CALENDÁRIO
Nena de Castro (Macunadru)
É agosto
E no meu rosto
Se acentua o meu desgosto.
Cada qual na sua face
Que a sua sina trace,
A minha já está traçada:
Na engrenagem da vida
esmagada, bem moída,
uivo de medo e de dor...
È agosto,
e o meu desgosto
marca as marcas do meu rosto
.Dói bem fundo,
Dor bem fina,
Dor doída,
minha sina.
Percebo que essa dor
Que me rói e estraçalha
Feito fio de navalha
Não é por causa do mês
Já nasceu aqui comigo
Como gêmeo siamês.
E é fato verdadeiro
Essa dor, pelo que entendo,
Dói de setembro a dezembro,
De janeiro a fevereiro,
E no mormaço de março
Dói como nunca se viu.
-A dor não some, é abril!
Em maio ela continua
Crua, triste, feia e nua,
Junho, julho, não sumiu!
E nem bem o frio jaz posto,
Eis de novo o mês de agosto,
Pobre mês, triste, alcunhado,
De azar acompanhado
Que carrega, desencanto,
A desculpa do meu pranto.
É agosto, e o meu desgosto
Carpe as mágoas em meu rosto
Neste longo calendário
Minha dor, meu inventário.
(agosto 85)
sábado, 2 de agosto de 2008
(Imagem- "O Grito" - Munch )
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3 comentários:
A IMAGEM É ÓTIMA!
QUANTAS VEZES MEU CORPO ESTÁ CALADO. MINHA BOCA ESTÁ CALADA.
MEUS OLHOS SUSSURAM E MEU CORAÇÃO BERRA.
Uai,
tu espica ingreis?
Yes, I do! Apesar de não gostar de xeretagem americana, "a gente arranhamos razoavelmente o idioma.
Beijos, amigo
MACUNADRU, NC ou ZEFA DA FURQUIA
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