terça-feira, 8 de julho de 2008

LEMBRANDO, CHORANDO, RINDO...

Flor de Amendoeira -Van Gogh


08/07/2008

In memorian

Domingo na Feirarte. Eu, com meu companheiro, mais Tati e minhas duas filhas do coração, Thaynara e Débora, fomos lá. Tira-gostos, o conjunto Rádio Pirata cantando, um grupo de hippies que passa pela cidade, vendendo seus colares e fazendo malabares, gente feliz namorando ou conversando... Na hora de ir embora, fiquei esperando o pessoal no carro, estacionado em um local que me permitia inteira visão do ipê roxo que floresceu ao lado do Fórum. O espetáculo dos buquês de flores roxas me adoece de beleza. O sol de inverno ilumina a cena: o ipê reina, absoluto, parece mãe que deu à luz a suas filhas-flores e as exibe com ternura e graça. E para complementar o instante, percebo um beija-flor que brinca, em volteios graciosos, sugando o mel das flores, em delicado e delicioso balé. Ouvindo o som dos rapazes ao longe, vendo um esforçado lavador de carros ganhando seus trocados, percebendo a movimentação na Feira, guardei em minhas retinas aquele belíssimo quadro. Dediquei a luz daquele instante à memória da Juíza Valéria Vieira Alves, ela própria, dona de um coração generoso e uma alma linda como o ipê carregadinho de amor.
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Sim, sim, eu confesso, aos meus leitores e leitoras, hoje não estou de bom humor. Não, não são as dores, a Dasdor aqui é forte e tolera os ossos bichados, como diz o filho Tiago. Um dia dói, no outro mais ainda, mas vou lutando com a bursite trocantérica no quadril direito, a paratendinite nos pés, afora os esporões, etc, etc, fazer o quê, ces’t la vie... Talvez seja por ter assistido o filme de Helvécio Ratton, que conta a prisão de frei Beto e outros dominicanos, na época da ditadura! O martírio de frei Tito que perdeu a razão pela tortura e se suicidou em Paris, dói até hoje! Agora, o pior mesmo foi rever aquele nefando delegado Fleury, vivido por Cássio Gabus Mendes! O filme evoca um tempo de muito medo, muito sangue, muitos absurdos, que a gente quer esquecer, mas sabe que não deve, para servir de lição e lembrança de que ditaduras, de esquerda, direita, ou de que lado for, não devem existir, o cerne da vida tem que ser baseada na democracia, liberdade, hoje e sempre “abra as asas sobre nós”! Talvez minha tristeza seja porque fui visitar pessoa amiga no hospital, e Deus me perdoe, eu não me conformo em ver aquelas pessoas pelos corredores, ou em colchões pelo chão, é isso aí, pague impostos escorchantes, pague em dia, não sonegue nenhum, meu filho e, quando precisar de tratamento, você, com muita sorte, vai ter direito a um cantinho no chão, porca miséria, isso se seus filhos recém-nascidos não tiverem a desdita de ir para uma maternidade como a de Belém, e serem condenados à morte, por infecção generalizada causada pela superlotação! Ai, isso dói, Brasil! Espero ainda aprender a votar, espero sim! E você?

Quiabada

A gente é assim, ora fica triste, ora se enfurece, ora ri... Quando eu tinha lá meus nove anos, certa manhã, por uma emergência, para acudir alguém, mamãe precisou sair. As irmãs mais velhas não estavam, e dona Inês me encarregou de finalizar o almoço que já havia começado. Arroz pronto, feijão refogado, carne cozida com aquele caldo cheiroso, era só cortar o quiabo, refogá-lo para cortar a baba e jogar no caldo, finalizando com pimenta-do-reino e cheiro-verde. Eu conhecia a rotina: lavar muito bem os quiabos, colocar sobre um pano para tirar a água e proceder como mamãe fazia. Só que, por sonseira, após cortar o legume, percebi que tinha esquecido de lavar antes. Mamãe era muito exigente com o asseio e eu apertada, resolvi lavar o quiabo, só que depois de cortado! Gente, aquilo virou um grumo, não tinha jeito de separar, e ao perceber que mamãe estava chegando, joguei tudo no caldo, sem refogar. Claro que virou um troço grudento, cheio de baba, mamãe perguntou se eu havia refogado, eu falei que sim e me escafedi, saindo rapidamente para voltar ao meu dever de casa e todo mundo reclamou da comida naquele dia! Lembrei disso ao saber que há a possibilidade de Cacciolla, aquele banqueiro que deu tombo em todo mundo, ser extraditado de Mônaco, para o Brasil. Na prisão do principado, segundo noticiou há tempos a revista Veja, há até chef de cuisinne para preparar a refeição dos presos. Agora, se o homem vier mesmo para o Brasil, e for para a cadeia como um preso comum, sem privilégios, com certeza vai comer uns ranguinhos bem piores do que a quiabada da minha infância.

Azar

Lourdes Maria, uma moça que conheci em uma cidadezinha, do interior sempre foi um exemplo. Boa filha, boa profissional, era muito estimada onde vivia. Solteira, cuidava da mãe com solicitude e dos parentes com rara dedicação. Trabalhava no Fórum da cidade, com dedicação e afinco, e era muito elogiada pela excelência do serviço que prestava à comunidade. Enfim, a vida seguia seu curso, até que o juiz, chefe de Lourdes, foi removido para a capital. Para seu lugar veio um juiz novo, bem apessoado, mas muito sério, e o pessoal da secretaria ficava se perguntando como seria o relacionamento com ele. Os dias foram passando, todos tentando se adaptar, e os funcionários descobriram que daí a alguns dias seria aniversário do novo chefe. Prepararam uma festa-surpresa, com bolo, docinhos e salgados, e cada um comprou uma lembrança para o aniversariante. Lourdes escolheu uma gravata de muito bom gosto, e aproveitando a oportunidade, comprou uma peça íntima para o chá-de-panela de sua amiga Cilene. Ninguém entendeu nada. Na hora das festas, Cilene ficou sem entender, porque ganhara uma gravata. E o juiz, atendendo aos gritos de abre! abre! ficou totalmente desconcertado ao encontrar uma calcinha de renda preta! A pobre Lourdes quase desmaiou de vergonha, e pediu transferência para outra Comarca! Azares da vida!...

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