segunda-feira, 17 de novembro de 2008

E KUNTA KINTE FEZ SUA DANÇA TRIBAL


Nena de Castro
11/11/2008 -

Ao som dos tambores ancestrais, Kunta Kinte dança. Sorriso aberto, gritos de guerra e alegria, Kunta dança. Dança como dançam os homens da sua tribo, quando celebram as caçadas, os casamentos, os rituais de iniciação, as festas religiosas... O corpo do guerreiro Kunta Kinte ginga, sobe, desce, balança, enquanto empunha a lança e o escudo.
O jovem Kunta havia vencido o "kafo", o último grau de instrução pelo qual passavam todos os meninos de seu povo... Aprendera a tomar conta das crianças menores, que ficavam dentro de um cercado no centro da aldeia, junto com as avós; aprendera os segredos de pastorear as cabras e outros animais, sem deixá-los fugir; fora circuncidado; e por fim, seu pai lhe revelara os segredos da vida. Aprendera a caçar e, sobretudo, a ter orgulho de sua tribo, localizada na Gâmbia (África Ocidental), e a respeitar os anciãos, que davam a última palavra nos problemas de todos. O guerreiro que dança, sequer imagina que essa será sua última celebração como homem livre, e que no dia seguinte será capturado como um animal e atirado em um navio negreiro em direção à costa norte-americana. Que, ao lado de seus irmãos de raça, viraria caça, animal capturado, acorrentado, atirado em porões infectos. A viagem era um pesadelo sem fim, com os estupros, a fome, a chibata, as correntes... No desembarque, a venda, a separação dos entes queridos, o início do trabalho escravo nas fazendas de algodão. O jovem guerreiro, humilhado, judiado, tenta fugir: uma, duas, várias vezes, até que lhe cortam a machado a metade de um dos pés. A dor, o sangue, a ferida, e o arrastar-se para o trabalho, sem poder fugir de seu destino atroz. Forçado a aquietar-se, tratou de sobreviver sob o jugo branco. Sua companheira lhe deu filhos; vieram os netos, bisnetos e trinetos, um dos quais, jornalista e historiador, de nome Alex Hayley, levantou a sua história, publicando-a no livro "Negras Raízes". Seus descendentes cresceram em um país de brancos, onde tudo se destinava a estes; a abolição da escravatura deu origem a uma guerra civil, que quase seccionou a nação. Os negros eram considerados entes sem alma, embora a jovem nação americana se declarasse cristã. No entanto, a discriminação continuou. O norte-americano destinava aos negros o desprezo, o ódio racial, a separação de classes; até as privadas primitivas de beira de estrada, aquelas de fossa, nos rincões mais distantes, ostentavam o tenebroso cartaz: "white men only" - só para brancos -, como se as fezes dos homens brancos fossem mais nobres que as dos homens de pele escura. A luta foi muito grande. Milhares de negros enforcados ou queimados pela Ku Klux Klan e ignorados pela sociedade americana, escravocrata e "cristã". Transcorridos tantos anos, nesse início de novembro de 2008, Kunta Kinte dança novamente. Com ele dançam todos os negros, vivos e mortos, em alegria ancestral; soam tambores na noite dos tempos e comemoram juntos: Stokely Carmichael, Charlles Eddie Moore, Malcom X, a costureira Rosa Parks, que um dia se recusou a ceder seu assento a um branco no Alabama, e foi presa, Angela Davis, Martin Luther King, o reverendo Jesse Jackson, os artistas negros que nunca puderam se hospedar em hotel de brancos, e todos os escravos que morreram pela mão dos brancos nessa nação que se diz paradoxalmente, cristã. Kunta Kinte faz, feliz, a sua dança tribal. Um descendente seu, de cabelo pixaim e pele escura como a sua, foi eleito presidente dos Estados Unidos...




POESIA SEMPRE
FALA
(Orides Fontela)
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade).


ZOOM
►BOM DIA meu querido amigo Oswaldo Machado de Oliveira Junior, o Dinho, que lê esta coluna pela net, toda terça-feira, lá no Canadá, onde reside com a família. Beijos pra todos, e o carinho dessa escriba.
►Não sei se vocês leram o comentário que o chefe da Ku Klux Klan, o pastor Thomas Robb, fez sobre o pai de Barack Obama. Se não leram, não perderam nada, eita que mediocridade! E o cara se diz cristão, hein!
►Gente, que orgulho dos professores de Ipatinga: sem deixar de lutar por seus direitos, trabalham com garra e tenacidade. A cada dia, novos e interessantes projetos chegam ao conhecimento da Comunidade.
►Um alô especial para Idagmar Habib, uma das grandes damas do Lions Clube na região. Depois de viajar por um monte de locais lindos do Brasil, reassume seu trabalho na Câmara Municipal o jovem advogado Tiago de Castro.
►Hoje, o professor Sávio de Tarso vai fazer palestra para estudantes na sede da Biblioteca Zumbi dos Palmares. Boa pedida!
►Ai, chega de mortes, desastres, tragédias... Vamos relaxar, ler a Bíblia, ler poesia e, sobretudo, clamar pela misericórdia de Deus.
►Gemina Linhares, que bom foi te rever outro dia. Foi rápido, mas o abraço foi caloroso. Valeu.
►Abraços para as mestras Marlene Dornelas, Ane Ribeiro Penha Salazar e Maria Imaculada.
►Uma semana com gosto de macarronada com frango caipira, feita com o molho que só a mãe da gente sabe fazer, compota de caju, suco de tamarindo, versos de Orides Fontela e som de Martinho da Vila. Esperança, alegria , saúde e paaz, são os votos desta escriba.
►Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail: nenadecastro@yahoo.com.br.







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