Beto Souto e Célia, Rubem Leite. - Lindo o outdoor da Fadipa com a foto da poeta Chames, sua filha Cherrine e a neta Clarice. - Um abraço afetuoso para o ambientalista Gilson Essenfelder, de Valadares. - Ih, a jiripoca piou... Abraços e beijos para meus sobrinhos Luís e Marinês. - Geazi, não some não, dê notícias! - Abraços para Edersoni Souza, Teresa Pedra e seu filho Walter. - Agradecemos ao 14º BPM pelo convite para formatura dos novos soldados.- Quer dizer que Madonna vem ao Brasil pedir ajuda para suas obras de caridade? Sei! - Devagarinho, vou vencendo as crises de dor causadas pelas ites e oses da vida, e retomo minhas atividades. - Neuza Rodrigues brilhou mais uma vez com a festa de eleição da Garota Neuza Produções. Parabéns. - Um dia feliz, com nuvens de algodão doce e montanhas de brigadeiro, picolés de jabuticaba e sorrisos de crianças, broa de fubá com café coado na hora, versos de Cida Pinho, som de Nando Reis, e muito otimismo para vencer os barrancos e buracos, são os meus votos. Au revoir.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

DELÍRIOS POÉTICOS

27/10/2009 -
Manhã luminosa de outubro, que se abre ao sol com um sorriso.Antecipação de noite estrelada, de brisa perfumada, de sons... Vejo flores, estrelas e conchas no teu sorriso, e no canto do bem-te-vi, ouço as bem-aventuranças da Natureza... Saboreio o instante como quem morde manga madura e cheirosa, sumos e caldos encharcando o corpo. A canção linda ressoa em meus ouvidos, murmúrios ao éter construindo castelos e jardins suspensos nas nuvens azuis. Pétalas vermelhas voam desses locais secretos e doces, onde pássaros, em trinados, saúdam o AMOR! Grilos camuflados em esperanças, traçam círculos pelos ares e as mágicas aranhas tecem suas rendas de seda. No reverso do meu verso, traço ecos, a linguagem se transmuda, a forma é bela, vulto de colibri ou borboleta ao sol. Folhas secas, saltitantes esquilos de profundos olhos brilhantes, águas saltitantes caindo em arco, vapor ou poeira de fios brancos e perolados, o cristal brilha.As águas cantam e as palavras são frechas certeiras ao além onde repousam a lua, a poeta, e a felicidade... Manhã luminosa de outubro, de cantos e ventos e sons de esperança, eu quero crer e creio! A tarde virá, e cantaremos juntos, em rodopios infantis, como crianças brincando nos montes, entre os girassóis. E nossa ciranda será ouvida pelo mundo inteiro...
_____________________________________________________________________


GRACINHA DE PRESENTE


Um menino foi ao Salão do Livro, e viu Mariana Catibiribana. Pediu à mãe que fosse com ele comprar um exemplar, e ficou muito surpreso quando ela lhe disse que me conhecia e que havíamos cursado Direito juntas. Então, ele pediu à mãe que me convidasse para ir à sua casa, autografar o livro, porque eu estava doente, e ele não me conheceu no Salão. Eu fui, e encontrei sua professora, Elaine Reis de Morais, a tia Elaine da escola Educare e um monte de colegas do menino, assim como alguns pais. O menininho é filho de Luciana Marília Perdigão e Vieira, e do odontólogo Hugo, e é também neto da minha querida amiga Delmanaide. Foi uma tarde linda. Contei histórias, falei sobre meu livro, autografei, deixei recados nos cartões literários das crianças... Era aniversário de vovó Lucinda, e teve bolo de chocolate. Mas quem ganhou o presente fui eu, embalada por tanto carinho e interesse das crianças, Felipe Campelo Penna, Hugo Komatsuzaki de Alvarenga, Arthur Tavares Chamonge, Bárbara Barros, Samira Khouri Reis, Hudson Veiga de Carvalho, Laís Oliveira de Morais, e seu irmão Gabriel, Anabelle Nogueira Campelo, Clara Palhares. Huguinho, você e a pequena Melissa me deram o presente de aniversário mais valioso que uma pessoa pode receber: carinho e amizade.Obrigada por tudo. Eu amei!

A CASA DIVERSA(Pedro Du Bois)

A casa permanece
na memória
dos personagens!
que vêm e vão

o tempo é exato
em seus atrasos
a casa estabelece
suas bases
e os personagens
vêm e vão

o tempo é estanque
em seus abraços
a casa revalida
os contatos
em que os personagens
vêm e vão.

ZOOM- Abraços para todo o pessoal do Fórum, que revi nesta sexta. Iris, Eloer, Ana Maria, Clemência, Igor, Ivonete, Socorro Vilarinho, Kelly, Sílvia Lacerda e o juiz Fábio Torres.- Abraços também para Jesinho Nascimento, Ângela Palhares e a pequena Clara, que tem olhos lindos e também para Naile Perdigão. - Lula, por favor, não inclua Jesus em suas declarações estapafúrdias, ai! - Que tristeza os violentos episódios no Rio de Janeiro! Mas aquele dos policiais, negando socorro a um homem agonizando, e guardando a jaqueta e par de tênis do assalto, foi de doer a alma, o coração e tudo o mais! Socorrooo! - Parabéns ao advogado Mauro Lúcio dos Santos e à família do mecânico Airton José da Silva, pela vitória! Gente, o cacique Raoni, clamando sobre os problemas do aquecimento global, cujas consequências estão se manifestando em todo o mundo, é um dado preocupante. E a culpa é toda nossa, afe! - Meus agradecimentos a Luciana Perdigão e Vieira pela carta–convite que fez aos colegas de Huguinho, e pelas flores. Gente fina faz a diferença, sem dúvida. - Vem aí um filme sobre Chacrinha, o maior animador que a televisão já conheceu. - Sorria e o mundo sorrirá com você. Chore e chorará sozinho (a). - Um dia feliz, feliz, com motivação e paciência infinda, para se sobreviver nesta selva, som do Skank, poemas de Augusto de Campos, arroz branco com frango caipira no caldo, com muita cebolinha e pimenta do reino, um angu básico para acompanhar, e muitos sorrisos dos seus amados, são os meus votos. Au revoir.


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

OS CONTOS DE FADAS NOS DIAS DE HOJE...

Outro dia, uma senhora com a qual conversei, ficou muito espantada quando lhe falei que conto histórias e que tenho uma lista de escolas e creches à espera de uma vaga. Ela achava que, hoje, as crianças só se interessavam por celulares, computador e jogos eletrônicos e ficou agradavelmente surpresa com a notícia. Pois é, a Tradição Oral nunca morreu, continua cada vez mais viva. Os professores antenados sabem do valor das histórias para as crianças e buscam sempre mais livros, mais histórias, mais contadores. É uma experiência ímpar, encontrar as crianças e começar a narrativa. Ainda que sejam levadas, e às vezes fiquem um pouco dispersas, dependendo da faixa etária, daí a pouco, todas se rendem e acompanham a história. Ficam atentas, com os olhos fixos no narrador ou narradora, acompanhando cada palavra que é dita pela encantadora de palavras, que vai conduzindo o fio narrativo através das peripécias dos bons e maus. Há uma mágica de encantamento entre quem ouve e quem conta. Os gestos e sons pontuam os momentos marcantes, e a criançada se perde e se acha pelo entretecer das histórias que lhes contam das lutas, dos ganhos e perdas, derrotas e vitórias acontecidas durante a nossa existência... Catarse total, suspiro de alívio, pena, raiva, indignação, sorrisos. Isto e muito mais tenho vivenciado nas visitas que faço às escolas, contando Histórias. Uma história bem narrada, mesmo tendo um tema central, nunca será igual, alguma coisa nova é acrescentada e aí está a arte do narrador, ele reveste a história de encantamento e poesia, e faz com que as pessoas pensem, à medida em que se resolvem os conflitos. Pois as histórias trabalham justamente a vida, pontuando problemas e sofrimentos e apontando a solução, através do enfrentamento, através da busca de solução. E assim, divertem e ensinam as pessoas a pensar, sempre que se ouve uma narrativa, toda uma gama de sentimentos aflora. A criança quer saber tudo sobre o processo do nascimento até a morte, da vida em geral e da sua, em particular. As histórias trabalham justamente isso, pontuando problemas e sofrimentos e apontando a solução, através do enfrentamento. É a síntese da própria vida, pois desde o nascimento até o findar da existência, não fazemos mais que lidar pela sobrevivência, em resolver enigmas e problemas, em lidar com perdas e ganhos na jornada. Por aí se vê a causa de as histórias terem atravessado milênios e se mantido vivas. Você sabia que há registros de que o conto Cinderela já era contado na China, no século IX a.C?E chegou aos nossos dias, perpetuado há milênios, atravessando as geografias, provando a força e a perenidade do folclore dos povos. Sua longevidade se mostra através do envolvimento no maravilhoso, um universo que traz à tona a fantasia, partindo sempre de uma situação real, concreta, lidando com emoções que qualquer criança já viveu e vive. Há um conflito que precisa ser resolvido, através da fantasia, do imaginário, com intervenção de entidades fantásticas... A professora Vera Teixeira de Aguiar explica que os contos de fada mantêm uma estrutura fixa, e partem de um problema vinculado à realidade (como estado de penúria, carência afetiva, conflito entre mãe e filho), que desequilibra a tranquilidade inicial. O desenvolvimento é uma busca de soluções, no plano da fantasia, com a introdução de elementos mágicos (fadas, bruxas, anões, duendes, gigantes, etc.) a restauração da ordem acontece no desfecho da narrativa, quando há uma volta ao real. Valendo-se dessa estrutura, os autores, de um lado, demonstram que aceitam o potencial imaginativo infantil e, de outro, transmitem à criança a idéia de que ela não pode viver indefinidamente no mundo da fantasia, sendo necessário assumir o real, no momento certo. E para as pessoas que acham que histórias para crianças não tem importância, digo que todos gostam delas, pois os contos de fadas falam de medos, de amor, da dificuldade de ser criança, de carências, de autodescobertas, de perdas e buscas. Por lidar com conteúdos da sabedoria popular, com conteúdos essenciais da condição humana, é que esses contos de fadas são importantes, perpetuando-se até nossos dias... E nada mais digo hoje, porque o assunto é fascinante e voltaremos a ele. Que as fadas iluminem o seu dia!ADOÇANDO O DODÓINo dia 15, a convite da estagiária de Enfermagem do Unileste, Cristiane Mendes, fomos ao Setor de Pediatria do Hospital Municipal. A Turma de Cristiane, formada por alunos do 8º Período de Enfermagem Vespertino, estava lá, toda animada, todo mundo fantasiado, com brincadeiras e presentes para a meninada. Foi muito bonito, eles cantaram, pintaram o rosto das crianças, usaram fantoches para ensinar o valor da higiene corporal, e eu contei histórias de bichos, li Mariana Catibiribana, e foi muito bom ver as crianças, mesmo no soro, sorrindo com nossas brincadeiras! Parabéns aos alunos Anderson do Amaral, Felipe Ruas, Felipe Teixeira, Fernanda Lima, Emilyane Ribeiro, Geniane Lopes, Graziela Franco, Patrícia Mendes, Talita Corrêa, Juliana Cordeiro, Gabriela Pedrosa, Thaís Cândida, Rosemeire Anício, e ainda a estagirária do 6º período de Psicologia, Mayra Costa. Parabéns aos alunos e aos professores Ricardo Cobucci e Elizabeth Duarte. Agradecimentos especiais para Cristiane Mendes, que me procurou para participar do evento. Merci.ZOOM- A querida jornalista Maria Rita Valentim Rosado curte a espera da primeira filha, ao lado do marido Antônio Marcos. Cumprimentos ao casal. - Abraços para Marília Machado, diretora do Hospital Municipal. - Gente, a coisa está feíssima no Rio de Janeiro. Lembram quando do anúncio da realização das Olimpíadas, eu escrevi sobre não varrer a sujeira, isto é, os problemas daquela linda e infeliz cidade para debaixo do tapete? O caldo está entornando, valha-nos Deus, porque as autoridades, eu não sei se valerão! - Eu, hein, inda-qui-mal-o prigunte, o que o presidente do Irã tem a nos ensinar? - Pouco a pouco a paisagem vai sendo modificada no Imbaúbas. Prédios substituem as casas. Dizem que é o progresso. Que pena... Como disse Caetano, “é a força da grana que ergue e destrói coisas belas.” Aí vem mais gente, mas e quanto à infraestrutura? Que bom seria se a lei proibindo a verticalização em bairros históricos não tivesse sido só um sonho... - Minha branquinha Larissa começando atividades profissionais na área de Nutrição, na região. Boa sorte, filhota! - Gente, é brincadeira o tratamento de certas firmas quando se quer cancelar um cartão de crédito. O dia que tiver paciência, conto pra vocês o papo-aranha de um atendente em São Paulo. Falei poucas e boas com ele! Desabusado! Claro que é a política da empresa, mas dai-nos paciência, Senhor! As leis neste país... brincadeira! - Por falar em leis, achei muito desrespeitosa a expressão “corno solene” usada por um juiz no Rio de Janeiro, referindo-se ao autor de uma ação contra o amante da mulher! Ora, cabe ao juiz deferir ou não, mas daí a abusar... - Abraços para o Grupo Farroupilha, para o dentista Marco Aurélio Tancredo e Clara Mirtes nesta terça-feira. - Um dia cheio de cores, música e felicidade. Som de Vanessa da Mata, poemas mineiros de Drummond, suco de carambola, frango frito com arroz branco e tutu molinho, couve picadinha, cebolinha e salsa, e aquela pimenta malagueta. Além disso, amor e paz, são os meus votos. Au revoir.

(20/10/S2009)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O AZAR DO PRINCIPIANTE

Zeadão era até um rapaz bem apessoado. Mas desde menino tinha um defeito: era sempre o sabe-tudo, era ele quem sempre dava a palavra final em qualquer assunto. Se alguém iniciava um papo, Zeadão entrava no meio, falando, ensinando, monopolizando as atenções. Não teria problema, se as suas opiniões fossem estribadas em conhecimento. Mas ocorria que , desde que aprendera a falar, descobrira que precisava de auditório, tinha necessidade de alardear seus feitos e através de palavras escolhidas, levava a verdade para onde queria, em manipulação desavergonhada. Seria o caso de fazer carreira na política nacional, quem sabe, chegar ao Senado, mas morando em uma pequena cidade, o máximo que conseguiu foi afastar de si algumas pessoas, que enxergavam nele o que era: fraco, mentiroso e fanfarrão. O rapaz até arranjava namorada, mas a moça logo se cansava de ouvir lorotas e passar vergonha na festas, onde o nosso herói ensinava de tudo, desde conserto de carros, (embora não tivesse um) à melhor maneira de espremer furúnculo e como proceder para caçar tatu e viado... Bom, um belo dia, Zeadão decidiu que ia ser fotógrafo. Era a profissão ideal, pois seria visto por todos, estaria em todas as festas e ganharia uns caraminguás para as despesas. Zeadão arranjou uma Kodak antiga e começou a fotografar as pessoas, as paisagens, os animais. Continuava um chato de galochas, mas as pessoas se conformavam, pelo menos enquanto fotografava, estava ocupado, o que livrava os ouvidos alheios de explicações sobre como os astronautas se livravam de dejetos no espaço ou como o alpinista se sentia ao escalar o Himalaia. Pois é, depois de um certo tempo, o rapaz conseguiu realizar o sonho de adquirir uma máquina fotográfica profissional. E treinava, esperando ansiosamente o momento de cobrir uma solenidade, uma festa, e inaugurar uma carreira promissora de fotógrafo que talvez fosse até para o exterior, fotografar as estrelas de Hollywood! E o Zeadão, em seus delírios megalomaníacos, sonhava com a glória e a fama, embora ainda não tivesse cliente nem para foto três por quatro. Mas aí, a roda do destino girou e tudo parecia sorrir para Zeadão: haveria um casamento na cidade vizinha, era a filha do prefeito que ia contrair núpcias, o fotógrafo adoecera e alguém se lembrara do nosso herói. Feliz da vida, Zeadão se vestiu com apuro, calça jeans nova, camisa xadrez, sapatos engraxados e foi à luta. Chegou á igreja e se colocou orgulhosamente na entrada, para fotografar a chegada do noivo, da noiva, dos convidados... Aí sentiu a primeira pontada na barriga. Ah, não que coisa, não podia se afastar dali, ou perderia os lances do seu primeiro trabalho. Bem que sua mãe lhe dissera para não tomar aquele caldo de mocotó quente e gorduroso, mas ele teimara. A dor na barriga aumentou. O fotógrafo suava. Rindo amarelo, começou a fotografar, o noivo entrava na igreja, a noiva chegava no Ford do pai, todos vestidos com aprumo. Tinha que ir ao banheiro, mas não queria perder nada do seu primeiro trabalho. Decidiu fotografar a entrada da noiva, e depois procurar um local para se aliviar.
E aí aconteceu: a coisa desceu de vez, e ele sem-graça, percebeu que havia sujado as calças. Apavorado, com medo de que as pessoas percebessem, saiu pela porta lateral e foi para o fundo da igreja. Alcançou a sacristia, e procurou o banheiro. Descobriu que estava trancado. Desesperado, procurou um pano para se limpar. Aí avistou a alva, aquela veste branca que o padre usa para celebrações. Arrancou a veste do cabide e enfiou-a na parte traseira da calça, limpando como podia, freneticamente, pois a celebração já havia começado. Atirou a peça atrás da porta e voltou à igreja, reiniciando o trabalho. As pessoas viravam a cabeça, incomodadas pelo cheiro horrível. Tentando não chegar muito perto, Zeadão tirou mais fotos até a saída da noiva e ao invés de ir para a festa, sumiu no mapa. Dizem que foi para o Rio de Janeiro e se juntou a um circo. Se parou de contar vantagens, eu não sei. Mas nunca mais tomou caldo de mocotó quente. Em se tratando de trabalho, sabe que é perigoso, muito perigoso... E nada mais digo.

_______________________________________________

plenilúnio
( Gabriel Bicalho)
pelos becos
gatos catam
migalhas
de estrelas

prateadas sombras
se locomovem
no solene silêncio
da pobreza nas ruas

marquise estreita:
alguém se deita
_______________________________________________________________

ZOOM -Então é no Rio de Janeiro, onde a população de menor poder aquisitivo pena com a violência e a falta de transporte decente, que vai acontecer a Olimpíada? Sei... Z Abraços para Nilmar Lage, Jaque Gabriel, Tom e sua mãe Isabel, Z Gente, palavrão em livro dIdático é coisa inadmissível! Que irresponsabilidade da parte de quem indicou tais livros, e pior ainda, da Secretaria de Educação, que os colocou nas escolas mineiras. Eu, hein! Z Meu amigo Rubem Leite me leu um conto lindo, por telefone. Tinha acabado de escrever e resolveu compartilhar comigo! Uau, muito bonito e instigante! Z Coitado do Barack Obama; esse Prêmio Nobel da Paz vai ser sacudido no nariz dele toda vez que tiver que tomar uma atitude para defender o ImpérioZ Um abraço especialíssimo para Olga, Juliana, Clérie Simone, Aparecida, Madalena, Irlaine, Wilson, Ana Paula, Amélia, Júlio, Marilza, Niuza, professoras da Escola Municipal Hermes de Oliveira Barbosa de Pedra Branca, onde contei histórias pelo Dia da Criança. Foi muito bom! Z Você ainda tem tempo para participar da Jornada de Literatura do CLESI. As inscrições foram prorrogadas, por causa da greve dos Correios, até 15 de outubro Boa sorte! Z Aquele rapaz de dois metros foi passar o feriado na Oktoberfest, em Santa Catarina.. Vidão! Z Um dia cheio de bênçãos, com poemas de Machado de Assis e som de Nana Caymmi. Um risoto de galinha, bem colorido e apimentado, caldo de cana e pudim de pão, e muita saúde para enfrentar as rebordosas, são os meus votos. Z Au Revoir

terça-feira, 6 de outubro de 2009

COROAI-ME DE ROSAS, UM LIVRO ESPECIAL

“De perto, nenhuma família é normal.”
(Dostoiévski, em Crime e Castigo)

“De perto, ninguém é normal”.
(Caetano Veloso em Vaca Profana)

Sim, se há mais coisas entre o céu e a Terra, do que sonha nossa vã filosofia”, o ser humano constitui o maior mistério do Universo. Apesar de todo o avanço da Ciência, apesar de todas as descobertas, o homem e seu cérebro ignoto estão aí, como a esfinge, propondo o enigma “decifra-me ou te devoro”. Tratados e mais tratados científicos nos explicam o que já sabemos, ou seja , o cérebro humano é um intrincado conjunto de possibilidades das quais conhecemos pouco ou nada. Não se achou ainda porque algumas pessoas apresentam diferenças de compreensão e comportamento e as teorias falam, mas não dizem tudo. Neste 4º Salão do Livro, que trouxe tanta coisa boa, oficinas, lançamentos de livros, palestras, teatro, movimentação de alunos e professores e do público em geral, tive uma experiência fascinante. Desta vez, eu não participei de tudo, porque o nervo ciático resolveu se manifestar, justo nos dias da festa! Fiquei de molho, curtindo dor, já encomendei uns joelhos novos, uma coluna idem, e um fêmur estalando de novinho, pra fazer umas mudanças aqui e parar de sentir tantas coisas advindas do passar dos anos! No entanto, antes de a coisa engrossar, eu fui ao lançamento do livro “COROAI-ME DE ROSAS”, no Teatro Zélia Olguin. Pouca gente, mas uma discussão importantíssima: a autora. Rosimara de Mont’Alverne Neto é portadora de esquizofrenia. Conduzindo o debate, Rosana de Mont’Alverne, contadora de Histórias, fundadora da Editora e Instituto Aletria, e irmã da autora. Opinando com maestria, a escritora e psiquiatra Angélica Vaccarini nos deu informações preciosas sobre os portadores de sofrimento mental. Pois é, a cada dia percebemos a preocupação da sociedade, ou melhor, de parte dela, no sentido de integrar, socializar, e não mais segregar quem tem problemas mentais. A convivência com a família, com amigos, o tratamento supervisionado pelo médico, podem e fazem todo o diferencial na vida de quem tem problemas desse tipo. Que o diga Rosimara; cresceu como uma jovem “normal”, com muitos irmãos, aos 17 anos já estava cursando Direito na UFMG, formou-se, foi aprovada em concurso público e era chefe de gabinete de um importante tribunal, quando um dia teve um surto. Aí veio o tratamento, muito sofrimento, a ajuda da família, e da necessidade de externar o que se passa pela alma de uma pessoa com tais sintomas, resultou o livro. O prefácio é do escritor Bartolomeu Campos de Queiróz, que diz: “Ler Rosimara é se deixar sonhar com um riacho manso. As águas conversam com o sol e rolam claras na superfície. Mas, no mais fundo, elas vestem, de musgo e verde, antigas e pesadas pedras. A transparência do texto é tamanha que nos permite ver muito além das coisas. Ao questionar a razão, afirmando sempre ser propriedade do outro, e uma sociedade por não democratizá-la, Rosemara o faz valendo-se de uma escrita sensível, capaz de envolver o leitor cuidadosamente. Ela reconhece que as palavras nos fundam como humanos e o mundo é do tamanho do que cada um sabe dizê-lo.” Formada também em Letras, curso feito após o advento da doença, Rosimara enfrenta valentemente a vida, ajudada pelos medicamentos, pela família, pelos amigos leais. O futuro a Deus pertence. Sua parte é lutar e ela o faz com garra. Prazer em conhecê-la, Rosimara! Sua coragem renova a coragem das pessoas comuns! E nada mais digo!POESIA SEMPREOUTUBRO(João Dinato)Quando os teus olhosTocarem a primaveraJá serão os primeiros dias de outubro.Entre o mar e a serra Haverá caminhos de floresE as chuvas terão chegadoPara que uma lagoa reflita o céu de outubro...ZOOM- E agora o tema de todas as reportagens será a escolha do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2010. Tudo bem, mas que não seja para varrer a sujeira para baixo do tapete e fingir esquecer os problemas nacionais. - Parabéns a todos que lançaram seus livros: João Marcos, Micheline Lage, Wanda Galinari, Goreti Freitas... Muito sucesso! - Abraços para a poeta Lilá e Gesilda, Marizia Edith e para a professora Helena, do Colégio Angélica, também para a advogada Jesa Maria de Oliveira. - Pela segunda vez, o desabusado Berlusconi, primeiro ministro da Itália, chamou Barack Obama de “bronzeado”. Esse Berlusconi é mesmo um espírito-de-porco, ara! - Parece que as coisas em Fabriciano se acalmaram, em relação ao Parque Linear. Ainda bem, não é mais época de político ficar fazendo birrinha um com o outro, prejudicando os eleitores. - Motivado pelos equipamentos que vendem salgadinho e refrigerante, um empresário paranaense inventou a máquina que vende livros a baixo preço e está fazendo o maior sucesso por esses brasis afora. - E a novela da eleição em Ipatinga, quando será resolvida? Mistério... - Um dia cheio de beleza e alegria, com muita paz, versos de João Cabral de Melo Neto, poemas musicados com Djavan, almeirão com angu e feijão, com costelinha frita, hum, são os meus votos... Au revoir.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

LAMENTO IPATINGUENSE

Aqui jaz uma cronista
Que perdeu a inspiração
Ao saber da má notícia
Foi suspensa a eleição!

Não é possível, meu Deus
Pra que tanta embromação?
Olhe para os filhos seus
-É muita judiação!

Fazem da gente um capricho
Zombam da luz da verdade
É um grande desatino
O destino da cidade

Sai recurso, entra recurso
A eleição foi travada
Parece que a coisa pública
Está indo pra privada

Gente, que mesquinharia
Uma tremenda injustiça
A turma tá confundindo
Ipatinga com carniça

Valei-nos nessa pendenga
Senhor do céu e da Terra
Chega de dor e arenga
Senão a gente se ferra!

Assim dá até tristeza
Viver no Vale do Aço
Pois temos uma certeza
A gente não é palhaço!

E agora meus senhores
Que será dessa cidade,
De filhos trabalhadores
Sofrendo de ansiedade?

Resolvam nosso problema
Chega de complicação
Devolvam nosso sistema
Devolvam nossa eleição!

Esta terra dadivosa
Este drama não merece
Uma briga horrorosa
E o povo é quem padece

Da parte de toda a gente
Vou aqui anunciar
IPATINGA QUER SOMENTE
O DIREITO DE VOTAR!

E pra dizer a verdade
Se não for pedir demais
DEIXEM DE TANTA VAIDADE,
QUEREMOS PROGRESSO E PAZ!

(E NADA MAIS DIGO)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

DE LEMBRANÇAS, LAMBANÇAS E COMILANÇAS

É uma graça quando, nas escolas que visito, falo para a meninada de hoje, como foi a minha criação. As crianças e adolescentes ficam muito espantados quando digo que cresci em povoados mineiros, mais longínquos do que o Reino Tão Tão Distante e que não havia geladeira, liquidificador, telefone, correios, televisão, jornais, revistas, computador... Uma vez um adolescente arregalou os olhos e me interrompeu, perguntando como eu me divertia. Aí então, comecei a falar das cantigas-de roda, do chicotinho queimado, do passa-anel, do boca-de forno, do pular corda e ouvir histórias e lendas que nos deixavam fascinados. Na verdade, os meus primeiros 10 anos de vida foram preenchidos com acontecimentos fantásticos, como viver em vilas de dupla jurisdição, no famoso “Contestado” entre Minas e Espírito Santo, ver muitas mortes por questões familiares e desavenças políticas, as intrigas entre os picapaus e corta-goelas, ouvir causos e histórias sem fim, ver pessoas que vinham de locais ainda mais distantes, trazendo um Estandarte e seus instrumentos musicais, cantando a Folia dos Reis... Eu me julgo muito afortunada por ter morado nos locais onde morei com minha família, em Mendes Pimentel e em vilazinhas abaixo de Mantena, chamadas Boa União e Tipiti, porque vi e vivi coisas que povoam os meus sonhos e lembranças até hoje, em episódios que volta e meia, divido com meus leitores. Hoje eu me lembrei da festa que era quando precisávamos de carne. Papai costumava dizer “alegria de pobre é no dia em que mata porco”. Razão lhe assistia, pois desde o momento em que eram consumidas as últimas porções de torresmo e as latas de banha estavam vazias, era hora de olhar o capado que iria para o sacrifício e preparar o cenário. Escolhida a vítima, urgia lavar latas, amolar as facas, rachar a lenha, arear os baldes e bacias de cozinha e esperar a madrugada. Então, um corajoso ia matar o porco, a machadadas ou a punhaladas, e salto essa parte, pois eu nunca fui capaz de matar nem galinha, imagine o que eu sentia ao pensar no “assassinato”. Mas como dizia mamãe, “consciência de égua em ruma de milho, não existe”, e morto o bichinho, a farra começava. Sapecava-se a pele do porco, para eliminar os pelos, usava-se água bem quente para lavar, raspando o que ficasse com a faca amoladíssima, até a pele ficar bem limpa. Depois, uma faca amolada cortava a queixada, e puxava a língua, até chegar à barrigada. O sangue era recolhido para fazer choriço, e a seguir lavava-se o animal e se separavam as metades. A barrigada retirada era levada ao córrego, separava-se as tripas com cuidado, para não estragar o redengue, separava-se a cagaiteira e a limpeza começava. Lavava-se as tripas muito bem, elas eram esfregadas com limão e fubá, viradas pelo avesso com o “pau de virar tripa” e só voltavam quando estavam limpíssimas. Eram penduradas e preparadas, as finas, para a lingüiça, as grossas para a murcela ou murcia feita com os miúdos ou “frussuras” ou o choriço , feito com sangue.
A esta altura, o miolo era amassado , passado no ovo batido, com muito tempero e frito, após o que cada trabalhador ganhava um pouquinho, pois era exclusividade de meu pai. As orelhas e pés eram raspados e aferventados para serem cozidos no feijão, ou seriam cozidos e transformados em deliciosa geléia, que era colocada em folhas de bananeira. Se você nunca comeu geléia de pé de porco, feita pelas mãos milagrosas de D.Inês, só posso lamentar sua desdita! O trabalho central era separar as carnes nobres, cortá-las para a fritura, além das mantas de carne que recebiam tempero à base de muito alho, quitoco, pimenta e eram colocadas na fumaça, dependuradas acima do fogão de lenha, para maturar. E a lembrança do quiabo com carne de fumaça, feijão e angu me persegue até hoje, hum... Os cortadores começavam a cortar o toicinho em pedaços miúdos, que eram fritos nas tachas e panelas grandes, e logo as latas estavam cheias de gordura da melhor qualidade. As costelas eram fritas e reservadas, a carne “mucissa” cortada em pedaços que eram fritos e guardados na banha, as peles eram fritas e tinham o mesmo destino. O bucho era limpo em processo similar ao das tripas e recheado, e depois frito e servido com arroz. Fazia-se uma mini-forquillha com galho novo de laranjeira, que se adaptava à tripa que eram enchidas com carne moída ou cortada miudinho; para tirar o ar, furos eram feitos com espinhos de laranja, e toma um mundo de lingüiças também dependurada na fumaça. A gordura menos nobre era destinada ao fabrico de sabão, com mamoninha. Bom, era o dia todo trabalhando, mamãe comandava tudo, os meus irmãos e primos ajudavam no corte, as meninas ajudavam na fritura, todos nos divertíamos muito, a lambança que fazíamos comendo pele mal-passada na chapa do fogão e torresmo quente, (que mamãe fingia não ver, alertando para o inevitável piriri) era mesmo uma festa, o cheiro de carne frita nos enchia a alma de alegria por antecipação de gostosuras e nós nem sabíamos que nossa história, cheia de delícias, era “mais bonita que as histórias de Robinson Crusoé”. E nada mais digo, a não ser um agradecimento ao Criador por ter me proporcionado tantas experiências e ter me dado uma mãe com mãos que faziam milagres!
__________________________________________

EQUIPAMENTOS DE LINGUAGEM

( MAX MOREIRA, poeta de Cel. Fabriciano)

Abóbora d’água.
Carne de sol.
Feijão de corda.
Farinha de munho.
Manteiiga de garrafa.
Café de pedra.
Sal.
Panela de barro.
Facão Guarani.
Fumo goiano.
Canivete mundial.
Três quartos de pinga.
Carabina de ar.

Com a carga encilhada,
esporeio o cavalo de pau
E desapareço
nas colinas de veludo.
_________________________________________________________-

ZOOM – Um abraço especial para professores e alunos da E.E. Salvelino Fernandes, de Santana do Paraíso. Estivemos lá na sexta-feira, trabalhando com Contaçao de Histórias. Foi uma festa só. Agradeço ás crianças e adolescentes pelo carinho e cumprimento a pedagoga Dirce de Morais, pela garra. Z Um abraço do tamanho do mundo a todos os meus amigos que me visitavam na Biblioteca onde trabalhei por 6 anos. Estou aposentada e agora me acharão em casa, ou contando histórias pelas escolas de Ipatinga e de outros municípios. Z Abraços também para o diretor da Biblioteca, Fernando Mendes da Silva e a todos os colegas de trabalho Z Agradecimentos ao vereador Jair Morais de Oliveira, de Paraíso, que veio me buscar para que eu pudesse contar histórias para as crianças da Escola Salvelino Fernandes. Z E Lula dizendo que é portador de deficiência intelectual. Deu pra perceber?.ÓOOOOOOOOOH! Z As eleições de Ipatinga vem aí, em ritmo acelerado. Vamos lá, pessoal, caprichem na escolha!Z Na programação do 4º SALÃO DO LIVRO, de 28 de setembro a 5 de outubro, oficinas interessantíssimas, lançamento de livros, palestras e a presença de Ziraldo, Bartolomeu Dias Queiróz, Affonso Romanno de Sant’Anna, e muita coisa boa mais. Não perca, tudo acontecerá no Usicultura, no Shopping. Z Um dia com gosto de cravo e canela, com pernil assado, arroz branco, couve refogadinha, feijão preto com muito alho, e doce de figo de sobremesa. Poemas de Max Moreira, músicas de Djavan e fé para rebater as rebordosas, são os meus votos. Z Au Revoir

terça-feira, 15 de setembro de 2009

UM JOGADOR FRANCÊS

José Uchoa é paraibano. Empreiteiro atuando no ramo da construção civil, já realizou muitas obras por esses brasis a fora. E sabe histórias incríveis, como a que vocês vão ler agora. Conta Zé Uchoa, que, de certa feita, ganhou a concorrência.para construir uma ponte sobre o Rio Assu, na BR 304, trecho Natal -Mossoró. Certo final de semana, a cidade de Assu "ferveu’", com a expectativa de um jogo: o time da cidade ia enfrentar o time de Natal! Muita propaganda, falatório, ansiedade e afinal chegou a hora do jogo. No pequeno estádio, gente saindo pelo ladrão, a maioria de pé, sob um solaço de 40º, aguardava o início da partida.. Todo mundo estava lá, desde as autoridades até os mais simples cidadãos. Muita morena bonita, rapazes e moças aproveitando a ocasião para um flerte, pais com os filhos se lambuzando de picolé e sorvete, todos animados com a peleja esportiva. Para participar do evento, veio um locutor da Rádio Poty de Manaus, Zecão Rabicho, que prometia uma transmissão esplendorosa! Começa o jogo. O time do Natal ataca, o time local se move. Entre os jogadores de Assu, um se destaca: é um rapagão do cabelo vermelho, o centro-avante do time. O rapaz parecia um foguete. Driblava, negaceava, marcava de cabeça, fazia roubada de bolas, carrinhos e bicicletas. O locutor conferiu o nome do jogador e caprichou na narração: - "Bola para Dirran, passou por um, passou por dois, passou por três e chutou! Sen sa-cio-nal! Há tempos eu não via um jogador com tanto talento! Seu nome é Dirran! Que coisa incrível ouvintes da rádio Poty! Nasce uma estrela, no Olimpo do Futebol! É o novo Pelé!"- A torcida vibrava, enquanto o narrador se esgoelava , fazendo biquinho, ao pronunciar o nome do jogador fenômeno, DIRRAN!
A esta altura, o técnico do time adversário escalou quatro jogadores para marcar o Fenômeno. Mas nada adiantou. Dirran se esgueirava, desviava e seguia tocando a bola. O sarará fez um gol, prontamente anulado pelo juiz, que tinha vindo de Natal. A torcida vaiou, a mãe do juiz foi elogiada de todas as maneiras possíveis. A partida continuou. No segundo tempo, Dirran continuava com o mesmo ímpeto. Até lhe rasgaram a camisa, ( o juiz fingiu não ver) mas o jogador continou a fazer suas diatribes com a bola, para gáudio dos espectadores e do locutor Zeca Rabicho, que se esgoelava, sempre caprichando no biquinho ao pronunciar o nome em francês. - "Dirran, que espetáculo, minha gente, que loucuura! É um jogador francês, dando o sangue pela camisa do Assu.! Nasceu na França, mas joga como um brasileiro! DIR- RAN!. Atenção, torcida, este nome será muito falado neste país, estamos vendo um craque completo, grande jogador Dirran! NÃO ESQUEÇAM ESTE NOME!
Apesar dos esforços do Assu, o time de Natal levou a melhor, vencendo por 3X1, com a descarada proteção do juiz. Mas a torcida, fascinada pelo desempenho daquele jogador extraordinário, ao invés de vaiar, aplaudiu em delírio. O locutor saltou para dento do campo e abordou Dirran. Ia fazer uma entrevista com o craque francês, que certamente teria repercussão no país inteiro! . Dirran parecia meio encabulado. Zeca Rabicho fez logo as perguntas: "E aí Dirran, grande jogador, você brilhou! E então, há quanto tempo está no Brasil? De que local é sua família na França?
Para surpresa do radialista, o jogador ,respondeu meio sem graça: -" Minha famia é daqui mermo, sim sinhô. Nasci no Assu de Baixo, numa roça".
Espantado, o locutor disparou: - Como, você não é francês? E qual a origem de seu nome?
- Ô xente, - respondeu timidamente o rapaz - lá na roça ês me chama de C... de Rã. Mas como na rádia fica feio, não pode falá isso, a gente então abrevia e fala só "de rã"... (Até hoje Zeca Rabicho sai no braço quando lhe pedem notícia deste jogo, hi, hi, hi!)
E nada mais digo!
_________ _______________________________________________
ZOOM Abraços e agradecimentos pelo acolhimento na sede do 14º BPM, quando do lançamento do livro do Coronel Klinger Sobreira, à Cabo Nelma, Major Gonçalves, o comandante, xxxxx, Capitã Marcinelli, Coronel Vitoriano, Tenente Coronel Vidomar Fontoura eCoronel Carlos Roberto e Major Jacó.. Z A jovem cantora Ana Luiza, acompanhada por Murilão, fez o maior sucesso cantando no aniversário de Pedro Neves. Essa dupla vai longe... Z Depois a gente fica com raiva quando falam que somos atrasados. Como Francisco Neto noticiou, a Câmara Municipal de Salvador, já aprovou, em primeira votação, o título de cidadão soteropolitano para Michael Jackson! Ai, pobreza! Às vezes, somos mesmo um bando de maicoljecas! Z Abraços para Maria de Fátima Carvalho e seu marido José Danilo, para a professora Maria Elisia Santos, Hugo e Luciana Perdigão, e Amílcar, o Portuga, nesta terça.Z O poeta Vilmar Silva trouxe seu espetáculo poético ao Teatro Zélia Olguin., no domingo. Com ele, os argentinos Sebastian e Laia, que deram um show na leitura depoemas. Pena que não houve muito tempo para a divulgação do espetáculo! Z Foi linda a comemoração dos 70 anos do amigo Pedro Neves, em sua fazenda em Antônio Dias. Com direito a celebração na capelinha branca do local, e muitos abraços dos amigos. Cibele não conteve as lágrimas ao ler uma homenagem ao pai. Leila, Marcos Valério e Eliane, ajudaram a dar as boas vindas a todos, com a classe de sempre. Eu amo esta família! Parabéns, Pedro! Z Os gênios da literatura infantil, Bartolomeu Campos Queirós e Ziraldo, além do poeta Affonso Romano de Sant’Ana e muita gente boa estão na programação do 4º Salão do Livro. A data é 29 de setembro a 4 de outubro, no Usicultura, e você não pode perder Z Um dia feliz, com a presença de Deus em sua vida, sorrisos e carinhos dos seus, música de Dudu Nobre, poemas de Wilmar Silva, aquela macarronada com tutu e frango caipira, suco de pitanga e muito bom humor para enfrentar a vida e o trânsito, são os meus votos.Z Au Revoir

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

CONVERSA PARA BOI DORMIR...

( ou a Gertrud é um porre!)

Ah, não. Não quero saber, não me fale, não quero ouvir, não quero pensar... Sabiá ali fora, inundando de sons a manhã de domingo e você quer que eu me preocupe com isso? Não, não dá. São apenas 8 horas da manhã, e já pensei na gripe suína, na desgraceira que acontece no Iraque e no Afeganistão, na fome da África, nos boatos de que o 13º salário foi suprimido em votação pela Câmara dos Deputados em Brasília, na merda que é a política nacional, no pré-sal e quejandos, nos discursos presidenciais, na eleição municipal que está chegando, na violência nas escolas, nas meninas que engravidam precocemente, as mortes no trânsito e ainda vem você com essa? Xô urubu, sai desatino, você quer é me enlouquecer, não é? Escute, a primavera vem aí, os sons e avisos se fazem notar, chegam com a brisa, já ouço a zoeira de risos em tardes, encontro de amigos, encontro de namorados, crianças brincando no Parque Ipanema, espuma e frescor deslizando pelas costas da gente no Parque das Cachoeiras...Arre, égua, como é que vou saber? Não sou adivinha, não sou arauto nem sibila, que conversa besta é essa? Larga do meu pé, me dá carta de alforria, me erra, me solta, me deixa! Filósofo não, tenha dó, detesto essas pessoas que empinam o nariz e dizem: -Nietzsche disse assim, disse assado-e eu com isso? Sabe como sou , uma macróbia teimosa que nem mula velha, eu não vou dar o braço a torcer, eu sou mais eu, tá pensando o que? Não me atormente mais, eu de-sis-to, vou para Pasárgada ou pro Tipiti, vou pro Olimpo procurar serviço como cozinheira de Zeus, qualquer coisa serve.Só não me amole mais, com esta história ridícula de querer saber a cor do cavalo branco de Napoleão, ou se Lula vai ler um livro algum dia! EU NÃO SEI E NÃO QUERO SABER! Vai catar coquim, Gertrud, você é a mascote mais chata que conheço! Sabiá aborrecida! ARA!
E nada mais digo! Humpf!


______________________________________________________________________
PONDERAÇÕES MINEIRAS
(Nena de Castro)

Mar, não temos.
Nossas ondas são as intensas idéias
libertárias
nas quais singramos os ventos
e defendemos Palmares.
É, não temos mar...
Temos montanhas
mistérios
minérios
mineiros
nessas Minas Gerais.

Mas há um consolo:
aqui, morrer na praia,
JAMAIS!

(LIBERTAS QUAE SERA TAMEN, sempre!)
_________________________________________

ZOOM – Nosso amigo Pedro Neves vai comemorar os 70 anos em sua fazenda em Antonio Dias. Na organização, Leila e os filhos Eliane, Marcos Valério e Cibele. O jeito é ir lá ajudar o Pedro a "empurrar o carro" Felicidades, grande Pedro! Z Abraços para as professoras Rosimar Martins Silva, Diacomele de Freitas Santos, do Colégio Batista de Ipatinga, e Elaine Ferreira Maciel Dias, da Creche Jardim da Luz, do Bom Jardim.Z Na Igreja Católica da Vila Ipanema, no sábado passado, Glenda Mafra casou-se com Adolfo Ribeiro. A parentela veio em peso prestigiar os noivos, inclusive a vovó Aparecida Senra Almeida, de Caratinga. Votos de felicidades desta colunista e família, para o jovem casal. Z Da redação do ENEM 2009, de um aluno preocupado com o meio ambiente: "a camada de ozonel..." Ai, meu Deus do céu! Outro escreveu " Paremos e reflitemos". O jeito é rir para não chorar! Z Hoje, o Coronel Klinger Sobreira lança em Ipatinga seu livro "Um Delegado de Capturas" Agradecemos o convite envido pela Capitã Marcinelli e desejamos sucesso ao Coronel Klinger, pessoa muito estimada nessa cidade. Z Fatinha, .Z Minha amiginha Débora festejou seus 9 anos no domingo, com um almoço preparado pela mamãe Mara e o pai Luis Paulo Fernandes.. Eu fui lá abraçar a menina, que se divertiu muito ao lado dos primos e amigos. Parabéns, Débora! Z Cumpadi Nini Rezende, a respeito de sua última crônica, a Bugra Velha, irmã de Lady Zeferina, tem uma frase lapidar:"Onde abunda, nada falta... Z Muito líquido, alho e cebola na alimentação beterraba e cenoura, entre outros legumes, eis as dicas dos nutricionistas para aumentar a imunidade do corpo e fazer frente à gripe suína Z Um abraço para a Cabo Shirlene Aparecida de Azevedo, nesta quarta.Z Um dia cheio de palavras boas, bênçãos, paz, música e sorrisos.. Música deToquinho, poemas da gaúcha Angélica Freitas, aquela Vaca Atoladinha em caldo cheio de pimenta do reino e cebolinha, hum... e muita paz, são os meus votos. Z Au Revoir

terça-feira, 1 de setembro de 2009

DE GALINHAS AFANADAS E POESIA...

De certa feita, na Defensoria Pública Municipal, atendi a um senhor já idoso, muito humilde, que queria a interdição do filho que o acompanhava. O documento se fazia necessário porque o rapaz, com mais de 30 anos, era como uma criança. Embora não fosse agressivo, fugia de casa, desaparecia por longos períodos, e a família, composta pelo pai e uma irmã, passava por grandes aflições. O documento de interdição era necessário para uma série de atos da vida cível, inclusive busca de tratamento e internação. Verificadas as condições do rapaz, que quase não falava, pedi o competente laudo médico, e dei entrada no processo. No decorrer do mesmo, veio o pai aflito atrás de mim: o filho devia comparecer perante o juiz criminal, acusado por furto ocorrido em outra Comarca. Peguei a cópia do pedido de interdição e fomos para a oitiva. Meu cliente era acusado de ter forçado a porta de uma venda, e subtraído dois cigarros e meia garrafa de cachaça .Ao ler nos autos que o acusado após o "crime" se assentara na calçada da própria venda, onde a polícia o encontrou, o juiz foi tomado por compaixão. Perguntou ao rapaz porque fizera tal ato e ele respondeu que estava com vontade de fumar e de beber e como a venda estava fechada, ele "abrira". O magistrado recebeu a cópia da interdição, e teceu comentários sobre a situação do réu, dizendo que ele nada mais era que um pobre coitado, totalmente incapaz e que certamente deveria ter apanhado e sofrido maus-tratos pelo acontecido. Um mês depois, o pai me procurou em prantos, dizendo que eu parasse com o processo; em mais uma andança, o filho fora atropelado por um carro perto da ponte metálica sobre o Rio Doce e falecera. Do jeito que as coisas corriam, no processo criminal em outra cidade, era bem provável que meu cliente fosse condenado, pois neste país, todos nós sabemos como é a justiça:pobre leva tinta, enquanto tubarão nada na Cote d’Azur! Tudo isso me veio à mente ao receber de um amigo, um e-mail contendo uma sentença exarada pelo então juiz Ronaldo Tovani, que vou mostrar para vocês. A sentença foi traduzida até para o espanhol e logo entenderão a causa. O juiz já se aposentou. Deus lhe conceda longa vida! E vamos lá:

"Em 16 de novembro de 1987, o então juiz auxiliar da Comarca de Varginha (MG), Ronaldo Tovani, recebeu em seu gabinete um processo referente a delito ocorrido no termo judiciário de Carmo da Cachoeira, praticado por um rapaz apelidado de "Rolinha", acusado do furto de duas galinhas.
Para absolvê-lo, exarou a seguinte sentença, redigida em versos:
Poder JudiciárioComarca de VarginhaEstado de Minas GeraisAutos nº 3.069/87; CriminalAutora: Justiça PúblicaIndiciado: Alceu da Costa, vulgo "Rolinha"
Vistos, etc…

No dia cinco de outubro do ano ainda fluente,
em Carmo da Cachoeira
terra de boa gente,
ocorreu um fato inédito
que me deixou descontente.

O jovem Alceu da Costa,
conhecido por "Rolinha",
aproveitando a madrugada,
resolveu sair da linha,
subtraindo de outrem
duas saborosas galinhas.

Apanhando um saco plástico
que ali mesmo encontrou,
o agente muito esperto
escondeu o que furtou,
deixando o local do crime
da maneira como entrou.

O senhor Gabriel Osório,
homem de muito tato,
notando que havia sido
a vítima do grave ato,
procurou a autoridade
para relatar-lhe o fato.

Ante a notícia do crime,
a polícia diligente
tomou as dores de Osório
e formou seu contingente,
um cabo e dois soldados
e quem sabe até um tenente.

Assim é que o aparato
da Polícia Militar,
atendendo a ordem expressa
do delegado titular,
não pensou em outra coisa
senão em capturar.

E depois de algum trabalho
o larápio foi encontrado
num bar foi capturado.
Não esboçou reação,
sendo conduzido então
à frente do delegado.

Perguntado pelo furto
que havia cometido,
respondeu Alceu da Costa,
bastante extrovertido:
"Desde quando furto é crime
neste Brasil de bandidos?"

Ante tão forte argumento
calou-se o delegado,
mas por dever do seu cargo
o flagrante foi lavrado,
recolhendo à cadeia
aquele pobre coitado.

E hoje passado um mês
de ocorrida a prisão,
chega-me às mãos o inquérito
que me parte o coração.
Solto ou deixo preso
esse mísero ladrão?

Soltá-lo é decisão
que a nossa lei refuta,
pois todos sabem que a lei
é pra pobre, preto e puta…
Por isso peço a Deus
que norteie minha conduta.

É muito justa a lição
do pai destas Alterosas.
Não deve ficar na prisão
quem furtou duas penosas,
se lá também não estão presas
pessoas bem mais charmosas.

Desta forma é que concedo
a esse homem da simplória,
com base no CPP,
liberdade provisória,
para que volte para casa
e passe a viver na glória.

Se virar homem honesto
e sair dessa sua trilha,
permaneça em Cachoeira
ao lado de sua família,
devendo, se ao contrário,
mudar-se para Brasília!!!

P. R. I. e expeça-se o respectivo alvará de soltura.
Ronaldo Tovani –Juiz de Direito

Olhem a sabedoria do magistrado! E nada mais há a dizer!
______________________________________________

ZOOM – Abraços para Edersoni Souza, Maria Natividade Varela, Teresa Pedra, Eloer Magalhães, Divany Oliveira, Cláudio Lobato e Tânia Oliveira Terra, nesta terça. Z Outro dia, vi pela TV a um encontro entre Caetano Veloso e MV Bill, que já esteve em Ipatinga. O rapper está colocando sons de violino e saxofone em suas criações e o resultado é surpreendente. Z Abraço especial para a mestra Maria Flor de Maio, da PUC- Betim, cujo nome, deixei de citar, por engano, na última coluna. Z Sabem o que o que vai dar (ou já deu) a apuraçao da Dilma do COLINA com a secretária Lina? N-A-DA! Z Aconteceu em Salvador um mega Encontro de Contadores de Histórias, com gente do mundo todo. Não , não fui, já voltei ao serviço e além disso, o meu prezado marido vai se divorciar de mim se eu for a dois eventos no mesmo mês. Z Na crônica à Rainha Elizabeth, deixei de colocar o pedido para que ela mande comprar óculos para os agentes da Scotland Yard, afim de que enxerguem melhor e não atirem em imigrantes, como Jean Charlles, "pensando que era um terrorista"! Pois sim!Z Muito saúde e alegria para Marli e Paulo Nascimento.Z Um dia lindo e róseo, com estrelinhas douradas e chuvisco colorido, música de Caetano, poemas de Ana Cristina César, e um angu à baiana com tudo que a gente tem direito, inclusive pimenta malagueta e senso de humor pra acompanhar as politiquices do Brasil, são os meus votos.Z Au Revoir

sexta-feira, 19 de junho de 2009

RECADO DE AMOR PARA UMA CIDADE

Nena de Castro ( 28/04/2009 )
Oi, diz que me ama, que eu te levo para dar uma volta, de braços dados, por lugares lindos como o nosso amor! Diz que me ama, e eu te levo à feira do Canaã, para comprar verduras, bater um bom papo, comer pastel com caldo de cana... Diz que gosta de mim, amada, e vamos sair por aí, começaremos pelo Ipaneminha, visitando a igrejinha-museu e assistindo ao Congado. Vamos entrar na dança e bailaremos juntas, entre bandeiras, fitas coloridas e sorrisos daquele povo bom. Ah, me faz um carinho, e eu te levo ao Festival da Banana em Pedra Branca, que tal uma sopa, um licor, um doce para retemperar as energias, e depois iremos participar da cavalgada; vamos montar cavalos fortes e corajosos e cavalgar com Jair Gonçalves, José Fabrício Gomes e todos os nossos pioneiros? Certamente vou cair da sela e você vai rir e me chamar de tonta, enquanto a tarde cai, linda e perfumada... Amada, preciso ter certeza do seu amor, me diz que sou correspondida e viajarei com você pelos ventos brandos, desceremos nos antigos alojamentos do Santa Mônica, lembraremos coisas alegres e tristes e vamos ver Zélia Olguin em sua Academia, ensinando beleza e leveza de passos de balé para toda uma geração, enquanto Matias ensina lutas marciais... Diz que me ama, e te levo à Feirarte no domingo, para comer espetinho de camarão, macarrão com arroz e feijão tropeiro, jogar conversa fora e, com sorte, ver o Mistura Fina cantando Noel Rosa e Tom Jobim. Anda, amada, vem com sua saia rodada e seu cabelo de estrelas, ver o amanhecer na Tribuna, na montanha do Leão Deitado, de onde olharemos o sol e falaremos dos seus sonhos... Sim, vida minha, vamos comer as delícias do Poita e Puçá, as porções deliciosas do Bar do Jeová, na Vila Celeste, os caldos da Graça, no Caravelas, e ver de perto o povo festeiro e engajado do Festival Roda Viva, no Bom Jardim, sem esquecer a traíra desossada do Marombinha... Passeia comigo no Limoeiro, no Bethânia, no Canãa, na Vila Militar... Que tal um banho nas águas do Ribeirão Ipanema caindo em gotas cristalinas sobre nós, no Parque das Cachoeiras? Sairemos renovadas e em risos de criança peralta, vamos tomar sorvete no Veneza, comer linguiça na chapa na feira do Ipatingão, e em dia de jogo, torcer aos gritos para o Tigre, para que voltem os dias de glória! Iremos ao Bela Vista ver Yoshiko Inoue com as mãos de fada compondo Ikebanas, rir com Vera Tufic em seu restaurante no Novo Cruzeiro, e - hum! - comer aqueles quibes deliciosos... Mais tarde, vida minha, vamos passear nas lojas do Centro, vendo tudo o que mudou... No Contingente e no Vila Ipanema, vamos buscar seresta e alegria; no Ideal, veremos com os olhos da imaginação, uma apresentação da Banda Mirim da Corporação Musical Santa Cecília, em hora inspirada, sob a batuta do Maestro Oswaldo Machado, executando lindas canções. Passe comigo, amada, pela Estrada das Lavadeiras, e alcançaremos o Horto, Bom Retiro, Imbaúbas, Bairro das Águas, Cariru, Castelo, ah, quantas histórias se tem por ali! Mas não vou me esquecer de levar você ao Iguaçu, ao Cidade Nobre, ao Panorama, ao Parque das Águas, Planalto II, Morro do Escorpião, São Francisco, e ao Barra Alegre, onde tudo começou... Ah, pensou que me esqueceria da Chácara Oliveira, Chácaras Madalena, do Vale do Sol, Vista Alegre, Furquilha e Esperança? A gente vai lá, criança, ver tudo e algo mais. Diz que me ama e lhe digo que você é linda, sua grandeza sobe aos ares no torvelinho da fumaça que sai das chaminés da Usiminas, aço e raça, fogo e progresso! E no torvelinho e sonho que mistura ontem e hoje, a Maria-Fumaça chega à vilazinha e voa pelos trilhos mágicos, encontrando o progresso, ai como você é bela, menina-moça-mulher formosa, dona do meu amor para sempre! Me dê um abraço apertado, e vamos ao Parque Ipanema, rolar pela grama, tomar água de coco, encharcar a alma de beleza, ver-o-verde, a lagoa, a vida que explode em pujante beleza!Ai, amada, viaja comigo pelo seu futuro, presente e passado, num túnel do tempo mítico que subtrai as dores, acrescenta amores e compartilha alegria! Diz que me ama, e eu lhe faço um verso, lhe dou um limão-de-cheiro, um canto de sabiá, uma canção formosa, um dedo-de-prosa... Pois no seu seio me aqueço e me encontro, raio de sol, rima incontida, eu a amo, cidade querida! Feliz Aniversário, Pouso de Água Limpa, amada Ipatinga de todos nós

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A HORTA






(Nena de Castro)

06/01/2009 -

O recém-aposentado Jaruzley Barroso da Silva, apelidado de Jaru, despediu-se dos colegas da empreiteira e começou a pensar no que fazer. Não sendo homem de ficar parado, decidiu: ia finalmente limpar parte do terreno de sua casa, cheia de mato e tralhas, e fazer uma linda horta. Seus netos iam chegar daí a algum tempo, e ele pretendia ter verdura fresca e de boa qualidade para eles. Uma parte dos dois enormes lotes herdados do pai tinha ficado desocupada. Seu pai, o velho seo Domingos, gostava de animais.Tinha criado porcos, galinhas, e até abrigado um cavalo, nos velhos tempos em que Ipatinga era só uma vila, todos se conheciam e nem cerca era necessário ter. Com o passar do tempo, o bairro se modificou, novas moradias foram construídas, vieram pessoas de longe... Aí foi necessário fazer uma cerca, pois volta e meia sumia um frango, uma galinha virava sopa, um porquinho não voltava da rua... Seo Domingos foi para o céu, Jaru herdou a casa e ali viveu, com mulher e filhos, até a aposentadoria. E agora ia dar jeito naquela parte do terreno que vivia abandonada, separada da casa por uma cerquinha tosca.Tinha primeiro que limpar o local. Levantou-se cedo, bem disposto, pegou facão, foice e enxada, e começou a trabalhar: cortaria o mato, juntaria as pedras, jogaria as tralhas acumuladas no lixo, queimaria o que fosse possível... Ah, ia ser a horta mais bonita e cheia de verduras da região. Poderia talvez até fornecer para as mercearias da cidade. Foice na mão, chapéu para se proteger do sol, iniciou a limpeza. Foi então que o problema começou.O primeiro a chegar foi Tião Ranheta, que indagou o que pretendia, porque estava limpando, se ia construir... Ajudar mesmo, não ajudou, mas deu palpites intermináveis sobre o que deveria ser plantado, e como. E avisou que viria em breve buscar vagens frescas, as “bagecas” que adorava comer refogadas. Quando finalmente Tião saiu, veio Dona Mariquinha, vestida de preto como sempre, com sua inseparável sombrinha, e falou que até que enfim Jaru tinha tomado vergonha na cara, aquele pedaço de terreno cheio de mato era um perigo, podia ter escorpião, podia esconder ladrão, podia ter mosquito da dengue...E ao saber da horta, pediu que ele não se esquecesse de plantar quiabos, adubando bem, pois toda semana ela viria colher. Seo Ladislau pediu pra plantar capiçoba. Zé Tainha solicitou um canteiro de almeirão. Dona Pequetita pediu um canteiro de ervas curativas. Lilica queria chicória. Donana Furinbundana avisou que dali a alguns meses ia casar a filha Verocinda com Zeca Timbó e precisava de muito cheiro verde; Nélrio Bastos, metido como sempre, queria escarola; José Lenine da Silva avisou ao companheiro que deveria plantar frutas que atendessem à coletividade, Chico Sarmento sugeriu uma parreira, era seu sonho desde criança e sua mulher Dandinha, usaria as folhas para fazer charuto de arroz; Rita Lina pediu um pé de maracujá, Iaiá Gomes avisou pra não colocar pesticida nos tomates, pois ela só comia coisas orgânicas; Zelão da Pinga mandou plantar boldo, Tuca Zimbão pediu pé de arruda e comigo-ninguém-pode, Giena Calamares exigiu repolho roxo, cenoura mirim e pepino grosso; Zoca Antero pediu certos afrodisíacos...O fato é que, pelo meio-dia, Jaru, suado e cansado, já estava com o respectivo cheio. Ninguém se oferecera para tirar um graveto, mas todos já estavam praticamente comendo a sua futura horta. E dando mais e mais palpites. Após o almoço, retomou o serviço. E começou a avisar a quem passava que só iria plantar pimenta, pensando que o pessoal o deixaria em paz. Errou feio. Parecia que ninguém tinha o que fazer. As sugestões começaram com seo Titino: pimenta, só podia ser malagueta. Jaru teve vontade de mandar o velho para a-pata-que-o-pôs, mas se conteve. Cerrou os dentes e, no decorrer da tarde, enquanto capinava seu quintal, ouviu palpites e pedidos de que plantasse pimenta dedo-de-moça, barba de bode, do reino, síria, rosa, calabresa, cumari, caiena...Mas a coisa desandou mesmo foi com a visita do ‘capo’ Zicão da Baixada, que chegou devagar, a camisa aberta no peito, exibindo um cordão grosso de ouro, olhou para um lado e outro, e começou a propor sociedade a Jaru num certo tipo de plantas que deveriam ficar no meio das verduras, em canteiros especiais. Ele forneceria as mudas, custearia o muro bem alto, colocaria cães bravos no local, deixaria um homem para afastar os curiosos... Era lucro certo e o dono do terreno teria uma boa porcentagem. Para finalizar a história, a vizinhança não entendeu nada quando, no dia seguinte, encontrou Jaru cimentando o pedaço de terra. E nosso herói, quando ouve alguém falar de horta, disfarça e muda de assunto, falando da má fase do Ipatinga FC. Que há de passar, se Deus quiser.

GOURMANDIZES

(Nena de Castro)

Os ricos comem caviar,
Crepe Suzzete e lagostim
com champagne.
Contudo, nunca provaram
o ensopado de inhame
feito pela mui digna D. Inês,
que vem a ser
a senhora minha mãe.

caldinho fumegante ,
cheirando a cebolinha
e pimenta do reino,
misturado ao arroz e feijão
cozidos em banha de porco
na panela de ferro
no fogão a lenha.
Hum...

Grande chef de cuisine,
Sabedora das mineirices culinárias
cujos sabores e mistérios
se escondem
no santuário
das montanhas de Minas,
mamãe cozinhava e nos enlevava.
Tempo bom!

Quanto aos ricos, bem,
Eles têm chefs franceses
salmon, salada Waldorf,
mas o caldo de inhame
feito por mamãe,
ascendia aos céus
e nos sustentava o corpo e a alma...

Pobres ricos!
tenho tanta pena,
que nem vou falar
no mingau de fubá
com couve rasgada,
na pamonha temperada
com pimenta malagueta
cozida na folha de banana,
e na galinha recheada pelo fiofó,
costurada bem cheinha
de farofa de miúdos,
que eles nunca haverão de provar,
ò dó!



CARTA PARA IL SIGNORE BERLUSCONI

27/01/2009 -
(Nena de Castro)

Excelentíssimo, ilustríssimo e tudo quanto é íssimo 1º Ministro da Itália, Sílvio Berlusconi

Eccellenza, buon giorno!

Grazie por receber esta missiva. Aqui quem escreve é uma velhinha da plebe ignara brasileira, uma macróbia pertencente à patuléia, à choldra, e que reside por entre as montanhas de Minas Gerais. Ocorre que, tendo lavorado incessantemente durante toda a minha existência, ando meio desacorçoada; veja o signore, ainda pequena, já carregava a vasilha de leite e o balaio com esterco para mamãe adubar nossas couves e taiobas. Tangi boi no engenho para o fabrico de rapadura, soquei café em coco no pilão, para meu pai avaliar a qualidade e, por ser caçula, tinha de colocar água e comida para os porcos. Fui também atendente e caixa na padaria de meu pai, e após fazer o Curso Normal, lavorei, lavorei e lavorei como professora e ainda lavoro. Allora, io e mio esposo resolvemo nos separar, e fomos contar nossos bens: três filhos, um "cachorro coxo" que não "se chama Caxambu", e uma sabiá que não paga aluguel, a Gertrud; um carro da era de Matusalém, um sofá velho, meia dúzia de pratos, três conchas, 3 garfos e duas colheres... Per favore, scusa estar falando do pouco que tenho, ma noi duo desistimo da separacion, ia dar molto trabalho por niente. Ma Eccellenza, porca miséria, quem me dera ser parte daquele divórcio do casal de políticos que possui 145 fazendas, ilhas, aviões, helicóptero, apartamentos em Roma, Paris, poços de petróleo... Va bene, fare o che, continuo casada com mio marido. Ma, Signore Berlusconi, o principal assunto de minha carta é scusarme em nome de meu paese por ter dado asilo ao signore Battisti; coitado, ele é inocente, cometeu só uns crimezinhos de nada, e merece ser acolhido neste paese generoso. Eccellenza, da cabeça desta velhinha veio a solução para impedir la guerra entre as duas nações: Signore, ficamos com Battisti e, em troca, por justiça, lhe enviamos um rapaz ótimo, chamado Fernandinho Beira-Mar! Que tal? Esta velhinha é um gênio e outras coisas que a modéstia impede de dizer! Che sorte a do signore Battisti ser italiano e não cubano, né, senão aí a jiripoca chiava pro lado dele. Signore Berlusconi, além de Fernandinho Beira-mar, io lhe ofereço de presente uma estrada régia, belíssima, sem buracos, sem mortes, chamada BR-381, perfeita para o signore passear quando vier ao Brasil. Eccellenza, vindo à minha terra, interceda por mim, para ver se consigo inscrever meu cãozinho, o Kid, no Programa Bolsa-Família, per favore. Um cidadão honesto conseguiu inscrever seu gatinho, de nome Billy da Silva Rosa, ma, perche io non posso inscrever o Kid Vieira da Silva Castro no programa? Scusi, ma penso que, na verdade, Kid, que tem a bacia quebrada e é manco, devia mesmo é ser aposentado por invalidez, capisce? Signore, algum dia irei ao seu paese, pois sei que V. Eccellenza é um homem probo, de fala comedida, que admira as pessoas "queimadinhas de sol" e zela pela moral e bons costumes. Aliás, aplaudi muitíssimo quando mandou cobrir aquele seio de uma obra de arte que ficava atrás de sua mesa de trabalho. É vero, Eccellenza, fiquei emocionada com vossa iniciativa e, quando estiver aí, permita-me cobrir as partes daquela estátua de Davi, feita por um tal Michelângelo Buonarotti, ma que indecenza, as partes do bem dotado rapaz estão todas expostas! Mamma mia, vou cobri-lo, em nome da TFM e de todas las instituiciones que velam pela moral neste mondo perdido. Augurando-lhe felicitá com a troca de Batttisti por Fernandinho Beira-mar, despeço-me.
Grazie per tutti, Dio te benigne, arrivederci.
Sua extremosa amica
Zefa da Furquia

terça-feira, 7 de abril de 2009

GERTRUD ESTÁ DE LUTO...


Gertrud, minha sabiá, canta do jardim me chamando. Pelo seu canto percebo que está impaciente e zangada. Chego até à janela.- Olá, Gertrud! Como vão as coisas?- Até que enfim! Não tenho o dia inteiro!- Nem eu, Gertrrud. Estou escrevendo minha crônica. Aliás, você podia me explicar o que fazia sexta-feira, perto da Prefeitura? Não disfarce, eu a vi lá; você fingiu que não não era com você, mas eu vi, amiga!Gertrud dá uns pulinhos no galho da escumilha, se ajeita em um pé, procura uma posição melhor... Está inquieta e realmente zangada:- Olha aqui, posso voar e ir para onde eu quiser, sou um pássaro! Não sou limitada como os seres humanos, nem tenho excesso de peso como certas pessoas com quem convivo!- Sem ofensas, Gertrud, o meu peso não é da sua conta. Mas você ainda não me respondeu: o que fazia por lá?- Bom - diz a avezinha, mudando de galho -, eu fui lá saber das novidades. Afinal, quem vai ser o prefeito de Ipatinga? Estou receosa de uma reedição do drama tragicômico de Timóteo. E nesse caso, a cidade pára, e o povo sofre!- Gertrud, não vou discutir isso com você, é cedo pra gente se arriscar em prognósticos. Vamos aguardar, digo em tom conciliador.Ela nem me ouve e dispara: - E aquele absurdo da condenação do casal Nunes, de Timóteo, que quer educar seus filhos em casa e está levando o maior ferro nos Tribunais? Meu Deus: alguém, por favor, tire a “venda da Justiça” no tocante ao caso dos irmãos Jônatas e Davi Nunes que os pais querem educar em casa! Logo nesse país, com tantas crianças e adolescentes nas ruas, com o péssimo nível de ensino que temos, que nos deixa nos últimos lugares entre os países no quesito qualidade de educação, parece brincadeira!- Gertrud, você hoje está impossível! Veja se me deixa em paz, estou tentando escrever sobre um poema de Álvares de Azevedo, dá um tempo, amiga!- Muy amiga, nem quer me ouvir hoje! Você parece traça de livro, sempre rodeada por essa papelada!- Ué, Gertrud, pensei que gostasse de livros, de poesia, de ler... Vive me citando trechos de lindos poemas, de romances... - Gosto sim, mas hoje não quero saber de nada!- Mas o que foi, criatura, por que você está soltando fogo pelas ventas?- É por causa do meu parente, o Pixarro, lá em Itapira, em S. Paulo! Coitado, que morte inglória! Além de viver no cativeiro, foi roubado, e colocado na cueca do ladrão! Morreu sufocado, por falta de ar e pelo calor daquela “coisa horrorosa”. Pobrezinho! Se ainda tivesse sido apanhado por um gavião, mas não, foi enfiado lá junto das “partes” do desalmado! Acabou indo desta para melhor, de uma forma tão absurda tão... kafkiana! – disse, enxugando as lágrimas!- Gertrud, eu... - Fiquei sem saber o que dizer. A sabiá alçou voo e se foi. Ainda pude ouvir sua voz:- Também, num país em que o presidente vai tentar explicar a crise econômica, com o estado de um doente e fala “sifu”, numa declaração, o que se pode esperar? E alçou vôo e foi embora... Pobre Gertrud, pobre trinca-ferro, ai de nós...

POESIA SEMPRE

COGITO
(Torquato Neto)
eu sou como eu sou
pronomepessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível
eu sou como eu sou
agora sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim
eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.