terça-feira, 2 de dezembro de 2008

DE SARAMAGO,enchentes e rosas...


Nena de Castro - MACUNADRU

O escritor português José Saramago não acredita em Deus. Direito dele. Cada um escolhe em que acreditar... Deus está em tudo, e a prova se faz no nosso dia-a-dia, na contemplação de tudo que existe. Ruinzinhos mesmos somos nós, que destruímos metafórica e literalmente a beleza da Criação, e cavamos nossa própria sepultura. Deus é a realidade mais tocante e verdadeira para quem crê, independente de rótulos, religiões e códigos... Eu creio nEle, mas eu não sou Saramago. O brilhante jornalista, poeta, roteirista, dramaturgo e escritor foi agraciado com o prêmio Nobel de Literatura de 1988. A ele devemos o efetivo reconhecimento internacional da prosa em Língua Portuguesa. Saramago maneja as palavras como se tivesse uma relação incestuosa com elas; num brilhantismo total, as palavras são suas filhas, são suas irmãs, suas servas, espada e corcel e por que não? suas doces amantes.. . Sara-Mago é, como diz seu nome, um curandeiro, um mágico que nos salva da monotonia, e da obscuridade, entrecruzando as palavras com maestria e nos proporcionando um prazer estético sem limites. Certamente meus leitores e leitoras sabem de seu livro "Ensaio sobre a Cegueira", que deu origem ao filme de mesmo nome dirigido pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles. Já "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" lhe rendeu muitas polêmicas, principalmente com o Vaticano, que por ocasião do Nobel, fez sérias críticas pelo prêmio "ter sido concedido a um comunista..." Bom, o mágico esteve no Brasil semana passada, lançando seu novo livro e participando de um debate pelos 50 anos da Ilustrada , que vem a ser o caderno cultural da "Folha de S. Paulo. Com a clareza e inteligência de sempre, discorreu sobre a nossa má postura diante da vida. Afirmou, peremptoriamente, "que a humanidade não merece a vida, que a história é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz . Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras – no plano público e privado." E continua o escritor: Por que teria que mudar minha concepção de Deus após a doença? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não quero ofender ninguém, mas Deus simplesmente não existe." E por aí afora foi o "encantador de palavras", numa palestra concorridíssima, cujo resumo li com veneração e respeito. Só que, data maxima venia, desculpando-me pela minha pequenez, pela minha ignorância, pois afinal não passo de aprendiz de escriba, jia–cururu espiando os grandes astros do Olimpo dos escritores, eu discordo de SARA-MAGO quanto a Deus ter se esquecido de Santa Catarina, ou da África, onde tantos morrem de fome, ou dos povos em eterno conflito no Oriente. Quem provocou a tragédia de Santa Catarina não foi o Criador e sim, o próprio homem. Para começar, a Defesa Civil de lá sequer tinha listadas as áreas passíveis de inundação. O solo argiloso, a declividade das encostas, os desmatamentos, as ocupações desordenadas, e outros que tais, ignorados pelas autoridades que só se movimentam (e às vezes com muita lentidão) depois das tragédias, deu no que deu: centenas de vidas preciosas perdidas. Ah, não venham culpar Deus por isso! Contudo, louve-se a solidariedade do nosso povo! O brasileiro, para nosso orgulho, tem a generosidade no coração! A propósito, as declarações do gênio das letras portuguesas trouxeram-me à memoria um fato de abril de 1961: o russo Yuri Gagarin, a bordo da nave Vostok I, realizou a incrível façanha de fazer a primeira volta completa em órbita ao redor da Terra. Declarou primeiro a frase que fez a delícia dos poetas "a Terra é azul." Depois, seguindo certamente as tendências ideológicas de seu governo, afirmou: "estive no céu e não vi Deus." Tal assertiva teve grande repercussão na época. Uns acharam ótimo, outros se indignaram, mas a melhor resposta foi dada por um religioso norte-americano, cujo nome não me lembro, em um artigo de famoso jornal: "Meu caro Gagarin: você declarou que esteve no céu e não viu Deus. Pois eu lhe digo que não viu porque não quis. Era só tirar o equipamento e dar um passo para fora da nave..." Pois é, louvando o saber, o brilhantismo, o domínio das letras, a inteligência de SARA-MAGO, a jia-cururu aqui torce para que ele possa conhecer Deus, ainda antes de sair da nave-Terra....
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VIVER E FESTEJAR!
Era uma manhã de sexta feira cinzenta. Que de repente ficou iluminada, com a presença de duas pessoas excepcionais: meu amigo Beto Souto e sua amada, Célia Garcia de Moraes. Traziam sorrisos, e ele nas mãos, uma linda orquídea. Era a flor pelo meu aniversário, que ele me oferece todos os anos. Ia me entregar no dia 31 de outubro, durante o evento literário que a professora Célia faz com seus alunos, no Colégio Assedipa, já em sua 6ª edição. E que neste ano homenageou poetas da região. Eu tive a felicidade de ser uma das escolhidas, apesar de ser uma poeta incipiente, e uma cronista que tecla e mal, umas croniquetas que são toleradas pelos meus leitores e leitoras. No entanto, tinha um outro compromisso literário, agendado previamente e não pude participar da linda festa. Depois, fiquei uns dias "de bode" por causa de ites e oses e eles deixaram para me entregar a flor quando pudessem me encontrar. Que bom, já dizia o poeta "todo dia é dia de viver". E de festejar. Além disso, recebi um dos meus poemas, Enigma, em forma de banner, feito pelos alunos da professora Célia. Fiquei grata e comovida. Beto, professor de História, já aposentado, um caráter excepcional, ama as rosas. Tem dezenas de roseiras no seu jardim. E ama Vinícius de Moraes. E ama sobretudo, a professora Célia, que corresponde ao seu amor, e também, ama Vinícius, a Língua Portuguesa, a Literatura, e o trabalho que faz, plantando beleza na mente de seus alunos. E eu tenho a maior alegria de conhecer s dois. E nada mais digo!

POESIA SEMPRE

EU LUMINOSO NÃO SOU
(José Saramago)

Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d’água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.








sexta-feira, 21 de novembro de 2008

POESIA SEMPRE

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO foi um poeta português, amigo de Fernando Pessoa. Foi a Fernando que ele dirigiu sua última carta, antes do suícídio. Observe a beleza triste do poema onde o poeta parece preso à fatalidade. Ele"quase" alcança seu desejo, mas este está sempre além...

QUASE
Mário de Sá-Carneiro


Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...

Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

MANUEL DE BARROS, MEU POETA

Seis ou treze coisas que aprendi sozinho


Gravata de urubu não tem cor.
Fincando na sombra um prego ermo, ele nasce.
Luar em cima de casa exorta cachorro.
Em perna de mosca salobra as águas se cristalizam.
Besouros não ocupam asas para andar sobre fezes.
Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.
No osso da fala dos loucos têm lírios.

Tem 4 teorias de árvore que eu conheço.
Primeira: que arbusto de monturo agüenta mais formiga.Segunda: que uma planta de borra produz frutos ardentes.Terceira: nas plantas que vingam por rachaduras lavra um poder mais lúbrico de antros.Quarta: que há nas árvores avulsas uma assimilação maior de horizontes.

Uma chuva é íntima
Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas;Se aparecem besouros nas folhagens;Se as lagartixas se fixam nos espelhos;Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores;E o escuro se umedeça em nosso corpo.

Em passar sua vagínula sobre as pobres coisas do chão, a lesma deixa risquinhos líquidos...A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as palavras Neste coito com letras!Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-seNa avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesmaescorre. . .Ela fode a pedra. Ela precisa desse deserto para viver.

Que a palavra parede não seja símbolo de obstáculos à liberdade nem de desejos reprimidos nem de proibições na infância,etc. (essas coisas que acham os reveladores de arcanos mentais)Não. Parede que me seduz é de tijolo, adobe preposto ao abdomen de uma casa.Eu tenho um gosto rasteiro de ir por reentrâncias baixar em rachaduras de paredes por frinchas, por gretas - com lascívia de hera. Sobre o tijolo ser um lábio cego.Tal um verme que iluminasse.

Seu França não presta pra nada -Só pra tocar violão.De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é. Não presta pra nada.Mesmo que dizer:- Povo que gosta de resto de sopa é mosca.Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.De ser o nada desenvolvido.E disse que o artista tem origem nesse ato suicida.

Lugar em que há decadência.Em que as casas começam a morrer e são habitadas por morcegos.Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas a dentro.Em que os capins lhes subam pernas acima, seres adentro.Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.Onde os homens terão a força da indigência.E as ruínas darão frutos
(de "O guardador de águas")
,

1 comentários:
Nena de Castro - MACUNADRU disse...
Meu Manuel, nosso Manuel, "poeta é um ente que lambe as palavras" e depois alucina a gente de tanta beleza!Seus versos "me aleluiam" e me fazem pular festeira que nem jia no brejo em tarde de verão.Nena de Castro - MACUNADRU
6 de Outubro de 2008 12:07

E KUNTA KINTE FEZ SUA DANÇA TRIBAL


Nena de Castro
11/11/2008 -

Ao som dos tambores ancestrais, Kunta Kinte dança. Sorriso aberto, gritos de guerra e alegria, Kunta dança. Dança como dançam os homens da sua tribo, quando celebram as caçadas, os casamentos, os rituais de iniciação, as festas religiosas... O corpo do guerreiro Kunta Kinte ginga, sobe, desce, balança, enquanto empunha a lança e o escudo.
O jovem Kunta havia vencido o "kafo", o último grau de instrução pelo qual passavam todos os meninos de seu povo... Aprendera a tomar conta das crianças menores, que ficavam dentro de um cercado no centro da aldeia, junto com as avós; aprendera os segredos de pastorear as cabras e outros animais, sem deixá-los fugir; fora circuncidado; e por fim, seu pai lhe revelara os segredos da vida. Aprendera a caçar e, sobretudo, a ter orgulho de sua tribo, localizada na Gâmbia (África Ocidental), e a respeitar os anciãos, que davam a última palavra nos problemas de todos. O guerreiro que dança, sequer imagina que essa será sua última celebração como homem livre, e que no dia seguinte será capturado como um animal e atirado em um navio negreiro em direção à costa norte-americana. Que, ao lado de seus irmãos de raça, viraria caça, animal capturado, acorrentado, atirado em porões infectos. A viagem era um pesadelo sem fim, com os estupros, a fome, a chibata, as correntes... No desembarque, a venda, a separação dos entes queridos, o início do trabalho escravo nas fazendas de algodão. O jovem guerreiro, humilhado, judiado, tenta fugir: uma, duas, várias vezes, até que lhe cortam a machado a metade de um dos pés. A dor, o sangue, a ferida, e o arrastar-se para o trabalho, sem poder fugir de seu destino atroz. Forçado a aquietar-se, tratou de sobreviver sob o jugo branco. Sua companheira lhe deu filhos; vieram os netos, bisnetos e trinetos, um dos quais, jornalista e historiador, de nome Alex Hayley, levantou a sua história, publicando-a no livro "Negras Raízes". Seus descendentes cresceram em um país de brancos, onde tudo se destinava a estes; a abolição da escravatura deu origem a uma guerra civil, que quase seccionou a nação. Os negros eram considerados entes sem alma, embora a jovem nação americana se declarasse cristã. No entanto, a discriminação continuou. O norte-americano destinava aos negros o desprezo, o ódio racial, a separação de classes; até as privadas primitivas de beira de estrada, aquelas de fossa, nos rincões mais distantes, ostentavam o tenebroso cartaz: "white men only" - só para brancos -, como se as fezes dos homens brancos fossem mais nobres que as dos homens de pele escura. A luta foi muito grande. Milhares de negros enforcados ou queimados pela Ku Klux Klan e ignorados pela sociedade americana, escravocrata e "cristã". Transcorridos tantos anos, nesse início de novembro de 2008, Kunta Kinte dança novamente. Com ele dançam todos os negros, vivos e mortos, em alegria ancestral; soam tambores na noite dos tempos e comemoram juntos: Stokely Carmichael, Charlles Eddie Moore, Malcom X, a costureira Rosa Parks, que um dia se recusou a ceder seu assento a um branco no Alabama, e foi presa, Angela Davis, Martin Luther King, o reverendo Jesse Jackson, os artistas negros que nunca puderam se hospedar em hotel de brancos, e todos os escravos que morreram pela mão dos brancos nessa nação que se diz paradoxalmente, cristã. Kunta Kinte faz, feliz, a sua dança tribal. Um descendente seu, de cabelo pixaim e pele escura como a sua, foi eleito presidente dos Estados Unidos...




POESIA SEMPRE
FALA
(Orides Fontela)
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade).


ZOOM
►BOM DIA meu querido amigo Oswaldo Machado de Oliveira Junior, o Dinho, que lê esta coluna pela net, toda terça-feira, lá no Canadá, onde reside com a família. Beijos pra todos, e o carinho dessa escriba.
►Não sei se vocês leram o comentário que o chefe da Ku Klux Klan, o pastor Thomas Robb, fez sobre o pai de Barack Obama. Se não leram, não perderam nada, eita que mediocridade! E o cara se diz cristão, hein!
►Gente, que orgulho dos professores de Ipatinga: sem deixar de lutar por seus direitos, trabalham com garra e tenacidade. A cada dia, novos e interessantes projetos chegam ao conhecimento da Comunidade.
►Um alô especial para Idagmar Habib, uma das grandes damas do Lions Clube na região. Depois de viajar por um monte de locais lindos do Brasil, reassume seu trabalho na Câmara Municipal o jovem advogado Tiago de Castro.
►Hoje, o professor Sávio de Tarso vai fazer palestra para estudantes na sede da Biblioteca Zumbi dos Palmares. Boa pedida!
►Ai, chega de mortes, desastres, tragédias... Vamos relaxar, ler a Bíblia, ler poesia e, sobretudo, clamar pela misericórdia de Deus.
►Gemina Linhares, que bom foi te rever outro dia. Foi rápido, mas o abraço foi caloroso. Valeu.
►Abraços para as mestras Marlene Dornelas, Ane Ribeiro Penha Salazar e Maria Imaculada.
►Uma semana com gosto de macarronada com frango caipira, feita com o molho que só a mãe da gente sabe fazer, compota de caju, suco de tamarindo, versos de Orides Fontela e som de Martinho da Vila. Esperança, alegria , saúde e paaz, são os votos desta escriba.
►Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail: nenadecastro@yahoo.com.br.







terça-feira, 4 de novembro de 2008

NÃO FOI SÓ O DIA DAS BRUXAS...


04/11/2008 - (NENADECASTRO-MACUNADRU)

Luminosa manhã de sexta-feira. O sol brilhava, secando as poças que a tempestade da noite anterior deixara. Fora uma chuva forte, com ventos, e o ruído da janela batendo me acordou. Fiquei ali, sem me mover, apesar dos pingos que invadiam o quarto pela abertura da janela. Passei a mão pela borda da cama, molhada pela água que descia do céu e o vento impelia até onde eu estava. Veio-me à mente, uma outra noite de tempestade, há muito, muito tempo atrás, em que acordei com minha irmã Mariinha me chamando. Chovia a cântaros, eu dormia perto da janela, minha cama estava molhada pela água que descia da goteira, mas eu continuava dormindo o sono de uma criança de 7 anos. – "Acorda menina, tá tudo molhado, passe para cá" - disse ela, colocando meu travesseiro no canto de sua cama. Ajeitei-me feliz, dividindo a coberta com ela, creio que você já dormiu no cantinho da cama de seus pais, de um irmão, de sua madrinha. A sensação de calor, proteção, e amor penetram em seus poros, e você se sente protegida de todos os seus medos, tutu-marambá fica de longe, com inveja do amor que você recebe...
O sol prossegue em sua jornada, a manhã da cidade grande se consome em carros que passam, lotações cheias de pessoas que vão para o trabalho, coletores de material reciclável em seus carrinhos, crianças e jovens indo para a escola... Caminho, respirando fortemente o ar fresco da manhã. Onde estou há casas com jardins, e vejo um incrível arco verde de bambuzinho que separa a garagem da parte interior da casa. Vou para um auditório onde vai acontecer uma solenidade, poetas, escritores, pessoas que amam os livros, estou no meu elemento. À noite, vamos lanchar e procurei ficar sozinha por uns instantes, para agradecer a Deus por mais um ano de vida. As ruas quedavam-se quase silentes. Serenava e o céu deixava cair ouro e prata em partículas de luz. O calçamento iluminado acolhia meus passos, o ar rescendia a flores. E assim, cercada de magia e de beleza, vi elfos e sílfides dançando ao meu redor. Recordei a voz de Larissa dizendo "te amo, mãe!". E feliz, agradeci ao Criador por ter alcançado os meus 5.9. Voltei para os meus amigos que me aguardavam, e recebi os seus abraços...

UM MAL ENTENDIDO HISTÓRICO

Zuenir Ventura conta em seu livro "1968, O Ano Que não Acabou", que Ziraldo foi preso logo depois do AI-5 e colocado no "Maracanã", um amplo local no DOPS, no Rio de Janeiro, para a triagem. Logo ao chegar, foi abordado por um rapaz que queria saber "a linha do companheiro". Existia na época, entre as esquerdas, uma diferença de pensamento: o pessoal do PCB, o Partidão, defendia a moderação e a revolução a partir da conscientização dos operários, e através deles, do povo; eram os reformistas. Já o pessoal dos movimentos estudantis, defendia a ação, a luta armada, eram os radicais, os revolucionários. As discussões eram intermináveis e Ziraldo, querendo evitar um bate-boca ali no DOPS, respondeu:
- Eu não pertenço a linha nenhuma, sou um democrata e não quero discussão!
O rapaz não entendeu. Entre as dezenas de presos naquele dia - bicheiros, jornalistas, intelectuais, - chegara uma leva de motoristas de ônibus apanhados em uma blitz policial. A filha de um general havia sido destratada por um deles em um ônibus e o pai determinara à polícia que saísse prendendo todos, para que a moça pudesse reconhecer o agressor.
- Calma, companheiro, disse o rapaz, eu só queria saber qual é a sua linha de ônibus! Ziraldo percebeu, então, que sua camisa cáqui, com presilha nos ombros, era igual ao uniforme dos motoristas...
POESIA SEMPRE.

É ELA, É ELA, É ELA, É ELA!
(Segunda parte da Lira dos Vinte Anos)
ÁLVARES DE AZEVEDO
"É ela, é ela! – murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou – é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura –
A minha lavadeira na janela!
Dessas águas – furtadas onde eu moro
Eu a vejo estendendo no telhado
Os vestidos de chita, as saias brancas;
Eu a vejo e suspiro enamorado!"

ZOOM
►BOM DIA, grande Célia Brito, professora de Português do Colégio Assedipa. Assisti ao ensaio do seu VI Festival de Poesia e Música - Uma Homenagem à Mulher - a que não compareci por ter viajado. Vi a alegria, o entusiasmo, dos alunos do curso Médio, tocando violão, cantando canções de Vinícius, declamando poesias de poetas nacionais e de poetas ipatinguenses. Coisa mais linda! Obrigada pela homenagem prestada a mim, a Marília Lacerda e Dona Chammes. Que projeto magnífico! Por estas e por outras é que me orgulho de ser professora. Parabéns a todos, alunos, Colégio e à mestra Célia que, aliando coragem paciência e garra, tem mostrado aos seus alunos o caminho da beleza!
►Um abraço para a estudante de Direito Camila Carvalho Assis, que presta serviço no Juizado Especial. Viajamos juntas e descobrimos, além do Direito, uma outra paixão: a professora Maria Emília Souza, que ministra Direito Civil na FADIPA, e é uma grande amiga desde o tempo em que foi minha estagiária na Defensoria Pública Municipal. Querida Emília, eu disse à Camila, que se ela seguir os seus passos, vai ser uma grande profissional! Pessoal, obrigada pelas flores, e pelos votos pelo meu aniversário no dia 31. A querida amiga Maria do Rosário Machado me enviou uma cesta de café da manhã que foi uma festa! Merci!
►Procurem ler na revista Veja desta semana, a reportagem sobre outros remédios que fazem mal e foram proibidos por provocarem doenças, ao invés de ajudar os usuários. Tá complicado e todo cuidado é pouco!
►Um abraço para a psicóloga Valéria Imaculada Andrade,que faz seu trabalho aliando a Arte aos cânones da Psicologia. Comuniquem-se com ela através do valériaarteterapia@hotmail.com
►Abraços também para as professoras Dalmácia Ramos e Maria Aparecida Ferreira, Cibele Lage e Mayza Domingues Castro.
►Um dia cheio de luz, carinho dos amigos, esperança infinda, emoção e alegria, com os versos de Carlos Drummond de Andrade e o samba de Dudu Nobre. Aquele mingau de couve com pedaços de lombo frito, à moda da roça, doce de cidra para acompanhar, sorrisos de crianças em harmonia com a vida, e a indispensável paaz, são os meus votos. ►Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail: nenadecastro@yahoo.com.br. Au Revoir.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

SABIÁ LÁ NO JARDIM...







21/10/2008 - (Nena de Castro-MACUNADRU).

Novamente acordo no sábado, com a velha inimiga, a enxaqueca, se manifestando. O mundo explode em dor pulsante, náuseas e fobia quanto à luz. Saio lá fora para pegar o jornal, protegendo os olhos com a mão. Kid abana o rabinho, amoroso como sempre, e minha sabiá de plantão, a Gertrud, cisca no meio dos farelos de pão que o dono da casa coloca perto da água, toda manhã. Uma rolinha lhe faz companhia, e Gertrud reclama com ela o fato de que a proibi de fazer o ninho no meu vaso de samambaia, na varanda. Certa feita, outra sabiá lá se aninhou, e nós não tivemos coragem de expulsá-la. Ficamos vendo nossa planta morrer de sede enquanto a ave chocava seus ovinhos. No final, a samambaia morreu, mas dois lindos filhotes nasceram e cuidamos deles, colocando-os em gaiola, onde a mãe os alimentava. Quando estavam fortes para voar, abrimos a gaiola, fizemos o bota-fora e depois fomos cuidar de replantar a samambaia. Gertrud, minha velha inquilina, que não paga aluguel, pára de ciscar por um momento e me diz: - "Sábado de sol, dia lindo, pode me explicar por que os jovens estão morrendo e matando em vez de irem praticar esportes, namorar, cantar e viver? O que vocês estão fazendo com seus filhos, ou pior, permitindo que outros façam, que os deixam tão desesperados? Tão desesperançados? Tão infelizes?" - Ai, Gertrud, quisera saber - respondo. A moçada, na fase mais linda de sua vida, está aí, se matando, se drogando, jovens esmagados sob tanta informação sem formação, vítimas de um sistema inoperante, vivendo em um mundo desordenado e sem valores. Não diga que culpo o sistema por tudo, mas é preciso que o governo desenvolva uma política mais abrangente e atraente para a juventude. Só a escola não basta, é preciso centros de atenção à família, locais onde os jovens possam se divertir, discutir seus anseios e, principalmente, encontrar quem os ouça, sem julgar, sem condenar, aceitando o turbilhão de sentimentos que os acompanham. Aí, tragédias como a de Santo André e tantas outras não mais existirão.
- "Vá sonhando, consertadora do mundo, vá sonhando!" – diz Gertrud, enquanto bate as asas e alça vôo para não sei onde.
Espantada, resolvo voltar para a cama, enquanto penso com quem será que minha sabiá aprendeu a ser irônica...

CHAME O LADRÃO!
Esta semana, veio à minha mente o refrão da canção do Chico Buarque, ao ver as polícias civil e militar se enfrentando em distúrbios de rua em São Paulo. Serra diz que a greve é manobra eleitoreira, os policiais civis se defendem invocando o direito de lutar por melhores salários. Enquanto "os home" brigam entre si, Lady Zeferina acha graça, pensando que estão provando um pouquinho do "remédio" que sempre aplicaram em grevistas e estudantes, principalmente na época dos anos de chumbo. Outro episódio infeliz foi o desastre da operação-resgate em Santo André. Até eu, que nada entendo de operações policiais, sei que o primordial é retirar os reféns de perto do seqüestrador, vivos, se possível. Agora, mandar de volta para a toca da onça uma menina inocente, faça-me o favor... No entanto, o erro de uma operação desastrosa não deve apagar as vitórias alcançadas. Observo que ser policial é uma das profissões mais ingratas do mundo. A sociedade, que precisa dos policiais, também os despreza. O governo sempre os tratou com descaso, descaso este estendido aos professores. Conviver diuturnamente com o perigo, a tensão, as cobranças, ter de cuidar da família, com um salário nem sempre à altura, tudo isto pesa, e muito. Não se trata, portanto, de só propor aumento de salário e fornecer equipamentos modernos. É preciso assistência integral, melhoria dos cursos de formação, plano de carreira, prêmios, oportunidade de estudar e se desenvolver como todo ser humano precisa para ser feliz. Aí, ninguém mais vai cantar, "chame o ladrão, chame o ladrão".


ZOOM
►Bom dia, minha flor do campo, querida poeta Dona Bizuca! Devemos à senhora o poema que deu origem ao Hino de Ipatinga! Que Deus a cubra de bênçãos junto aos seus queridos!
►Sei não, mas a notícia veiculada por jornal de São Paulo, dando conta de um grupo, sob a liderança do pastor Inereu Lopes, que vendeu bens e abandonou famílias para viver numa comunidade em Ecoporanga/ES, aguardando o fim do mundo, sem se misturar com os pecadores, não tá me cheirando bem. É o caso de a PF fazer uma investigação séria, antes que...
►Um abraço para Manoel Roberto Souto e a professora Célia, do Colégio Assedipa. O amor é lindo mesmo, não é?
►Outro abraço, agora para as meninas do Sind-UTE, Feliciana Saldanha, Reny Batista e toda aquela turma animada que prepara com carinho mais uma edição da Confraternização pelo Dia do Professor.
►Respondo à consulta de minha leitora Iva Maria, do Cariru, via e-mail: sua pergunta procede, cara leitora: estadia, que muitos usam para determinar o tempo que passam em algum lugar, refere-se ao prazo concedido para carga e descarga do navio no porto. Já para determinar o tempo em que pessoas permanecem em um local, o correto é estada. Em caso de dúvida (e quem nunca as teve?), consulte o "Tio Orélio", pai dos inteligentes. E quanto à famosa frase "uma rosa é uma rosa, é uma rosa, é uma rosa", a mesma é de autoria da americana Gertrud Stein. Já o autor de "O Nome da Rosa", é o italiano Umberto Eco. O livro retrata a investigação de um crime um monastério na Idade Média; virou filme, com Sean Connery no papel principal. Z Abraços para Gilda de Sá e Andréa Coelho, alunas de Pedagogia da Faculdade Pitágoras, que trabalharam no III Salão do Livro...
►Um dia cheio de borboletas coloridas voando pelo espaço, céu azul e sol, água de cachoeira caindo na cabeça, bem fria e relaxante. Som de João Gilberto, poemas de Antônio Gedeão, aquela mandioca frita com torresmo (tudo ligth, xô colesterol!) suco de graviola, amor, alegria e paaz, são os meus votos. Au revoir.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

POESIA SEMPRE


MUITAS VOZES

(FERREIRA GULLAR)

Meu poema
é um tumulto:
a fala
que nele fala
outras vozes
arrasta em alarido.


(estamos todos nós
cheios de vozes
que o mais das vezes
mal cabem em nossa voz:


se dizes pêra
acende-se um clarão
um rastilho
de tardes e açúcares
ou
se azul disseres
pode ser que se agite
o Egeu
em tuas glândulas)


A água que ouviste
num soneto de Rilke
os ínfimos
rumores de capim
o sabor
do hortelã
(essa alegria)


a boca fria
da moça
o maruim
na poça
a hemorragia
da manhã

tudo isso em ti
se deposita
e cala.
Até que de repente
um susto
ou uma ventania
(que o poema dispara)
chama esse fósseis à fala

Meu poema
é um tumulto, um alarido:
basta apurar o ouvido.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

UMA OU TRÊS COISAS QUE PENSO...

Amiga minha riu das minhas comunidades no orkut: tirando OS CAPIAU (HARDCORE) e O GRITO DE ALERTA, que é uma comunidade de jovens evangélicos, gente cabeça, só tem...POESIA! E tá ruim?
Tenho certeza que quando o zóide do dad alcançou o óv da dona Inês, ele fez um versinho. Podia não ser nada Xeiquisperiano, mas fez. AÍ eu nasci rimando umas cantigazinhas de choro! Porque até eu fico besta como gosto, vivo, escrevo, como, antropofagizo, cavalgo, viajo, velejo, vou ás luas de Saturno e ao Morro do Escorpião, leio e AMO POESIA! Ela é meu útero, cordão umbilical, ninho macio, local de encontro/desencontro, meu escudo e lança, ginete e pedra! Topada no dedão, nervo exposto, pele de ferida, sangue das entranhas, veia seccionda, gozo e vida...
Graças a ela, posso ser louca o quanto quero. Mas sou só aprendiz! Nunca vou saber tudo, e essa estranheza me humaniza.
Olhem só o que recebi de um novo amigo , Allison (GRUGO) , da cidade de Castro, no Paraná. (Atenção, a cidade de Castro não é exatamente um burgo da Nena, hein?)
Lá vai:
(Um poema de GRUGO)
Esse assunto
não discuto
ou mudo
o mundo
ou fico
mudo.
Uau! E o menino diz que só está começando, vejam vocês!
____________________________________________________________________
Agora, fazendo o caminho inverso, descobri um português que não se chama Joaquim nem Manuel, mas sim, Rômulo de Carvalho. O cara era cientista, foi professor, e escreveu romances, peças teatrais, artigos históricos e pedagógicos e ...POESIA! Só que usava o pseudônimo de Antônio Gedeão.
VEJAM QUE MAGAVILHA:
MINHA ALDEIA
(ANTÔNIO GEDEÃO)

Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.

Bate o sol na minha aldeia
com várias inclinações.
Ângulo novo, nova ideia;
outros graus, outras razões.
Que os homens da minha aldeia
são centenas de milhões.

Os homens da minha aldeia
divergem por natureza.
O mesmo sonho os separa,
a mesma fria certeza
os afasta e desampara,
rumorejante seara
onde se odeia em beleza.

Os homens da minha aldeia
formigam raivosamente
com os pés colados ao chão.
Nessa prisão permanente
cada qual é seu irmão.
Valências de fora e dentro
ligam tudo ao mesmo centro
numa inquebrável cadeia.
Longas raízes que emergem,
todos os homens convergem
no centro da minha aldeia

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

DELÍCIAS LITERÁRIAS

Começam a chegar os presentes de aniversário. Vejam só o JS, o poeta de MARIANA,fez pra mim:

ACRÓSTICO FLORAL -
(p/ Nena de Castro)

gerâNios
mEntzélias
begôNias
mArgaridas

Dálias
cEntradênias

Cenécios
lobéliAs
gailárdiaS
peTúnias
lobuláRias
calceOlária

Lindo e original como o meu amigo poeta! Obrigada!

Agora, vejam se não estou mesmo podendo! No dia, 4/10, eu e NIVALDO REZENDE fomos homenageados pelo IMbrasCI (Instituto Cultural com ramificações internacionais), e recebemos medalhas das mãos da Governadora em MG, a poeta DÉIA LEAL, que nos ofereceu o poema que se segue:

DIZEM DOS POETAS
Andréia Donadon Leal

(Para Nivaldo Resende e Nena de Castro)

Dizem que poeta sente demasiadamente
pelos cantos do quarto
pelos cantos da sala
pelos cantos da rua
pelos cantos...

Dizem que poeta é sensível
poupa de fruta corrompida
ponta de pele exposta
ao léu !

Dizem que vive no mundo da lua
no mundo das emoções
rodopiando, dando pulos
falando sozinho
ou de fala mansa
com os animais
com as flores
com o capim
com a montanha.

Quando se apaixona
se esparrama de cara no amor
ficando meio bobo
meio no mundo da lua,
no meio da lua e no meio do caminho.

Amor de poeta não correspondido
é
pele machucada
repleta de roxo
em cantos mínimos
e máximos do corpo,
a mercê de uma palavra
um gesto
uma esperança
de ver sair da vida
que nem análise
da própria insensatez
de machucar a si mesmo.

Dizem que poeta sente demais
observa muito
chora demais,
dizem que poeta é exagerado
quando ama
...
Poeta não finge a dor que sente
não finge amar o amor
não finge fingindo ser,
poeta não dissimula gozo
não dissimula paixão
não dissimula pôr-do-sol
não dissimula água cristalina
que brota fresquinha e desce
em cascatas pelas encostas da vida;

poeta não precisa fumar um back
para ficar bacana, zen,
nem tomar garrafa de uísque
e dar pulinhos pelos paralelepípedos;

poeta não precisa de óculos de sol
para colorir a realidade de rosa choque
de rosa bebê
de marrom glacê
de verde vessiê
de azul da prússia
de amarelo ocre
de amarelo ouro

para ver a flor desabrochar no quintal de casa
no meio do matagal, no meio do nada,
ver o sol despontar no alto da montanha
sentir a brisa acariciar o rosto
escutar a melodia dos pássaros
e o galo cantar quando o sol
se mancha no alto do horizonte
...
Dizem que poetas são assim mesmo
enxergam além da montanha.
________________________--

Uau, brigadão, Déia! ó, que tô me achando, hein?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

UMA SEMANA INTENSA

Sabem, durante o III Salão do Livro no Centro Cultural Usiminas, eu me diverti muito, fazendo mais um curso de contação de histórias. O professor é lá do Sul , cognome, José Bocca. A turma estava animada e a gente botou pra quebrar com técnicas de respiração, noções de equilíbro, impostação de voz, and so one... O ruim, para mim, foi subir e descer aquelas escadas para chegar até a sala de ensaios, eu subia e descia, com dores dos problemas ósseos, e tome dor no joelho, nos calcanhares, na coluna, ê dasdor! Mas o bom mesmo era estar no estande do CLESI. Novos lançamentos, entre os quais, o BELAS BAILARINAS , de Marília Lacerda, muito bonito! E o carinho da meninada com a autora de MARIANA CATIBIRIBANA, que por acaso, soy jo? E a maravilha que foi saber que o livro do JS, o delicioso JENIPAPO ganhou um prêmio da União dos Escritores Brasileiros? Eita, que maravilha! Vamos todos para o Rio, no final do mês, prestigiar o JS, que vai receber o diploma na ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS!!!
Pra lá de bom foi o lançamento de CENÁRIO NOTURNO, de Déia Leal, no Jardim Japonês, que é um belo lugar, mas que acaba com as sandálias novas da gente, com tantas gretas nas ripas do assoalho e as pedras. Da próxima vez, vou de chinelo de dedo, juro! E teve o jornalista de Brasília, Paulo José Cunha, com aquelas crônicas deliciosas sobre a capital do país, narradas, mostrando lindas paisagens! E eu mais o cumpadi Nivaldo Rezende, fomos agraciados por nosso trabalho em prol da Cultura, pelo IMbrasCI, que é um instituto cultural que faz intercâmbios com escritores e poetas de meio mundo! Ah, eu fiquei toda importante, com aquela fita azul com medalha, Lady Zeferina, adorou!
Mas não importa que a mula manque, graças a Deus, a campanha política chegou ao fim, ninguém aguentava mais! Agora, é tocar o bonde! E vamo que vamo!
Um abraço!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O GRITO

Antônio Cícero


Estou acorrentado a este penhasco
logo eu que roubei o fogo dos céus.
Há muito tempo sei
que este penhasco
não existe, como tampouco há um deus
a me punir, mas sigo acorrentado.
Aguardam-me amplos caminhos no mar
e urbes formigantes a sonhar
cruzamentos febris e inopinados.
Você diz “claro” e recomenda um amigo
que parcela pacotes de excursões.
Abutres devoram-me as decisões
e uma ponta do fígado mas digo
E daí? Dia desses com um só grito
eu estraçalho todos os grilhões.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

DISCUTINDO O PAPEL DA POESIA

(Pablo Neruda)
A POESIA AINDA É UMA ARMA POLÍTICA?





Nos 35 anos da morte de Pablo Neruda, poetas reconhecem o declínio actual da literatura de intervenção
SÉRGIO ALMEIDA
O que resta hoje da poesia de contornos políticos, de que Pablo Neruda foi um dos maiores cultores? Três poetas ouvidos pelo JN (Manuel Alegre, Humberto Rocha e António Pedro Ribeiro) realçam a sua importância mas advertem para os riscos.
"Arma carregada de futuro", conforme definição do espanhol Gabriel Celaya, a poesia sempre reforçou a sua importância nas grandes crises morais da Humanidade, altura em que a voz dos poetas adquiria uma ressonância mais forte e clara. Os tempos, todavia, não correm de feição para estes "legisladores sem lei do universo", de que falava Novalis, confrontados com uma sociedade- espectáculo cujos valores parecem estar nos antípodas morais dos seus.
A guetização crescente da poesia (circunscrita a tiragens que raras vezes ultrapassam as poucas centenas de exemplares) e a transferência da discussão para outros espaços, mais imediatos mas também mais voláteis, são alguns dos motivos que tornam improvável, hoje, o aparecimento de um poeta que desempenhe o papel de guardião moral do seu tempo, como aconteceu com Pablo Neruda, afirmam os autores ouvidos pelo JN.
Mesmo discordando do conceito - "toda a poesia, em última instância, é ideológica, porque não há neutralidade na poesia", diz -, Manuel Alegre admite que nos escritos das novas gerações de poetas os sinais de intervenção pública estão muito mais diluídos do que acontecia ainda há três décadas.
No entanto, recusa-se a ver no facto uma certidão de óbito antecipada da poesia que se coloca ao serviço de valores. "São ciclos. As circunstâncias também são diferentes, mas a nossa poesia é rica em autores com um elevado sentido cívico e político nos seus textos, como Sá de Miranda, Almeida Garrett, Miguel Torga ou Sophia de Mello Breyner", explica o autor de "Praça da canção", para quem "são precisamente os escritos de Neruda centrados na discussão ideológica aqueles que o tempo se encarregou de arrumar, em contraste com os poemas de amor, por exemplo".
Estará, então, a poesia que se empenha nas causas do presente, como aconteceu com a do poeta chileno, condenada a um rápido esquecimento? A questão está longe de gerar consenso. António Pedro Ribeiro, cuja obra inclui escritos tão mordazes como "Declaração de amor ao primeiro-ministro" ou "Queimemos o dinheiro", não tem dúvidas de que a poesia de cariz militante "faz hoje mais sentido do que nunca", citando como exemplo "as recentes crises da alta finança", que apenas vêm mostrar, afinal, que "o capitalismo desumano continua a ser o mesmo dos tempos de Pablo Neruda".
Autor de "Pão e circo", romance agora lançado pela Afrontamento, o poeta Humberto Rocha vê no cunho estritamente pessoal que caracteriza boa parte da poesia actual - em que a narração estrita do quotidiano substitui o questionamento moral e político - um sintoma "do vazio ideológico reinante". "Há uma vacilação entre a ficção e a representação do Eu como núcleo fundamental da estória dentro da História, conduzindo a uma vacuidade por exaustão do narcisismo decorrente", afirma o autor de "Esqueletos leiloados", convicto de que a poesia actual não pode ter um sentido vago ou impreciso, pois "uma das funções de quem escreve não é apresentar modelos, mas unificar a dispersão do humano enquanto ser singular mergulhado no caos que advém da sua própria condição humana."
Se a função do poeta se mantém, ainda que em novos moldes, exige-se, contudo, um "upgrade" do discurso, defende António Pedro Ribeiro: "Não podemos ler apenas Marx e ouvir Zeca Afonso, como alguns poetas ainda fazem".
Da lição de vida de Neruda - " o último gigante da liberdade total e impossível da poesia do século XX", define Humberto Rocha -, há a reter, sobretudo, "o poeta que cantou o amor como ninguém, mas também o seu exemplo revolucionária e a vida intensamente solidária", acrescenta António Pedro Ribeiro.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

DELÍRIOS HISTÓRICOS



Nena de Castro

(Napoleão Bonaparte)


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Além do Português, sempre fui fascinada pelo estudo de História. Todos aqueles fatos, batalhas, vencedores, perdedores, povos subjugados, resistência, as loucuras dos reis e imperadores... Se você pensar bem, vai ver que, ainda hoje, tudo isso acontece, sob nova roupagem. Cazuza tinha razão: a vida é "um museu de grandes novidades." Dos guerreiros cuja saga nos chegou através dos anais históricos, Napoleão Bonaparte é um sujeito interessante. Nascido na Córsega, foi enviado a uma escola militar aos 10 anos. Estudioso e inteligente, alcançou o posto de tenente de Artilharia aos 19 anos e o de general (sim, senhor!) aos 27! Invadiu os países da Europa Central e Ocidental e foi coroado imperador, com pompa e circunstância. Aí, num nepotismo sem fim, nomeou seus irmãos, primos, sobrinhos, agregados e apaniguados, como reis dos países conquistados. Como se vê, a prática vem de longe e o Brasil está tentando acabar com tal praga, mas encontra feroz resistência da parte de alguns políticos que "quebram a dentadura, mas não largam a rapadura"... Voltando a Napoleão, o cara reinou por 15 anos, vencendo todas as batalhas, até que invadiu Moscou e tomou na cara, não pelo exército russo, mas pelo inverno rigoroso, terrível, que acabou minando o exército francês. Agora, o que os brasileiros não sabem, ou não se lembram, é que a gente deve muito ao impetuoso guerreiro. Ao disputar poderio com a Inglaterra, decretou o chamado Bloqueio Continental e ameaçou invadir Portugal, aliado dos ingleses. O que fez com que Dom João VI, ainda Príncipe Regente, viesse para o patropi, de navio, com ministros, servos, baús, a mala que era sua esposa Carlota Joaquina, cuia, papagaio, periquito, piolhos europeus e quejandos... Alcançamos então certo progresso, com a elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves (que parece nome de escola de samba, mas foi um troço sério), seguindo-se a abertura dos portos (para permitir que a Inglaterra levasse o que quisesse, sem problemas), a fundação da Imprensa, do Banco do Brasil e de outras repartições necessárias ao bom funcionamento de um reino.
Dom João, na falta de telefones e grampos da Abin, valia-se de espiões para vigiar a espevitada Carlota Joaquina, que não podia ver um representante do sexo masculino sem levá-lo para o leito real. Dizem as boas línguas que ela até mandou dessa para pior uns desabusados que não mais queriam "brincar" com ela. Por aí se entende de onde veio o insaciável apetite sexual de Dão Pedro I, que era considerado um sátiro, não podendo ver um rabo de saia e, sem preconceito de raça, traçava todas... Ele teria até composto a famosa marchinha "O teu cabelo não nega, mulata", mas se esqueceu de registrar a composição, o que foi feito muito tempo depois por Lamartine Babo, hi, hi, hi! (Credo, onde vai parar essa crônica? Eu queria falar era de Napoleão Bonaparte, e já estou falando de marcha carnavalesca, será que é a sina, de nesse país, tudo acabar em samba e pizza? Perdão, leitores e leitoras, o trem tá brabo hoje; exerçam a tolerância com a velhinha que tecla, e mal, essas pobres linhas!). Mas eu fico pensando que, caso o Imperador tivesse invadido o Brasil, ele não resistiria às nossas monumentais negras e mulatas. E a gente teria, com muita honra, um monte de sararás falando francês e ostentando nomes como Sebastiana Girimum Bonaparte e Napoleão Jesus da Silva! Que saberiam apreciar foie gras, escargot, caipirinha e feijoada! E cantariam a Marselhesa em ritmo de samba-enredo e desfilariam todos os anos na Escola de Samba Fraternité e Egalité, skindô, skindô! E certamente me mandariam para as cucuias, após ler a salada histórica que temperei hoje, um autêntico "samba da cronista doida"! Calma, leitores, não fiquem nervosos! Se o meu editor não me defenestrar, prometo a vocês que vou ao psiquiatra, e nunca mais como couve nascida perto de cogumelo brabo, na minha horta! E nada mais digo!
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sábado, 20 de setembro de 2008

MACHADO DE ASSIS E GUIMARÃES ROSA

O gênio em Machado de Assis aparece na sua linguagem elegante, nas construções clássicas, na clareza de seus enunciados... E naquela fina ironia, na capacidade perceptiva das fraquezas humanas, na exposição do nervo, frágil liame entre a genialidade e a loucura. E na construção sublime do perfil do ser humano, inseguro e frágil como Bentinho, embora sob a aparência de "macho no comando".Sublime Machado, nós te amamos. (Nena de Castro - MACUNADRU)
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GRANDE SERTÃO:VEREDAS de Guimarães Rosa é a meu ver, o livro mais importante da Literatura Brasileira. Ah, os falares dos sertões do Urucuia, os neologismos, as palavras brotando do chão seco e árido, com o frescor e vigor das grandes criações literárias... Riobaldo Tatarana diz: "Nonada." "Eu sou é eu mesmo Diverjo de todo mundo. Eu quase que nada sei. Mas desconfia de muita coisa"...Eta ferro, uai, que beleza, é assinzinho de tremer o coração!

PLANTIO ROSEANO
(NENA DE CASTRO )
-João, ô João, sai daí, menino!
que qui tá fazendo?
-Vem plantar couve,
vem colher feijão!
-Nonada, mãe,
Planto couve, não.
Tô plantando estrela
No céu do sertão,
Tô aspergindo bênção
No duro desse chão.
Vou plantar palavra,
Vou criar palavra
Vou criar beleza
Na palma da mão.
20.09.01

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

MINHAS DUAS CAÇULAS



Olha que lindas são as minhas caçulas:Petit, que vocês já conhecem e MARIANA CATIBIRIBANA, que nasceu em outubro/07, no II SALÃO DO LIVRO, em Ipatinga/MG.


Uau! Sou uma mãe realizada!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

DE POETA E LOUCO...


AU CONTRAIRE
(Nena de Castro)

No avesso
do reverso
fiz um verso!

No verso
do avesso
me arremesso!

No reverso
do meu verso
eu me meço...


vendo o verso
pelo avesso
Desconverso



E no reverso
adverso
Do uni verso
Com que teço
E entreteço
Final, meio e começo,
Esmoreço.
Me despeço,
e perplexo,
cesso!

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NARCISO FARSESCO

Pelo espelho
Espelho
Meu ego
E meu pêlo

Pelo espelho
pentelho
Espelho o selo
E o desvelo.

Pelo espelho
Me espalho,
Me empalho
Múmia estática
Apática multiface ...

Pelo espelho
o zelo se esvai
Em um novelo.

Pelo espelho,
nua em pêlo
o zelo
se esvai em desespero...

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O TERCEIRO OVO TEM UM MONTE DE DENTES!



Como podem ver , a gente ensinou Petit a escovar os dentes direitinho! E ela está mostrando pra vocês que tem todos eles e que são bonitos! Ô bocão! (Mãe corujésima!)

O TERCEIRO OVO QUE URUBU BOTOU ESTÁ LONGE....


É .. Aí está o terceiro ovo do urubu, com a equipe de trabalho. Está longe, por esses brasis a fora, prestando serviço lá longe...Ela sente saudades das montanhas de Minas, da comida mineira, dos amigos...e eu sinto uma puta saudade dela. Um beijo, mon PETIT AMOUR!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

CONVERSA COM PASSARIM




Nena de Castro
(09/09/2008 )-


Domingo, sol e brisa de setembro... Sabiá canta , encanta e conta : vem eleição por aí, gente! Ai, que eu queria ter asas e voar no infinito azul, mas sou bípede sem membros voadores, presa ao chão, sem condições de alçar vôo... Valho-me pois da imaginação e viajo por campos floridos e verdes, borboletas ao sol, pipas coloridas, rosas brancas e vermelhas cheias de gotículas de orvalho, reluzentes jóias naturais... No meio de tanta beleza, canta o bem-te-vi: “vem eleição por aí”! Fico sem saber se falo como o rei Juan Carlos e digo ao passarito: “por que não te calas?” Ai, não, pobres avezinhas, que culpa têm dos disparates do Chávez e de todos os ditadores, das ambições e loucuras humanas, das coisas ruins que provocamos? Passarim vive feliz, nós é que somos insanos, cê já ouviu dizer que pássaro mandou fazer bomba A, bomba H, míssil teleguiado? Que fez muro para separar pessoas, que mandou fazer limpeza étnica?– Eu, hein! - diz a pardoca pousada no pé de alfazema, me espiando - isso é coisa de humano desumano! E não se esqueça, vem eleição por aí!- Ui, que preguiça! digo à moda de Macunaína! Vontade de mandar os passarim embora, usando, num contra senso, um verso de Vinícius: “Por que vieste na minha janela, meter o nariz? Se foi por um verso, não sou mais poeta, ando tão feliz”! Bom, feliz mesmo, ando não. Sinais dos tempos, difícil achar graça em alguma coisa, a gente quer ser feliz, mas a vida não deixa, o sistema quer te empurrar mentiras goela abaixo, é uma impustura danada, ah, que coisa, porque penso nisso, ao invés de fazer crochê? Mundo doido, curral de violência, tempos apocalípticos, facilidade que temos de maneira geral em fazer justiça com as próprias mãos, de condenar sem provas... Lembram-se daquela mulher que foi presa, acusada de matar a filha colocando cocaína na mamadeira? Pois é, foi presa, apanhou que nem cachorro tanto da polícia quanto das outras presas, perdeu quase totalmente a audição e a visão, creio que do lado direito, e agora saiu o laudo da perícia; neca de cocaína, a criança morreu por outro motivo. E agora, quem devolve a essa mulher o olho e a capacidade de ouvir? Mesmo que acione o Estado e seja vitoriosa, quem lhe devolve a felicidade, a dignidade, a crença, a saúde física e mental? Para que servirá o dinheiro que vier a ganhar, se ela própria já morreu? Ah não, mundo de paixões violentas, é preciso mudar a legislação, é preciso gritar ante a dor das pessoas, é preciso reagir, recusar-se a seguir a corrente, o disse-me-disse, o seguir os impulsos imediatistas ditados por uma vida corrida e sem nexo, recheada por loucura, crimes macabros e afins... Pobres de nós, jugo sem fim, medo de tudo, do trânsito, do assaltante, da polícia, do sistema, da impunidade de alguns... Como fazer justiça a quem já foi condenada e julgada antes sequer de terminarem as investigações? Dor infinda, passarim, dor infinda, aquela que dói no fundo da alma, como escreveu a poeta Vera Lúcia de Oliveira,




Por entre as junturas dos ossos,

a dor é funda,

Por entre as junturas dos ossos

a dor é feia

Por entre as junturas dos ossos

a dor é fatal.




A dor dá o tom da minha vida

E repisa novas e feridas velhas


Por entre as junturas dos ossos,

A dor é tudo:



Funda, feia, fatal!




Ouviu passarim, por que tudo é tão doído e tão doido? Xô!Pardoquinha balança a cabecinha, como a dizer que não tem jeito, alça vôo e some no céu azul. Não sem antes fazer coro ao sabiá e ao coleirinho: “Vem eleição, por aí!” Arre, então eu não sei? Meneio a cabeça: “Ora, direis, ouvir os pássaros” E me perco na contemplação de um domingo luminoso...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

ALMA BELA (JUÍZA VALÉRIA VIEIRA ALVES - IN MEMORIAN)

( Foto: ELOER MAGALHÃES)

Domingo na Feirarte. Eu, com meu companheiro, mais Tati e minhas duas filhas do coração, Thaynara e Débora, fomos lá. Tira-gostos, o conjunto Rádio Pirata cantando, um grupo de hippies que passa pela cidade, vendendo seus colares e fazendo malabares, gente feliz namorando ou conversando... Na hora de ir embora, fiquei esperando o pessoal no carro, estacionado em um local que me permitia inteira visão do ipê roxo que floresceu ao lado do Fórum. O espetáculo dos buquês de flores roxas me adoece de beleza. O sol de inverno ilumina a cena: o ipê reina, absoluto, parece mãe que deu à luz a suas filhas-flores e as exibe com ternura e graça. E para complementar o instante, percebo um beija-flor que brinca, em volteios graciosos, sugando o mel das flores, em delicado e delicioso balé. Ouvindo o som dos rapazes ao longe, vendo um esforçado lavador de carros ganhando seus trocados, percebendo a movimentação na Feira, guardei em minhas retinas aquele belíssimo quadro. Dediquei a luz daquele instante à memória da Juíza Valéria Vieira Alves, ela própria, dona de um coração generoso e uma alma linda como o ipê carregadinho de amor.

(Publicação: DIÁRIO DO AÇO - 08 de julho/08 em Nena de Castro - Crônica)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

INSANO ENSAIO SOBRE VARIAÇÕES DE UM MESMO TEMA


(Imagem: THE BRIDE - Marc Chagall)

TUDO COMEÇOU COM O CARLOS:

POEMA DE SETE FACES

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas
Para que tanta perna, meu Deus,
{pergunta meu coração.
Porém meus olhos
Não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, porque me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução;
mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é o meu coração.

Eu não devia te dizer,
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
______________________________
E outros poetas também tentaram:

LET'S PLAY THAT
(TORQUATO NETO )

Quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião
eis que esse anjo me disse
apertando a minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
let's play that
____________________

ORIDES FONTELLA, ácida como um limão, poeta demais, fala:

CDA (imitado)

Ó vida, triste vida!
Se eu me chamasse Aparecida
dava na mesma.
___________________

Adelinha não deixou por menos:

COM LICENÇA POÉTICA
(ADÉLIA PRADO)

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta,
anunciou:vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza
e ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.
Cumpro a sina.
Inauguro linhagens,
fundo reinos- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida
é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou.
____________________________

E MACUNADRU OUSOU:

POEMA DE SETE FACES, SETE OLHOS E SETE BUNDAS
(Imitando CDA e Orides Fontella – Variações sobre a mesma teima)
Nena de Castro

Quando eu nasci,
um ogro desocupado,
Tirando meleca do nariz,
Moveu a varinha de condão
e furou o olho da coruja
que tinha piscado para o dia que surgia...
E virei a Moura-Torta,
da palavra torta e poesia idem.....

ó tempora, ó mores,
ó têmpera, ó mares!
Se me chamasse Fredegunda
E fosse uma ogra gorda
com o único olho vazado
e a mão torta e vazia
(seria estátua de cera de Madame Tussaud
ou do Museu de Horrores,
ao lado do Corcunda de Notre Dame...)

"Mundo, mundo, vasto mundo,
Mais vasto é o meu coração"
Se eu fosse o Raimundo,
Não andava sem calção.
Se me chamasse Raimunda
E etc. e tal
Mostraria bem a bunda
Num grande fio dental.

Quando eu nasci,
um ogro porra-louca,
Provavelmente com a cuca cheia
de vapores etílicos de pinga ordinária,
Cuspindo de lado e coçando o saco,
sentenciou:-Vai, Nena, vai fazer merda na vida!
Sou poeta.

Ó vida, ferida doída,
Se me chamasse Aparecida,
Mesmice, bobice e tolice...
Se me chamasse Raimundo,
Só servia pra rima besta.
Se me chamasse Raimunda,
Todo mundo faria fiu-fiu....

POEMAS CHINESES





Canção do trigo à maneira de Han

O trigo está verde:
Preciso é que amadureça.

E quem serão os ceifeiros?
- As mães os seus meninos...

(Os homens estão para o sul
A combater os bárbaros).
__________________________________________
Por um anónimo da Dinastia T'sin(*)

Os mandarins
compram cavalos brancos.
Os grandes senhores
têm palácios de oiro.
Mas, cuidado:
Nem uma palavra, amigo.

(*)Período em que foram queimados os livros e enterrados vivos todos os poetas (N. do A.)

domingo, 24 de agosto de 2008

VENTOS QUE VÃO, VENTOS QUE VÊM...

(Mulher Com Sombrinha - Claude Monet)


(Seria uma crônica.Virou conto. Tentei resumir, continuou conto .Essa é a primeira versão, que não foi publicada. Não adianta: quem nasceu pra ser prolixa, nunca chega à concisão do Zé Mucinho!)__________________________________________________________________________________
Sofia abriu o caderno onde escrevia seus poemas. Releu o que havia escrito. Sabia o porquê dos versos tão pessimistas: era por causa de agosto. Esse mês, desde o tempo de criança, lhe causava apreensão! Suicídios, desastres, mortes... O que salvava os dias cinzentos, a seu ver, era o vento. Que ela adorava! Até que... Estremeceu ao lembrar que naquele mês aziago, tivera a maior decepção de sua vida. E vivera aquela paixão desesperada e não correspondida. Sentira ânsias de morte. E passara o odiar profundamente o mês e os ventos que o acompanham. Ventos... Daí os versos: CALENDÁRIOÉ agostoE no meu rostoSe acentua o meu desgosto.Cada qual na sua faceQue a sua sina trace,A minha já está traçada:Na engrenagem da vida,esmagada, bem moída,uivo de medo e de dor...é agosto,e o meu desgostomarca as marcasdo meu rosto.Dói bem fundo,Dor bem fina,Dor doída, minha sina.Percebo que essa dorQue me rói e estraçalhaFeito fio de navalhaNão é por causa do mêsJá nasceu aqui comigoComo gêmeo siamês.E é fato verdadeiro,Essa dor, pelo que entendo,Dói de setembro a dezembro,De janeiro a fevereiro,E no mormaço de marçoDói como nunca se viu.-A dor não some, é abril!Em maio ela continuaCrua, triste, feia e nuaJunho, julho, não sumiu!E nem, bem o frio jaz posto,Eis de novo o mês de agosto,Pobre mês, triste, alcunhado,De azar acompanhadoQue carrega, desencanto,A desculpa do meu pranto.É agosto,e o meu desgostoCarpe as mágoas em meu rostoNeste longo calendárioMinha dor, meu inventário.Fechou o caderno, cerrando os olhos. Lembrou-se dele. O sorriso infantil, a cara de menino inocente. Vira-o pela primeira vez em um museu quando mais uma vez, admirava a escultura que tanto lhe dizia. Era de um artista não muito conhecido, chamava-se “Mulher ao Vento” e mostrava uma figura feminina, de mãos estendidas, cujos cabelos estavam revoltos, suspensos pelo vento. O rosto da mulher, de olhos fechados, demonstrava êxtase... Sofia gostava de ficar admirando a estátua, imaginando-se frente ao mar, ou melhor, numa montanha da Irlanda, olhando o mar, lá em baixo, quebrando as ondas contra os penhascos... O vento lhe agitava o cabelo e as roupas, e lhe contava segredos, que só ela entendia. Ah, o cheiro da brisa que lhe chegava, de terras distantes, contando de viagens e marinheiros e mulheres apaixonadas, e por que não, sereias? Com o tempo, olhava para a estátua e via a si própria, e assim estava, quando o percebeu. Estava de pé e olhava fixamente para a mesma obra. Parecia ter cerca de 23 anos, cabelo claro, óculos ao estilo Jonh Lennon. Vestia jeans surrados, um pulôver marrom e em volta do pescoço, usava um cachecol bege, que o protegia do frio. Ele notou seu olhar e sorriu para ela, que também sorriu. Afastou-se em seguida, e ela teve a impressão de que a brisa irlandesa a envolvia. Era só ela, no promontório e o vento que lhe desfazia o cabelo. Mas a fantasia ficou diferente, o cenário de seu sonho se iluminou com a presença do homem que subia lentamente a montanha...E que tinha vindo por ela guiado pela brisa que traz perfumes e amores! A espera terminara, afinal.Ele se aproximava e ela sabia o que iria acontecer... -Com licença, pediu alguém apressado- e ela voltou à realidade, envergonhada.. Afastou-se do local, caminhando devagar, deixando que o sol de inverno aquecesse seu corpo. No outro dia, na livraria, tentava organizar uns volumes de uma coleção de pintores famosos, quando alguém entrou. Virou-se para atender e estremeceu quando o viu. Procurava um livro de Mayakowski. Adorava poesia russa e idolatrava os romances de Dostowévski, intensamente mesclados com os piores e melhores sentimentos humanos. Ela também. O papo evoluiu, ele convidou-a para um café, não era sempre que se conhecia alguém que entendia tanto de literatura, e que gostava do mesmos autores que ele venerava. Bem, disse ela, eu já estou mesmo na hora do lanche. Há uma lanchonete ao lado! Sentaram-se em uma mesinha, ele pediu um café, ela preferiu uma laranjada. Falaram sobre poetas russos, literatura russa, francesa, poetas brasileiros... Para um rapaz tão jovem, ele demonstrava muito conhecimento. Despediram-se. Ele voltou outras vezes, saiam juntos, bebiam e conversavam. Nunca trocaram um beijo, mas ele demonstrava carinho por ela. Que descobriu-se profundamente apaixonada pelo rapaz, que estudava Arquitetura, viera transferido de uma cidade interiorana, e procurava adaptar-se à vida da cidade grande. Não compartilhava o gosto pelas farras estudantis, era tímido e educado, lia muito e pretendia fazer Doutorado na Espanha. Parecia não ter preocupações financeiras, comprava muitos livros; ficaram amigos, riam, encontravam-se quase todos os dias, ele a acompanhava a concertos e exposições. Às vezes ficavam na praça, olhando as flores e ela amava ouvi-lo falar sobre o tanto que gostava do ...vento! Seu coração batia mais depressa, ao vê-lo. Começou a se perguntar onde aquilo iria parar. Já completara 38 anos, era bonita, tinha um corpo bem-feito, mas ele era tão jovem! Sua amiga Mara a alertava: - Sofia isso não vai dar em nada, saia dessa, o que você pode esperar? Mas ela continuara a vê-lo, esperando que um dia ele se declarasse e a tomasse nos braços...Até o dia em que tocou a campainha de sua casa. Não estava só. Com ele, uma jovem. - Esta é Marina, apresentou. Veio morar comigo. Estava doente e ficou na minha cidade até melhorar. Ainda não arranjamos um apartamento, ela só viria no final do mês, mas me fez uma surpresa, por já se sentir melhor. Será que ela pode ficar na sua casa, por uma semana? Sofia sentira um frio no peito! Descobrira que odiava o vento, que lhe trouxera o amor e de repente, dava-lhe uma rasteira. Mandou que entrassem . –Sim, é claro, entrem, vamos combinar tudo. Aquela tinha sido a semana mais dolorosa de sua vida. Ver o carinho dele para com a mocinha que amava, ver como ele a olhava e lhe acariciava a barriga que se desenvolvia...Ajudou no que pôde. Mudaram-se. Apreciam de vez em quando, até que a moça, que era pintora, ganhou uma bolsa de estudos em Paris. Contudo, nunca mais se permitiu voltar ao penhasco irlandês, e passou a arrenegar o vento... Mudou de hábitos, passou a ir a outra lanchonete, a outra praça, desdenhou a arte russa. Até que um dia, transcorrido algum tempo, justamente no início de agosto, tomava sol em um banco do Jardim das Dálias, no horário de almoço. Fechara os olhos evitando pensar em qualquer coisa. Coração vazio. De repente, ouviu como um farfalhar e algo lhe roçou a cabeça, tocando-lhe as mãos e os pés. Deu um grito, assustada, abriu os olhos e percebeu que fora atingida por uma pipa colorida. Que agora, estava a seus pés. Então percebeu que um homem se aproximara. Era alto, cabelos grisalhos. Quando chegou mais perto, percebeu os olhos cinzentos, o sorriso másculo, o corpo forte. E ouviu o pedido de desculpas. -Ôpa, fizemos uma manobra atrapalhada, eu passei a manivela para o Rafinha, ele recuou, caiu, e a pipa mergulhou em sua direção. Machucou alguma coisa? Olha eu sei que parece criancice, mas eu adoro pipas! Trabalho no exterior, mas quando visito a família, sempre acompanho um dos meus sobrinhos ao parque para aproveitar o vento. Eu amo o vento! E você? Vem sempre aqui?Algum tempo depois, Sofia anotou no caderno: não é que este mês não é tão azarado assim? Afinal, os ventos de agosto trazem coisas interessantes!...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

POETAS E POEMAS QUE AMO

UMA PALAVRA

(CHACAL)

Uma
palavra
escrita é uma
palavra não dita é uma
palavra maldita é uma palavra
gravada como gravata que é uma palavra
gaiata como goiaba que é uma palavra gostosa

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RÁPIDO E RASTEIRO

(CHACAL)

Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar
aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida.
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NADA SERÁ COMO ANTES
(CHACAL)

Nosso amor puro
pulou o muro
caiu na vida.
jamais seremos o par
romântico
que outrora fomos.
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PRONTO PRA OUTRA

(CHACAL)

Gravei seu olhar seu andar
sua voz seu sorriso.
você foi embora
e eu vou na papelaria
comprar uma borracha.
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JOGOS FLORAIS


CACASO

I
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
II
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre;
a água já não vira o vinho,
vira direto vinagre.
III
Minha terra tem Palmares
memória, cala-te já.
peço licença poética
Belém, capital Pará.
IV
Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.

(será mesmo com 2 esses
que se escreve paçarinho?)
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O LUGAR DA TANSGRESSÃO
(CACASO)

Encontrei um sapo cochilando dentro de
Minha botina. Nunca me meti em botina
De sapo. Que liberdades são essas?
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AUTORES E POEMAS QUE AMO!


Fernando Pessoa
FERNANDO PESSOA - Cancioneiro

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda Gira,
a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
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AS HORAS PELA ALAMEDA

FERNANDO PESSOA

As horas pela alameda
Arrastam vestes de seda,

Vestes de seda sonhada
Pela alameda alongada

Sob o azular do luar...
E ouve-se no ar a expirar –

A expirar mas nunca expira
- Uma flauta que delira,

Que é mais a idéia de ouvi-la
Que ouvi-la quase tranqüila

Pelo ar a ondear e a ir...
Silêncio a tremeluzir...
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MAR PORTUGUEZ

FERNANDO PESSOA
Ó mar salgado,
quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos,
quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

COISAS DESSES BRASIS

19/08/2008 -
Essa escriba achava, meus leitores e leitoras, que já tinha visto e ouvido de quase tudo na face da Terra. Mas sempre há jeito de ser surpreendida. Não falo de coisas ruins, porque essas estão clamando aos céus: já escrevi aqui que, enquanto atingimos o ápice da tecnologia, praticamos cada vez mais atos que nos remetem à Idade da Pedra Lascada! Ara, sô! Minha tia, a terrível, desbocada e onírica Lady Zeferina também achava que já havia presenciado de tudo nesta vida, desde capadura de cabra abusado até cartaz de pai-de-santo anunciando a cura para espinhela caída, mau-olhado, unha encravada e negócios enrolados, males de amor e viadagem. Só que “fiquei de bobes e peruca kanecalon” ao ouvir um relato da minha filha Larissa, que veio nos ver no feriado, depois de 2 meses trabalhando lá em... (permitam-me não dizer o nome) que fica a uns três quilômetros pra lá de onde Judas perdeu as botas. Entre risos, causos sobre o serviço, comida caseira, telefonema de amigos e outros que tais, fiquei sabendo que, lá onde ela está morando, por força de desempenho de sua profissão de nutróloga, há um costume bastante curioso: a cidade conta com o serviço de carros com alto-falantes que anunciam os óbitos e convidam para os serviços religiosos e enterro. Só que, - valha-nos Deus!- o convite não é feito pela família e sim - pasmem ! - em nome do..falecido... Então, é comum ouvir-se pelas ruas da cidade o curioso convite: PEDRO XUMBREGA DA SILVA CUMPRE O DOLOROSO DEVER DE COMUNICAR O SEU FALECIMENTO OCORRIDO HOJE ÀS DEZ HORAS. SEU CORPO SERÁ VELADO NA CAPELA DE SANTO ANTÃO, NA RUA PRINCIPAL. O ENTERRO SERÁ REALIZADO NO CEMITÉRIO DA CIDADE, ÀS 9 HORAS DE AMANHÃ. POR ESTE ATO DE FÉ CRISTÃ, PEDRO ANTECIPA SINCEROS AGRADECIMENTOS!

S.O.S. BR-381
Um dia vou parar e juntar todos os comentários que já publiquei sobre a famigerada BR-381 nesses 30 e tantos anos de Ipatinga. Fábrica de defuntos, pela quantidade de desastres nesse trecho do Vale do Aço, mais uma vez a via requer mobilização de forças para sua melhoria . O Rotary Club já se posicionou, cobrando a duplicação da estrada. Tem todo o nosso apoio, pois já chega de sofrer. Observem o trecho Horto-Centro: pista irregular, buracos cavernosos que arrebentam os pneus, depressões que podem causar e causam inúmeros acidentes. Socorro, Ministério dos Transportes, Dnit, e quem mais possa ser responsabilizado! Cadê o dinheiro dos nossos impostos?



ELOS
Todo mundo sabe que sou professora. E que amo as escolas e os alunos, e que acredito que a redenção do homem, enquanto ser humano, somente é alcançada através da Educação. Creio que educar se faz por meio de muitos atos, de muitas maneiras. Creio que as sementes que jogamos, um dia darão frutos. Creio em elos. Vejam só: enquanto aluna de Letras da Unipac, a professora Helena assistiu a uma palestra que fiz sobre “COMO FAZER UM TRABALHO CRIATIVO COM POESIA”. Quem me levou lá foi a mestra Eliane Neves, filha de Pedro e da grande educadora Leila Neves. Que eu conheci na antiga Escola Santiago Dantas, o primeiro local onde lecionei em Ipatinga, isso por volta dos anos 70. Agora, já exercendo o magistério, Helena me convidou para falar para as 5ªs séries da Escola Estadual Márcio Cunha, no Horto. Lá fui eu. Minha fiel escudeira, Tia Leila, estava lá. Fui surpreendida ao ver que vários alunos haviam pesquisado sobre minhas crônicas no site do Diário do Aço. E foi uma festa. Falar sobre a importância da leitura, e sobre Poesia, para mim, é mamão com mel! Adoçado ainda pelo carinho da escola, pela atenção da diretora Maria do Carmo, pelo brilho nos olhos dos alunos... Contei história, brincamos com trava-línguas, dei autógrafos... Usei “OU ISTO OU AQUILO” de Cecília Meireles para falar da importância das escolhas que temos de fazer na vida. Cumprimento à professora Helena e aos alunos da turma Jequitibá! Ganhei abraços e beijos, cartazes de boas-vindas, cartinhas e bilhetes. E um monte de novos amiguinhos! Coisa mais linda! É assim formando elos, que a vida se torna melhor!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

ENIGMA II

(MACUNADRU) P

Desatem-se os laços das ilusões
E saiam dos castelos os cães da ira.
O rumor do cavalgar dos alazões
povoe o entardecer dos sonhos rotos...
Rujam as feras nas goelas dos penedos
indevassáveis das mentes,
E vorazmente,
Estilhacem em mil pedaços a minha face.
E seja noite no retinir de copos,
no roçar de corpos
E seja triste o canto ciranda da serpente
Sepulcro belo, solução pungente
De um grito calado na garganta...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

DE LOUCURA, POESIA E SAUDADE...


(Quixote- Picasso)


Nena de Castro (Macunadru)

Ventos de agosto. Eclipse raro que vem. Tomara a festa dos astros adiante alguma coisa, e a gente aprenda a ser melhor. “Qual o quê” diz Chico Buarque. Faces negras da violência e da dor. Notícias ruins... Sangue, miséria. Ditadores. Por isso gosto dos loucos, os doidinhos que cantam, mansos e serenos, no seu mundo que nunca iremos alcançar. A mulher esfarrapada, que segura, ternamente, uma boneca de pano. E canta canções de ninar. O homem que carrega uma caixa de papelão e caminha discursando para seus súditos invisíveis, em voz alta, como convém a um grande imperador. A avó que continua a ensinar aos seus, ora com palavras doces, ora ásperas, falando com sua família, embora esteja numa cama de asilo e eles todos estejam mortos. Crianças maltratadas, seviciadas, mortas. Mundo, mundo... Vanitas vanita. Caminhada entre abrolhos e rosas. Luzes e trevas em alternância sagrada. Oráculo dos terrores. Claríssimo enigma. Poesia. Luz no caos...

CANÇÃO DA ALMA CAIADA
(Antonio Cícero )

Aprendi desde criança
Que é melhor me calar
E dançar conforme a dança
Do que jamais ousar

Mas às vezes pressinto
Que não me enquadro na lei:
Minto sobre o que sinto
E esqueço tudo o que sei.

Só comigo ouso lutar,
Sem me poder vencer:
Tento afogar no mar
O fogo em que quero arder.

De dia caio minh’alma
Só à noite caio em mim
por isso me falta calma
e vivo inquieto assim.

Lindeza, hein, gente? O autor de tais versos é Antonio Cícero, irmão da cantora Marina Lima. O cara é professor de Filosofia e outros que tais. E grande poeta. Este poema foi escrito quando morava nos EUA. Marina musicou. Maria Bethânia gravou em 77, mas a censura da “gloriosa” ditadura militar baixou a tesoura! Onde já se viu um sujeito dizer que não se “enquadra na lei?” Não sei como não deu cana! Anos depois, Zizi Possi fez nova gravação. No CD “Pedaço de Mim” Marina Lima cantou-a em shows, mas nunca chegou a gravá-la, certamente pelos problemas que surgiram. Com música ou não, é um poema belíssimo, que me ajuda a exorcizar meus fantasmas ante as inquietações existenciais e que compartilho com meus leitores e leitoras. Que merecem, uai!

EU NÃO ME ESQUEÇO DELA...

O texto abaixo foi escrito em 1998. Fala de uma mulher extraordinária, a juíza Valéria Vieira Alves, que eu conheci de perto. Fala de uma mulher que se importava com as pessoas. Que era simples como o arroio que desce da montanha. Que tinha um coração sensível, a ponto de um dia, após uma audiência de uma mulher que estava em grande dificuldade com a filha doente, me chamar discretamente e pedir para entregar à minha cliente o dinheiro para os primeiros exames! É tão raro ver alguém se condoer pelos mais pobres e, mais raro ainda, ver tais atitudes. Sempre vou admirá-la, pelo fantástico ser humano que foi. Ofereço o texto abaixo a seu filho, à sua mãe e a seus familiares e amigos:
Dra. Valéria,
Passou o tempo, mudaram as estações, os dias se foram, cada noite desceu sobre a Terra, já tivemos frio, o verão se faz anunciar em brilhantes raios de sol, muita coisa foi mudada neste tempo, só uma permanece imutável: a saudade que sentimos da senhora. Falta no nosso meio o seu sorriso, o calor humano que transmitia, a sua alegria de viver, a esperança que brilhava em seus olhos. Há um lugar vazio nos nossos corações, que só a sua imagem preenche e todos nós lembramos de risos, fragmentos de conversa, sentenças e despachos, e sobretudo do seu carisma e do amor que transmitia .Está nas Sagradas Escrituras que há um tempo para tudo debaixo do sol: tempo para sorrir e tempo para chorar, tempo de guerra e tempo de paz, tempo para plantar e tempo para colher. Contudo, para nós é, desde a sua ida para a eternidade, tempo de saudade, saudade infinda e imorredoura que grava em caracteres dourados a sua imagem em nossos corações.Descanse em paz, Drª. Valéria, junto com o nosso Deus, que preparou para a senhora um lugar de felicidade na casa celestial.Pela comunidade ipatinguense, por seus colegas de trabalho do Fórum e pelos advogados desta Comarca que jamais a esquecerão, receba a homenagem da escriba,Nena de Castro
ZOOM►Adivinhem quem revi, outro dia, no Shopping: a fofinha Mariana, com mamãe Valéria Notinni, passeando. Linda cena! ►Bush perdeu mais uma ocasião de ficar calado, criticando países (leia-se a China) onde falta liberdade de imprensa. Rô, rô rô! O grande líder de lá fala tanta besteira quanto o nosso! ►Um abraço para Adélio Duarte, presidente da OAB, para o psicólogo e pastor Cleydemir Santos, Socorro, André e Bia, e para Fátima Salles, nesta terça. ►Revi os advogados Joel Lacerda e Wilza com os três filhos, que estão uns rapazes lindos. Joel é um excelente advogado criminalista, a quem a população pobre de Ipatinga deve muito, pelo excelente trabalho que fez na Defensoria Pública Municipal. ►Meu amigo Rubem, por que não apareceu para o almoço? Azar o seu! Tava danado de bom! Apareça. Sô! ►O trem tá meio feio para Barack Obama! Torçamos para que tudo corra bem nas eleições americanas, mas acho meio difícil a elite branca do país aceitar sua eleição. ►E as Olimpíadas prosseguem em Pequim. Torcemos pelos brasileiros, mas eu fiquei fã daquela mocinha que desafiou o Dragão, portando uma bandeira do Nepal! Um dia lindo, uma semana abençoada, com muita coisa boa rolando, aumento de salário, aumento de sorrisos, diminuição nos preços dos alimentos, porque nós merecemos! Leitura de poemas de Antonio Cícero e som de sua irmã Marina Lima, doce de goiaba em compota, depois de uma canjiquinha com costela, amor e paaaz, são os meus votos. ►Críticas, sugestões e eventuais elogios pelo e-mail nenadecastro@yahoo.com.br. Visite o nenadecastroblogspot.com.br e deixe um comentário de suas impressões, ok? Au Revoir.