terça-feira, 13 de outubro de 2009

O AZAR DO PRINCIPIANTE

Zeadão era até um rapaz bem apessoado. Mas desde menino tinha um defeito: era sempre o sabe-tudo, era ele quem sempre dava a palavra final em qualquer assunto. Se alguém iniciava um papo, Zeadão entrava no meio, falando, ensinando, monopolizando as atenções. Não teria problema, se as suas opiniões fossem estribadas em conhecimento. Mas ocorria que , desde que aprendera a falar, descobrira que precisava de auditório, tinha necessidade de alardear seus feitos e através de palavras escolhidas, levava a verdade para onde queria, em manipulação desavergonhada. Seria o caso de fazer carreira na política nacional, quem sabe, chegar ao Senado, mas morando em uma pequena cidade, o máximo que conseguiu foi afastar de si algumas pessoas, que enxergavam nele o que era: fraco, mentiroso e fanfarrão. O rapaz até arranjava namorada, mas a moça logo se cansava de ouvir lorotas e passar vergonha na festas, onde o nosso herói ensinava de tudo, desde conserto de carros, (embora não tivesse um) à melhor maneira de espremer furúnculo e como proceder para caçar tatu e viado... Bom, um belo dia, Zeadão decidiu que ia ser fotógrafo. Era a profissão ideal, pois seria visto por todos, estaria em todas as festas e ganharia uns caraminguás para as despesas. Zeadão arranjou uma Kodak antiga e começou a fotografar as pessoas, as paisagens, os animais. Continuava um chato de galochas, mas as pessoas se conformavam, pelo menos enquanto fotografava, estava ocupado, o que livrava os ouvidos alheios de explicações sobre como os astronautas se livravam de dejetos no espaço ou como o alpinista se sentia ao escalar o Himalaia. Pois é, depois de um certo tempo, o rapaz conseguiu realizar o sonho de adquirir uma máquina fotográfica profissional. E treinava, esperando ansiosamente o momento de cobrir uma solenidade, uma festa, e inaugurar uma carreira promissora de fotógrafo que talvez fosse até para o exterior, fotografar as estrelas de Hollywood! E o Zeadão, em seus delírios megalomaníacos, sonhava com a glória e a fama, embora ainda não tivesse cliente nem para foto três por quatro. Mas aí, a roda do destino girou e tudo parecia sorrir para Zeadão: haveria um casamento na cidade vizinha, era a filha do prefeito que ia contrair núpcias, o fotógrafo adoecera e alguém se lembrara do nosso herói. Feliz da vida, Zeadão se vestiu com apuro, calça jeans nova, camisa xadrez, sapatos engraxados e foi à luta. Chegou á igreja e se colocou orgulhosamente na entrada, para fotografar a chegada do noivo, da noiva, dos convidados... Aí sentiu a primeira pontada na barriga. Ah, não que coisa, não podia se afastar dali, ou perderia os lances do seu primeiro trabalho. Bem que sua mãe lhe dissera para não tomar aquele caldo de mocotó quente e gorduroso, mas ele teimara. A dor na barriga aumentou. O fotógrafo suava. Rindo amarelo, começou a fotografar, o noivo entrava na igreja, a noiva chegava no Ford do pai, todos vestidos com aprumo. Tinha que ir ao banheiro, mas não queria perder nada do seu primeiro trabalho. Decidiu fotografar a entrada da noiva, e depois procurar um local para se aliviar.
E aí aconteceu: a coisa desceu de vez, e ele sem-graça, percebeu que havia sujado as calças. Apavorado, com medo de que as pessoas percebessem, saiu pela porta lateral e foi para o fundo da igreja. Alcançou a sacristia, e procurou o banheiro. Descobriu que estava trancado. Desesperado, procurou um pano para se limpar. Aí avistou a alva, aquela veste branca que o padre usa para celebrações. Arrancou a veste do cabide e enfiou-a na parte traseira da calça, limpando como podia, freneticamente, pois a celebração já havia começado. Atirou a peça atrás da porta e voltou à igreja, reiniciando o trabalho. As pessoas viravam a cabeça, incomodadas pelo cheiro horrível. Tentando não chegar muito perto, Zeadão tirou mais fotos até a saída da noiva e ao invés de ir para a festa, sumiu no mapa. Dizem que foi para o Rio de Janeiro e se juntou a um circo. Se parou de contar vantagens, eu não sei. Mas nunca mais tomou caldo de mocotó quente. Em se tratando de trabalho, sabe que é perigoso, muito perigoso... E nada mais digo.

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plenilúnio
( Gabriel Bicalho)
pelos becos
gatos catam
migalhas
de estrelas

prateadas sombras
se locomovem
no solene silêncio
da pobreza nas ruas

marquise estreita:
alguém se deita
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ZOOM -Então é no Rio de Janeiro, onde a população de menor poder aquisitivo pena com a violência e a falta de transporte decente, que vai acontecer a Olimpíada? Sei... Z Abraços para Nilmar Lage, Jaque Gabriel, Tom e sua mãe Isabel, Z Gente, palavrão em livro dIdático é coisa inadmissível! Que irresponsabilidade da parte de quem indicou tais livros, e pior ainda, da Secretaria de Educação, que os colocou nas escolas mineiras. Eu, hein! Z Meu amigo Rubem Leite me leu um conto lindo, por telefone. Tinha acabado de escrever e resolveu compartilhar comigo! Uau, muito bonito e instigante! Z Coitado do Barack Obama; esse Prêmio Nobel da Paz vai ser sacudido no nariz dele toda vez que tiver que tomar uma atitude para defender o ImpérioZ Um abraço especialíssimo para Olga, Juliana, Clérie Simone, Aparecida, Madalena, Irlaine, Wilson, Ana Paula, Amélia, Júlio, Marilza, Niuza, professoras da Escola Municipal Hermes de Oliveira Barbosa de Pedra Branca, onde contei histórias pelo Dia da Criança. Foi muito bom! Z Você ainda tem tempo para participar da Jornada de Literatura do CLESI. As inscrições foram prorrogadas, por causa da greve dos Correios, até 15 de outubro Boa sorte! Z Aquele rapaz de dois metros foi passar o feriado na Oktoberfest, em Santa Catarina.. Vidão! Z Um dia cheio de bênçãos, com poemas de Machado de Assis e som de Nana Caymmi. Um risoto de galinha, bem colorido e apimentado, caldo de cana e pudim de pão, e muita saúde para enfrentar as rebordosas, são os meus votos. Z Au Revoir