quinta-feira, 10 de julho de 2008

ATÉ QUANDO???????????



Meu amigo Bill, cara cabeça-feita, sabedor das coisas, pastor do GRITO, comunidade evangélica, escreveu um poema sobre a nossa última desgraça urbana! Eu gostei nuito e mostro prá vocês. Nena.



O garoto João Roberto só tinha 3 anos

. E o garoto João Hélio quantos tinha?

Foram quantos tiros em quantos dias?

Quantos mortos e quanta covardia!

Quem puxou o gatilho,Quanta injustiça!

"Moramos em um pais do faz de conta"

Faz de conta que vão fazer alguma coisa

Faz de conta que alguma coisa funciona

Somos agora todos vítimas

Por que o sistema faz suas vítimas todos os dias

Transforma-nos em idiotas, consumidores e corruptos

Quantos gorotos ainda irão morrer numa cidade "linda"?

Os que entram para o tráfico e os que saem para comprar

Os que tentam nos "defender"

E aqueles que nos irão roubar!

Joaquim Tiago / bill – Mais uma vez indignado com tanta impunidade, julho/2008

terça-feira, 8 de julho de 2008

LEMBRANDO, CHORANDO, RINDO...

Flor de Amendoeira -Van Gogh


08/07/2008

In memorian

Domingo na Feirarte. Eu, com meu companheiro, mais Tati e minhas duas filhas do coração, Thaynara e Débora, fomos lá. Tira-gostos, o conjunto Rádio Pirata cantando, um grupo de hippies que passa pela cidade, vendendo seus colares e fazendo malabares, gente feliz namorando ou conversando... Na hora de ir embora, fiquei esperando o pessoal no carro, estacionado em um local que me permitia inteira visão do ipê roxo que floresceu ao lado do Fórum. O espetáculo dos buquês de flores roxas me adoece de beleza. O sol de inverno ilumina a cena: o ipê reina, absoluto, parece mãe que deu à luz a suas filhas-flores e as exibe com ternura e graça. E para complementar o instante, percebo um beija-flor que brinca, em volteios graciosos, sugando o mel das flores, em delicado e delicioso balé. Ouvindo o som dos rapazes ao longe, vendo um esforçado lavador de carros ganhando seus trocados, percebendo a movimentação na Feira, guardei em minhas retinas aquele belíssimo quadro. Dediquei a luz daquele instante à memória da Juíza Valéria Vieira Alves, ela própria, dona de um coração generoso e uma alma linda como o ipê carregadinho de amor.
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Sim, sim, eu confesso, aos meus leitores e leitoras, hoje não estou de bom humor. Não, não são as dores, a Dasdor aqui é forte e tolera os ossos bichados, como diz o filho Tiago. Um dia dói, no outro mais ainda, mas vou lutando com a bursite trocantérica no quadril direito, a paratendinite nos pés, afora os esporões, etc, etc, fazer o quê, ces’t la vie... Talvez seja por ter assistido o filme de Helvécio Ratton, que conta a prisão de frei Beto e outros dominicanos, na época da ditadura! O martírio de frei Tito que perdeu a razão pela tortura e se suicidou em Paris, dói até hoje! Agora, o pior mesmo foi rever aquele nefando delegado Fleury, vivido por Cássio Gabus Mendes! O filme evoca um tempo de muito medo, muito sangue, muitos absurdos, que a gente quer esquecer, mas sabe que não deve, para servir de lição e lembrança de que ditaduras, de esquerda, direita, ou de que lado for, não devem existir, o cerne da vida tem que ser baseada na democracia, liberdade, hoje e sempre “abra as asas sobre nós”! Talvez minha tristeza seja porque fui visitar pessoa amiga no hospital, e Deus me perdoe, eu não me conformo em ver aquelas pessoas pelos corredores, ou em colchões pelo chão, é isso aí, pague impostos escorchantes, pague em dia, não sonegue nenhum, meu filho e, quando precisar de tratamento, você, com muita sorte, vai ter direito a um cantinho no chão, porca miséria, isso se seus filhos recém-nascidos não tiverem a desdita de ir para uma maternidade como a de Belém, e serem condenados à morte, por infecção generalizada causada pela superlotação! Ai, isso dói, Brasil! Espero ainda aprender a votar, espero sim! E você?

Quiabada

A gente é assim, ora fica triste, ora se enfurece, ora ri... Quando eu tinha lá meus nove anos, certa manhã, por uma emergência, para acudir alguém, mamãe precisou sair. As irmãs mais velhas não estavam, e dona Inês me encarregou de finalizar o almoço que já havia começado. Arroz pronto, feijão refogado, carne cozida com aquele caldo cheiroso, era só cortar o quiabo, refogá-lo para cortar a baba e jogar no caldo, finalizando com pimenta-do-reino e cheiro-verde. Eu conhecia a rotina: lavar muito bem os quiabos, colocar sobre um pano para tirar a água e proceder como mamãe fazia. Só que, por sonseira, após cortar o legume, percebi que tinha esquecido de lavar antes. Mamãe era muito exigente com o asseio e eu apertada, resolvi lavar o quiabo, só que depois de cortado! Gente, aquilo virou um grumo, não tinha jeito de separar, e ao perceber que mamãe estava chegando, joguei tudo no caldo, sem refogar. Claro que virou um troço grudento, cheio de baba, mamãe perguntou se eu havia refogado, eu falei que sim e me escafedi, saindo rapidamente para voltar ao meu dever de casa e todo mundo reclamou da comida naquele dia! Lembrei disso ao saber que há a possibilidade de Cacciolla, aquele banqueiro que deu tombo em todo mundo, ser extraditado de Mônaco, para o Brasil. Na prisão do principado, segundo noticiou há tempos a revista Veja, há até chef de cuisinne para preparar a refeição dos presos. Agora, se o homem vier mesmo para o Brasil, e for para a cadeia como um preso comum, sem privilégios, com certeza vai comer uns ranguinhos bem piores do que a quiabada da minha infância.

Azar

Lourdes Maria, uma moça que conheci em uma cidadezinha, do interior sempre foi um exemplo. Boa filha, boa profissional, era muito estimada onde vivia. Solteira, cuidava da mãe com solicitude e dos parentes com rara dedicação. Trabalhava no Fórum da cidade, com dedicação e afinco, e era muito elogiada pela excelência do serviço que prestava à comunidade. Enfim, a vida seguia seu curso, até que o juiz, chefe de Lourdes, foi removido para a capital. Para seu lugar veio um juiz novo, bem apessoado, mas muito sério, e o pessoal da secretaria ficava se perguntando como seria o relacionamento com ele. Os dias foram passando, todos tentando se adaptar, e os funcionários descobriram que daí a alguns dias seria aniversário do novo chefe. Prepararam uma festa-surpresa, com bolo, docinhos e salgados, e cada um comprou uma lembrança para o aniversariante. Lourdes escolheu uma gravata de muito bom gosto, e aproveitando a oportunidade, comprou uma peça íntima para o chá-de-panela de sua amiga Cilene. Ninguém entendeu nada. Na hora das festas, Cilene ficou sem entender, porque ganhara uma gravata. E o juiz, atendendo aos gritos de abre! abre! ficou totalmente desconcertado ao encontrar uma calcinha de renda preta! A pobre Lourdes quase desmaiou de vergonha, e pediu transferência para outra Comarca! Azares da vida!...

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Causos de um mês malafamado

Dizem que abril é o mês da mentira. Dizem. O pobre mês ficou assim malafamado por causa do dia primeiro, que alguém convencionou ser o dia da ausência da verdade. Ignorando que a brincadeira é alusiva só à data específica, alguns políticos brasileiros mentem todos os dias, todos os meses e mais mentiriam se mais dias e meses tivessem para tal. E tão besta sempre foi considerado o início do mês citado, que, em 1964, como o 1º de abril sucede naturalmente o 31 de março, alguns desavisados acharam que era brincadeira a tal revolução, alguma treta, malhação de Judas, pegadinha e outros que tais, até que os Urutus começaram a rodar, soldados armados começaram a prender pessoas, a jiripoca piou e esse foi o Dia da Mentira mais sem-graça e trágico da história do Brasil. Eu militava no movimento estudantil da minha terra natal e fui depor duas vezes, uma por causa de uns panfletos e outro por causa de um derrame de carteiras estudantis falsas, fatos com os quais nada tínhamos a ver, mas não fui presa, Deus seja louvado! Se tivesse ido pra prisão, hoje estaria aí, com cartão corporativo na mão, podia ser tia do PAC ou ter parente com cueca mágica cheia de dólares ou coisa parecida. Ainda bem que sou uma simples professora, vivo modestamente do meu trabalho, e Pasárgada pra mim, ainda é a terra mágica, o reino imaginário de Manuel Bandeira, para onde se pode ir e ser feliz! O fato é que algumas pessoas são tão mentirosas, mas tão mentirosas, que ninguém lhes dá crédito quando porventura falam a verdade. Dizem que há muitos anos atrás, ali, nos arredores de São Cândido, tinha um tal Zé Mucinho, que era um mentiroso de marca maior. Desde novo, todo dia mentia para os irmãos, provocava problemas entre os agregados da fazenda da família e, apesar de ter levado umas correiadas do pai e da mãe, não tinha jeito. Quanto mais velho, piores eram as suas invencionices! De certa feita, chegou a galope numa fazenda vizinha e anunciou que a igrejinha da vila tinha pegado fogo! Saiu todo mundo correndo e, ao chegar ao vilarejo, encontraram a igreja sendo arrumada para os festejos da padroeira. O Zé ria a valer, e não se importava com os xingos que recebia. Uma vez, Zé chegou afobado a cavalo, na fazenda do Coronel Aroeira, anunciando que suas melhores vacas, que estavam aos cuidados de um peão, tinham caído num atoleiro. O fazendeiro juntou a peãozada, correu para o local a umas duas léguas da fazenda e, chegando lá, encontrou as vaquinhas pastando o capim verde e macio, mugindo felizes... O Coronel Aroeira ameaçou dar uma surra de cipó-imbé no Zé Mucinho, ou um tiro nos pés, para que parasse de andar para amolar os outros com suas brincadeiras mentirosas. O rapaz foi enviado para a casa de uns tios em Caratinga, onde aprontou muitas. Passado certo tempo, voltou a São Cândido e recomeçou com suas mentiras, só que ninguém lhe dava mais trela. E a vida continuava... Um dia, na boquinha da noite, o pessoal da vila ouviu um galope; lá vinha Zé Mucinho esporeando o cavalo, agitando o chapéu, esbaforido. Freou o animal, encarou o pessoal, sodou a todos e começou a chorar. – “Gente, minha mãe morreu! Ai meu Deus, foi assim de repente, depois da janta, ela deu um gemido e já caiu morta, lá em casa tá o maior desespero! Eu tô indo na casa do Joaquim Coveiro, encomendar o caixão, e vou avisar os parentes que moram no sítio do outro lado!” E chorando muito, esporeou a montaria e saiu a galope! O pessoal ficou consternado. Como é que dona Maricota podia estar morta, assim tão de repente? Estava tão boa na reza do domingo! Alguém chegou a pensar na natureza mentirosa do Zé, mas não falou nada, mãe é uma coisa sagrada, quem é que brincaria com isso? O jeito era pegar os rosários e ir para o sítio velar a pobre defunta, mulher caridosa e cheia de amigos e afilhados. Organizaram-se, uns foram de carroça, outros a cavalo, outros a pé. Caminhavam juntos, a noite estava escura, ainda bem que conheciam o caminho. Afinal, chegaram à casa da fazenda, que tinha um velho portão de madeira com um caminho que dava acesso à varanda, o qual era margeado por pés de rosa branca e folhagens diversas. Tudo escuro, fechado, o portão com a tramela trancado... Os cachorros começaram a rosnar e latir. - Ô de casa, ô cumpadre Totonho! - chamou o farmacêutico - somos nós, da vila! Abre a porta! Após um tempo, ouviram o ruído da porta velha, rangendo ao ser aberta. Passos pela varanda, pelo caminho da entrada... De repente, a taramela do portão foi movida e apareceu, vestindo uma longa camisola branca, cabelo solto e com uma vela na mão, a própria dona Maricota! O pessoal gritou de pavor! A cachorrada do sítio latiu mais alto! Correu gente pra todo lado! Sinhana Faria, das quitandas, coitada, caiu no chiqueiro! Seu Manezinho e dona Izildinha, rolaram barranco abaixo! Zoca Cardoso pisou num cachorro e levou uma mordida! Juca Ciriaco se atracou com Jona Filipo, ambos querendo entrar no mesmo local, a beata Ermita Cação, escorregou, caiu de boca no chão, e a saia subiu até a cabeça mostrando as pernas secas e as outras partes; Bastiana Girimum rasgou a saia e as pernas no espinheiro; Titão Farofa subiu no pé de laranja, ignorando os espinhos, João Cirineu caiu do cavalo e foi arrastado. O resto da família de dona Maricota saiu, seu Totonho trouxe a carabina, todos gritavam, os visitantes de pavor e os sitiantes de susto! Depois de muita confusão e de dona Maricota garantir que estava viva e não era assombração, o pessoal entrou para se lavar, cuidar dos ferimentos, tirar os espinhos... E desta vez, Zé Mucinho tomou a merecida surra de cipó-imbé. E foi expulso de casa. Dizem.

ZOOM- Gente, sodou e malafamado é linguagem do nosso povo interiorano. O correto é saudou e mal-afamado, ok? - Uma semana feliz, com esperanças róseas, orações para se ter sossego em vez de violência, com sopa de banana verde com costelinha e pudim de banana do Festival de Pedra Branca, músicas de Chico Buarque na voz de Valéria Altoé e Cida D’Angelis, amor e paaz, são os meus votos. - Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail: nenadecastro@yahoo.com.br Au Revoir.